Renato Dias: PIB mostra a força do Agro para manter a economia em pé; CNA projeta aumento de 2,5% no PIB Agro
Dólar tem reviravolta e fecha em leve queda de 0,07%, a R$ 5,6624
SÃO PAULO (Reuters) - O mercado de câmbio sofreu uma reviravolta nesta quarta-feira, com o dólar fechando em ligeira queda e na casa de 5,66 reais, depois de operar em alta ao longo de toda a sessão e superar 5,77 reais. Investidores acionaram expressivas ordens de vendas na reta final dos negócios, após o presidente da Câmara garantir que o Congresso não permitirá furo do teto de gastos.
Especulações de que seriam apresentadas emendas para deixar o Bolsa Família fora do teto de gastos aumentaram a pressão sobre o mercado de câmbio desde o fim da manhã, o que fez o Banco Central anunciar dois leilões de swap cambial tradicional, os quais resultaram em injeção líquida de 2 bilhões de dólares nos mercados futuros de câmbio.
O dólar à vista terminou com variação negativa de 0,07%, a 5,6624 reais na venda. Na máxima, alcançada pouco depois das 13h, a cotação saltou 1,89%, para 5,7732 reais, nos picos desde novembro do ano passado.
Bolsonaro diz que refino de petróleo no Brasil poderia ser maior
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta quarta-feira uma maior concorrência no mercado de combustíveis e disse que o Brasil poderia estar com taxas mais elevadas de refino, sem citar diretamente a Petrobras, que detém quase a totalidade da capacidade de produção de derivados no país.
Ele afirmou ainda que o governo apura a suspeita de que refinarias estariam refinando uma quantidade reduzida de óleo diesel. Isso, segundo ele, obriga o Brasil a importar mais esse insumo, o que encareceria o preço final pago pelo consumidor.
A Petrobras tem quase 100% da capacidade de refino do Brasil. O atual presidente, Roberto Castello Branco, lidera um programa para vender metade desse parque de refinarias, concentrando as operações da companhia apenas nos Estados do Rio e São Paulo.
Bolsonaro disse também que a Petrobras pode colaborar com outros órgãos no combate a cartéis e adulteração de combustíveis e defendeu que é preciso diversificar "o máximo possível" a questão das refinarias.
"Nós poderíamos estar refinando mais e há interesse, estamos apurando se é verdade, que há interesse em refinar menos para nos obrigar a importar óleo diesel, o que encarece o óleo diesel", disse.
Na semana passada, o diretor executivo de refino e gás da Petrobras, Rodrigo Costa Lima e Silva, explicou que a empresa elevou o fator de utilização do parque de refino no primeiro bimestre deste ano, atingindo 86% em fevereiro, ante média de 79% em 2020, diante de um aumento da demanda.
Em governos anteriores, a Petrobras chegou a trabalhar com altas taxas de utilização de refinarias, como forma de suprir o mercado e evitar importações. Embora a responsabilidade por garantir o abastecimento nacional seja formalmente da reguladora ANP, a petroleira acabava por desempenhar esse papel.
Mas nas administrações de Castello Branco e do presidente anterior, Pedro Parente, houve um direcionamento mais voltado para a maximização de valor. Dessa maneira, a empresa busca sempre o melhor resultado financeiro ao tomar decisões sobre o funcionamento de suas refinarias e das importações.
Nesse contexto, ambas as administrações defenderam a prática de paridade de importação, o que permitiria que outras empresas atuassem nas compras externas para trazer produto. A prática, juntamente com a vendas das refinarias, segundo os dois gestores, criariam um ambiente mais propício para investimentos privados em refino.
CARTÉIS
Bolsonaro afirmou ainda que quer avaliar a atuação do que chamou de "cartéis", sem dar detalhes, e que tem discutido com a ANP formas para se abrir mais o mercado e "não ficar preso a alguns monopólios que existem aqui".
As falas do presidente estão na esteira da troca do presidente da Petrobras após sucessivos aumentos no preço dos combustíveis desde o início do ano.
