PIB, dólar, juros, inflação e a trajetória da economia brasileira em 2021, com Zeina Latif

Publicado em 08/07/2021 11:52 e atualizado em 08/07/2021 18:39
Dólar forte e volátil, inflação contida porém elevada e um PIB maior, mas um crescimento lento
Zeina Latif - Consultora Econômica

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Entrevista com Zeina Latif - Consultora Econômica sobre o Dólar

 

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A economia brasileira dá sinais de melhora, apresentou resultados bastante importantes no primeiro trimestre de 2021, porém, isso não acontece de forma homogênea nem entre todos os setores, nem entre todas as parcelas da população. E há agora, como explica a consultora econômica Zeina Latif, uma tendência de acomodação. 

"Daqui pra frente temos um retrato diferente. Temos uma taxa de inflação mais elevada que faz o Banco Central ter que subir os juros, isso vai aparecendo no mercado de crédito, nos indicadores de atividade, há o desmonte das políticas governamentais, o auxílio emergencial não é comparado ao do ano passado e tudo isso gera uma tendência de acomodação", diz. 

No outro sentido, o efeito do avanço da vacinação no Brasil ajuda nesta reativação da economia nacional, porém, é insuficiente para mudar completamente a direção, principalmente por conta destes impactos diferentes em cada setor da economia. "Acho que é um quadro de crescimento ainda muito baixo diante das necessidades do país. 

PIB

Sobre as projeções de alta de cerca de 5% para o PIB do Brasil neste ano, Zeina se diz mais cética. Por trás deste crescimento forte e intenso da economia nacional no primeiro trimestre, "há boas e más notícias", entre elas o crescimento da demanda ainda modesto e o setor de serviços não tão pujante como no pré pandemia. 

"A economia está muito frágil ainda. Não se trata apenas se vai vacinar mais rápido ou não. Mas, de qualquer forma, estamos falando de nível de atividade econômica, que é comparável ao pré-crise, então a economia de fato reagiu aos estímulos governamentais. E ainda é um comportamento muito heterogêneo, não é pra todo mundo", explica. 

Sobre o mercado de trabalho, a economista explica que há ainda uma falta de mão-de-obra qualificada, enquanto há uma parcela da população completamente despreparada para os avanços da tecnologia que o isolamento forçou. 

Assim, essa retomada da geração de empregos tem um foco muito forte no setor de tecnologia - "e até falta gente" - e isso faz com que o Brasil ainda demore a ter uma taxa de desemprego de um dígito e as consequências de inquietação que esse quadro traz seguem rondando o mercado. 

Dessa forma, o potencial de puxada da economia ainda é limitado pelos problemas estruturais e fiscais que o Brasil ainda carrega e com os quais precisa lidar de forma mais eficiente. "Qualquer pressão de demanda e já vemos a inflação voltar. 

E embora essa demanda um pouco mais pujante poderia ser positiva para esse reativação da economia, investimentos também mais lentos acontecendo no Brasil, bem como o aumento da capacidade produtiva ainda contida, são fatores que limitam a retomada. 

JUROS

Os níveis atuais de juros brasileiros, de 4,25% ( taxa selic), que ainda são historicamente baixos, são classificados pelo Banco Central como ainda um estímulo à economia nacional. No entanto, isso não deverá durar muito mais tempo, uma vez que a atual conjuntura exige que a instituição continue elevando as taxas. As projeções para o final do ano apontam para uma Selic de 6,5%.

E mesmo que juros continuem efetivamente subindo, os investimentos não deverão crescer substancialmente no Brasil diante de um ambiente ainda pouco favorável, principalmente, por conta da insegurança jurídica.

"O Brasil é um país um caro e um país difícil. Essa agenda de fazer uma economia que funciona melhor, com mais segurança para investimentos, deveria ser prioridade de governo. Algumas iniciativas são feitas, mas ainda muito tímidas, principalmente quando pensamos na questão tributária", afirma Zeina. 

Mesmo com a alta sequencial na taxa de juros, uma volta mais intensa de investimentos estrangeiros - mesmo que especulativos - pode ser intimidada pela volatilidade e fragilidade da moeda brasileira. "A alta dos juros não compensa a perda de capital quando a nossa moeda se enfraquece". 

REFORMAS

Sobre o possível avanço da reforma tributária, a economista lamenta a perda de um importante "timing político" em 2019 e explica que conforme o tempo passa, em especial caminhando para um ano de eleições presidenciais, a aprovação pode se tornar ainda mais difícil. 

"A questão tributária é uma questão muito complexa no Brasil e eu acho que faltou zelo no encaminhamento destas propostas e do debate", acredita a consultora econômica. "Mas chacoalhar essa questão tributária não é sem tempo e faz com que tenhamos alguma mudança em um próximo governo, qualquer que seja". 

INFLAÇÃO

A inflação anualizada em 8,35% está, de fato, bastante elevada, como explica Zeina, mesmo que um efeito base de comparação resulte neste número bastante elevado. Aos poucos, este efeito base vai perdendo força, porém, há ainda em pé uma série de frentes que estimulam a pressão inflacionária, o que justifica o "tom mais duro do Banco Central sobre sua política monetária", o que deve levar a Selic acima do que o projetado e não abaixo.

"Controlar uma inflação mais alta é mais difícil, porque ela gera nos empresários, prestadores de serviços, um sentimento de necessidade de reajuste dos preços. Então, ela é mais teimosa e exige mais esforço do Banco Central", afirma. Ainda assim, Zeina complementa que não se trata de uma inflação descontrolada, mas que continua exigindo do BC essa alta dos juros e isso sim segue 'machucando' a economia.  

DÓLAR

Para o dólar, as expectativas da economista não são de um dólar muito distante dos R$ 5,00 frente a uma série de fatores entre a valorização da moeda norte-americana - e a ausência de um ambiente que pudesse promover uma pressão sobre a divisa - e a desvalorização da moeda americana, principalmente ligados às questões políticas. 

"Do ponto de vista internacional, não vejo razão para a moeda americana se enfraquecer muito, até porque há toda uma discussão sobre a antecipação da alta de juros nos EUA; a tendência do comércio global é de se acomodar e isso também põe força na moeda americana, e aqui dentro, todas essas questões fiscais que trazem preocupação e a política cada vez mais no radar dos mercados, além de várias fontes de incerteza. Acho que volatilidades vão continuar e a política cada vez mais entrando, para o bem ou para o mal", conclui. 

Por: Aleksander Horta e Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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