Produtos com eficiência abaixo de 80% no controle da ferrugem na soja expõem lavouras ao risco
Os principais fitopatologistas do país estiveram reunidos em Campinas-SP, nestes dias 3 e 4 de abril, para discutir a resistência da ferrugem asiática. Esses pesquisadores fazem parte do Eagle Team, grupo que analisa as consequências do aumento da resistência e que busca conscientizar os produtores sobre a prevenção de doenças no campo. Em março passado, o FRAC (Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas) noticiou que o mais novo grupo químico utilizado para o controle da ferrugem asiática – as carboxamidas ou SDHIs – foi vencido pela ferrugem. Portanto, hoje, os patógenos já estão resistentes aos principais produtos sistêmicos.
João Batista Olivi participou deste evento em Campinas e entrevistou alguns desses pesquisadores, além de ouvir empresários do setor de defensivos. Na primeira entrevista da série, a pesquisadora da Embrapa Soja, engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia pela Universidade de São Paulo, Cláudia Godoy faz um relato sobre os impactos da perda de eficiência das carboxamidas e como o produtor deve se adequar ao novo manejo para aprimorar o controle do fungo.
Nesta quarta -feira (05) é a vez do professor Erlei Melo Reis, engenheiro agrônomo, Mestre em Fitopatologia , Ph.D. em Fitopatologia (Washington State University) e professor da UPF, explicar como anda a eficiência dos produtos disponíveis atualmente no mercado e como o produtor pode evitar gastos com fungicidas que não terão efeito efetivo sobre a doença.
E na quinta-feira (06) , Carlos Pellicer , presidente da UPL Brasil conversa com João Batista Olivi sobre o mercado de fungicidas e faz uma crítica às empresas que insistem em manter produtos que já não funcionam mais.
Confira a seguir a segunda entrevista com Erlei Melo Reis, mestre em fitopatologia:
Na última safra, algumas lavouras brasileiras, especialmente na Região Sul, mostraram o surgimento da ferrugem asiática, mesmo com a aplicação de carboxamidas. O fungo se tornou resistente ao fungicida e o temor é de que esse resultado se amplie para a próxima safra.
De acordo com o engenheiro agrônomo Erlei Melo Reis, o uso de fungicidas protetores aliado aos três principais fungicidas - carboxamidas, triazóis e estrobilurinas - seria uma forma mais eficiente de controlar o aparecimento das enfermidades nas lavouras. Se isso não for feito, o problema poderá se agravar devido a uma seleção direcional.
No Brasil, de cerca de 34 milhões de hectares, apenas 10% estão sendo tratados com protetores, de acordo com Reis. Ele lembra que o controle eficiente é aquele que controla, no mínimo, 80%, senão a produção não está realmente controlada.
Ele também aponta que as quatro grandes empresas que fabricam fungicidas não estão trabalhando com formulações com protetores. Para ele, é necessária uma pressão do Governo Federal para que essas formulações sejam realizadas e também uma cooperação com a América do Sul, em especial, Paraguai e Bolívia, para ter uma mitigação correta do problema na região.
Reis destaca ainda que "devemos estar preparados para a ferrugem na próxima safra", uma vez que, com safras normais, o aparecimento da ferrugem não é favorável somente no Brasil, mas também nos países vizinhos.
Erlei Melo Reis é Engenheiro Agrônomo (Ufrgs, 1964), Mestre em Fitopatologia (Esalq-USP, 1972), Ph.D. em Fitopatologia (Washington State University, 1980). Professor da FAMV/UPF desde 1968. Ministra a disciplina de Fitopatologia na graduação e as disciplinas de Controle de Doenças de Plantas, Métodos em Fitopatologia e Micologia Fitopatológica na pós-graduação. Orienta na área de Fitopatologia, nas linhas de pesquisa Controle de Doenças de Plantas e Epidemiologia e Sistemas de Previsão de Doenças de Plantas, com ênfase em micologia (doenças fúngicas).
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