Bolsonaro decidiu indicar o general reformado Joaquim Silva e Luna para o comando da estatal, o que provocou uma forte queda nas ações da empresa na bolsa de valores.
Consumo ajuda economia no fim de 2020 mas incerteza é palavra de ordem agora, diz a Reuters
SÃO PAULO (Reuters) - O consumo ajudou a economia brasileira no final do ano passado e o desempenho da atividade no quarto trimestre mostrou-se firme, mas o Brasil inicia 2021 com um rol de incertezas que vai da questão fiscal à piora expressiva da pandemia e ao cenário externo.
No quarto trimestre, o Produto Interno Bruto do Brasil apresentou expansão de 3,2% sobre os três meses anteriores, contra expectativa em pesquisa da Reuters de crescimento de 2,8%, depois de uma expansão recorde de 7,7% no terceiro trimestre. Em 2020 como um todo a economia contraiu 4,1%.
Um dos destaques para esse resultado foi a alta de 3,4% do Consumo das Famílias em relação ao terceiro trimestre. Sob a ótica da oferta, o setor de Serviços, mais afetado pelas medidas de isolamento devido à pandemia, cresceu 2,7% no período, enquanto a indústria expandiu 1,9%.
"Foi um momento da retomada em que ainda tinha consumo forte e a indústria recompondo os estoques, dois motores firmes. Mas diz muito pouco do PIB deste ano, as coisas mudaram bem", avaliou o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale.
Incerteza é a palavra de ordem para 2021. O ponto mais alarmante é a piora expressiva da pandemia de Covid-19, o que deixa em dúvida o andamento da atividade sob a sombra de endurecimento das restrições, esgotamento do sistema de saúde e recordes de mortes.
O Brasil registrou na terça-feira 1.641 novas mortes em decorrência da Covid-19, recorde para um único dia desde o início da pandemia, elevando o total de vítimas fatais da doença no país a 257.361.
O recrudescimento da doença ajuda a colocar o cenário para o consumo também em dúvida, em meio a uma melhora muito lenta do mercado de trabalho e ao fim, no ano passado, do auxílio emergencial fornecido pelo governo aos vulneráveis.
"Ainda que volte o auxílio agora, o nível de renda agregado da população vai ser substancialmente mais baixo do que no segundo semestre, o que vai se refletir no consumo", completou Megale.
A PEC Emergencial, que abre caminho para o pagamento de novas parcelas do auxílio e propõe gatilhos para ajuste de gastos, tem votação prevista para esta quarta-feira. Novo parecer, oficialmente protocolado e lido em plenário na véspera, traz uma versão mais desidratada da proposta do governo, de forma a facilitar sua votação. A PEC não traz valores ou prazos da renda assistencial, mas o governo já adiantou que calcula um repasse de 250 reais por 4 meses.
Completam a tempestade perfeita do início de 2021, nas palavras do economista do BV Carlos Lopes, o cenário externo e a fragilidade fiscal, que envolve também a renovação do auxílio.
Há meses o agravamento da situação fiscal brasileira tem sido motivo de preocupação para os mercados, em meio a temores de que, num cenário de endividamento recorde, os gastos do governo no combate à crise decorrente da pandemia não sejam compensados com medidas de austeridade.
O próprio Ministério da Economia pontuou após a divulgação dos dados do PIB que as incertezas econômicas continuam elevadas, mas que a consolidação fiscal e a continuidade das reformas estão entre os pontos mais importantes para um primeiro trimestre considerado "desafiador".
"Somam-se vários fatores locais, que têm uma única raiz, que é a fragilidade fiscal em que o país se encontra. E todos os ruídos políticos de troca de comando em estatais, redução de impostos, tudo isso envolve uma situação fiscal delicada, todo o medo do mercado está em cima disso", disse Lopes.
O cenário externo vem se mostrando como fator de pressão sobre ativos de risco. A recente alta dos rendimentos de títulos governamentais, principalmente dos Estados Unidos, foi um dos fatores para a forte alta do dólar, que está acima de 5,70 reais. Ainda preocupa a perspectiva de alta global da inflação com juros mais altos no mundo.
