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Rabobank eleva projeções para juros, dólar e inflação e vê atividade mais forte
SÃO PAULO (Reuters) - O Rabobank aumentou suas estimativas para dólar, inflação, juros e crescimento da economia neste ano, citando elevação de prêmio de risco relacionado ao fiscal, depreciação cambial, alta das commodities e dados melhores do setor industrial.
Mauricio Une e Gabriel Santos, que assinam o relatório, veem agora o dólar a 5,15 reais ao fim deste ano (5,05 reais da projeção anterior) e em 5,05 reais no fechamento de 2022 (4,95 reais antes). Eles citaram que, apesar da valorização das matérias-primas, muitos exportadores têm mantido as receitas no exterior, enquanto investidores estrangeiros seguem afastados dos mercados domésticos.
Segundo Une e Santos, o episódio mais recente envolvendo governo e Petrobras --no qual o mercado viu interferência política na estatal-- deixou os estrangeiros se perguntando se a "longa lista de reformas estruturais pró-mercado ainda será aprovada em 2021-22".
Sobre inflação, o Rabobank elevou a projeção para o IPCA a 3,9%, ante 3,7%, mas deixou o número para 2022 em 3,5%. A inflação maior vem na esteira de preços mais altos das commodities em reais, que afetam custos da indústria. O IPCA vai bater um pico anual de 6,8% no segundo trimestre, de acordo com as estimativas do banco.
Com a inflação mais alta, o BC será levado a subir a Selic já no próximo mês. O Rabobank agora espera alta de 0,50 ponto percentual, contra cenário anterior de estabilidade. Ao fim do ano, o juro estará em 4,00%, frente à taxa de 3,50% projetada antes. O banco segue prevendo Selic de 5,50% em 2022.
Um dos motivos por trás da expectativa de juro mais alto, a atividade econômica deverá crescer mais que o esperado em 2021, a uma taxa de 3,2% (3,0% na previsão anterior).
Os economistas do Rabobank citam um "carry-over" (herança estatística ou carregamento) mais alto vindo do setor industrial, resultado de um número acima do esperado no IBC-Br do trimestre final de 2020.
Em 2022, a economia deverá avançar 2,2%, ante taxa de 2,5% esperada antes.
Desemprego fica em 13,5% em 2020, mas resultado poderia ter sido pior (por Hélio Zylberstajn*, em O Estado de S.Paulo)
As manchetes dos jornais de hoje enfatizam a taxa média de 13,5% de desocupação em 2020, a maior desde 2012. Esse número é péssimo, claro, mas não conta toda a história. A desocupação média anual esconde os três períodos distintos do ano e induz o público menos informado a conclusões exageradas.
No primeiro período, janeiro e fevereiro, a o ocupação formal estava crescendo bastante, induzindo até alguma redução na informalidade. O ano começava bem. A partir de março, porém, a pandemia provocou um estrago enorme, destruindo milhões de ocupações. Atingiu severamente, no primeiro momento, os trabalhadores informais, que ficaram repentinamente sem clientes e foram para casa, obviamente sem aviso prévio, sem FGTS, sem seguro-desemprego. Em seguida, os formais também tiveram suas perdas, que não foram pequenas.
O estrago só não maior porque o governo acudiu com as duas políticas conhecidas: as medidas para a manutenção de empregos (que salvaram algo como 11 a 12 milhões de ocupações formais) e o benefício emergencial, que transferiu renda para os 40% dos domicílios brasileiros de menor renda. A onda destrutiva durou até agosto, quando ocorreu nova reversão, que devolveu o sinal positivo à série. Veio uma recuperação rápida e vigorosa, que surpreendeu a todos e perdurou até o final do ano.
O sobe-e-desce de 2020 pode ser resumido com os seguintes números: de dezembro/2019 a setembro/2020, tínhamos perdido 8,4 milhões de ocupações, mas, no quarto trimestre, criamos 3,7 milhões. Ou seja, em um trimestre, recuperamos 44% das perdas. O movimento vigoroso de recriação de postos de trabalho fica escondido quando se considera apenas a média anual da desocupação. Afinal, fechamos o ano de 2020 criando mais de 1,2 milhão de postos de trabalho por mês.
Não é tudo o que precisamos. Mas, também, reconheçamos, não é pouco. O ano foi ruim, sim, mas poderia ter sido pior.
*PROFESSOR SÊNIOR DA FEA/USP E COORDENADOR DO PROJETO SALARIÔMETRO DA FIPE