Etanol está mais competitivo que o açúcar na maioria das regiões do Brasil, aponta analista da StoneX
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Entrevista com Lígia Heise - Consultora Sênior em Gerenciamento de Risco da StoneX sobre o Mercado do Açúcar e Etanol
O mercado do açúcar na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) vem sofrendo quedas consecutivas nos últimos dias. Acompanhando esse cenário, os valores de comercialização do etanol no Brasil já estão mais competitivos que os do adoçante. Porém, mesmo com esse cenário mais favorável para o biocombustível, a migração não é tão simples para as usinas por conta do planejamento antecipado e fixações já elevadas de 2021/22.
“A gente tem de fato essa virada. Isso já vinha acontecendo em algumas regiões onde o etanol é mais barato e o açúcar para exportação é menos competitivo, mas agora essa paridade já virou em praticamente todas as regiões se a gente considerar os níveis de preço de hoje”, disse em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira (17) Lígia Heise, consultora sênior em gerenciamento de risco da StoneX.
Apesar do cenário mais favorável para o biocombustível no Brasil neste momento, a analista explica que as usinas já se planejavam de outra forma para essa nova temporada. “A migração para o etanol, seja anidro ou hidratado, não é tão simples. Ela envolve planejamento, uma série de fatores, e o setor já avançou muito nas fixações, está bastante precificado e a quebra de safra também deixa um excedente menor”, explica Lígia.
“Hoje, a gente não tem ainda uma diferença de preço tão grande que, financeiramente, justifique para uma usina ou produtor cancelar um contrato de açúcar já realizado, já precificado, para fazer o etanol... Em se mantendo essa diferença [de preço], a tendência é que ocorra sim um pouco de migração até porque tem usinas que não contrataram todo o volume planejado de açúcar”, complementa a analista.
Nesta quinta-feira (17), as cotações do açúcar bruto em Nova York perderam o patamar de US$ 17 c/lb e voltaram aos níveis do final de abril no terminal, completando a sexta queda consecutiva. O mercado seguiu as movimentações do cenário macroeconômico no dia, após a divulgação na véspera do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), além de atenção ao clima mais favorável para as lavouras do Brasil.
Apesar disso, as chuvas recentes não devem reverter o cenário de estiagem desenhado no cinturão produtivo nos últimos meses. “Frente ao que a gente teve de déficit hídrico desde ano passado, choveu muito pouco. A realidade para o setor ainda é muito dura e muito preocupante. E nesse contexto, com base em fundamentos, a gente vê que o espaço para a queda em Nova York parece limitado”, destaca Lígia.