"A alta de juros lá fora pressiona o Brasil a subir os juros também, principalmente com o mercado cheio de dúvidas sobre o fiscal. Uma economia global forte ajuda o Brasil a crescer, mas torna mais necessário que o Brasil suba juros. Mas acho difícil o Brasil entrar em recessão no primeiro semestre com o mundo crescendo forte", avaliou o economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa.
No Brasil, o Banco Central já indica claramente alta dos juros e a volatilidade dos mercados pode afetar a confiança no país.
CARREGAMENTO
As expectativas para o crescimento da economia neste ano giram entre 3% e 4% -- a pesquisa Focus realizada semanalmente pelo BC mostram que a mediana da expectativa do mercado é de expansão de 3,29%, enquanto a projeção oficial do Ministério da Economia é de crescimento de 3,2% do PIB.
Mas especialistas alertam que esse não seria um resultado tão forte quanto parece, devido ao carregamento estatístico. Se o PIB tiver crescimento zero na média de todos os trimestres de 2021, o crescimento no ano já seria de 3,6%. Para ficar abaixo disso, seria necessário uma queda do PIB.
"Para ficar acima de 4% depende da vacinação. Se evoluir de forma célere e eficaz, o cenário pode ser mais benigno", disse Barbosa.
Incertezas econômicas seguem elevadas e país terá 1º tri desafiador, diz Ministério da Economia
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - As incertezas econômicas continuam elevadas e o primeiro trimestre será desafiador para o Brasil, mas a política monetária estimulativa, a expansão da vacinação, a consolidação fiscal e a continuidade das reformas vão permitir o aumento da confiança e maior vigor econômico ao longo de 2021, avaliou a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia nesta quarta-feira.
Em nota divulgada após números do IBGE mostrarem que o PIB do país caiu 4,1% no ano passado --maior tombo da série que começa em 1996--, a SPE, responsável pelas projeções macroeconômicas no ministério, ressaltou que o desempenho superou estimativas feitas ao longo de 2020.
"Embora tenha ocorrido forte recuo da economia no primeiro semestre de 2020, especialmente no segundo trimestre, a atividade econômica voltou a apresentar um ritmo de recuperação consistente ao longo do segundo semestre de 2020", destacou o texto, acrescentando que o desempenho se deu pela melhora da indústria e comércio, que retomaram patamares pré-pandemia.
"O setor de serviços, que foi o mais afetado pela pandemia e pelo distanciamento social, já está próximo do nível anterior à pandemia e, com a continuidade da vacinação, será a força motriz da atividade neste ano", disse a SPE.
A secretaria lembrou que a projeção oficial do Ministério da Economia para 2021 é de crescimento de 3,2% do PIB.
"Contudo, para continuar avançando ainda mais, é necessária a aprovação das reformas estruturais e das medidas que viabilizem a consolidação fiscal."
Enquanto a SPE divulgava a nota sobre o PIB, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, falava a jornalistas em coletiva virtual, na qual destacou o desempenho da economia melhor que o previsto pelas estimativas feitas na sequência dos primeiros impactos da pandemia.
Questionado sobre o que causou a divergência entre estimativa do ministro da Economia, Paulo Guedes --de retração do PIB menor que 4% em 2020--, e o número oficial (-4,1%), Waldery afirmou que os dados de consumo das famílias (sob a ótica da demanda) e do setor de serviços (oferta) vieram mais fracos.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou contração de 4,1% em 2020, sob impacto das medidas de contenção ao coronavírus e após três anos de ganhos, com a atividade no ritmo mais fraco desde o início da série iniciada em 1996.
Waldery afirmou que a equipe econômica está avaliando quais medidas adotadas no ano passado (e sem impacto fiscal) poderiam ser repetidas em 2021 e destacou que o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEM), dentre os colocados em prática, teve "alta efetividade".
"(Sobre) todas as outras (medidas) que foram tomadas, temos a aprendizagem do que funciona e do que não funciona", disse, citando ainda os diferimentos de impostos, também aplicados em 2020.