Atuais produtos para controle da ferrugem não garantem 50% de proteção para as lavouras colocando em risco o agronegócio soja
O doutor em fitopatologia Erlei de Melo Reis aponta para uma possibilidade de epidemia de ferrugem nas próximas safras de soja. A situação está beirando ao "descontrole" frente ao problema que incide no Brasil desde a safra 2001/02, muitas vezes influenciado pela presença da soja safrinha no Paraguai e na Bolívia.
Há uma "evolução da redução do controle", para a qual o doutor não vê uma situação a curto prazo para paralisar essa evolução. A medida em que são utilizados produtos sítio-específicos, uma parcela da população morre, mas aumentam os resistentes - e é este problema, a chamada seleção direcional, que vem ocorrendo safra após safra. Os três fungicidas de modo de ação distintos no Brasil são todos inibidores da respiração, levando a uma seleção múltipla.
Para Reis, o negócio da soja pode estar ameaçado e há pouca mudança no horizonte. Para a próxima safra, há muitos produtores falando em redução de custos por conta da crise de rentabilidade que assola o setor. Entretanto, ele lembra que deve-se dar uma devida importância ao monitoramento, além de monitorar a lavoura visitando-a periodicamente, entrando na lavoura, colhendo plantas, examinando o sistema radicular e realizando a diagnose das doenças, além de quantificar as doenças presentes.
Ele conta que, em suas análises, encontrou soja com a presença de ferrugem até mesmo em meio ao frio nas áreas de cobertura com aveia. Por isso, alerta para uma conscientização arespeito do assunto. Reis destaca que os produtos devem ser aplicados sempre acrescidos de fungicidas multissítio, senão não haverá controle de pragas e, também, não haverá controle econômico.
Os resultados do Ensaio Nacional Cooperativo mostraram que o controle da ferrugem vem caindo safra após safra, estando estabelecido em apenas 20%. O doutor salienta que, se não houver 80% de controle, não iguala o custo de produção.
"A difusão tem que ser séria e a verdade tem que ser levada ao produtor", diz Reis. Ele fala em um "momento de transição", no qual já há misturas prontas para a aplicação em fase de registro, o que impedirá o uso do multissítio isolado, além de lembrar que a situação só vai voltar ao normal quando todas as áreas receberem o multissítio junto, como já é feito em culturas como o tomate ou a batata.