Renato Dias: Mercado reage com fortes recuos na Bolsa à decisão de Bolsonaro em mudar comando da Petrobras
BC vende US$ 1 bi em swaps com real liderando quedas globais; mercado teme ingerência política
SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central vendeu 1 bilhão de dólares em novos contratos de swap cambial tradicional nesta segunda-feira, num dia já de outras operações do BC no câmbio e marcado pela disparada do dólar e aversão a risco no Brasil diante de temores de interferência política na Petrobras (PETR4.SA> e em outras empresas e setores.
O anúncio da oferta líquida de swap ocorreu às 11h06, exato horário em que o dólar à vista bateu a máxima do dia, de 5,535 reais (+2,79%).
O BC cancelou esse comunicado e divulgou outro às 11h11, no qual alterou o horário de realização do leilão para 11h15-11h25, ante 11h15-11h20 informado inicialmente.
Foram vendidos 11.700 contratos de swap cambial para o vencimento 1º de outubro de 2021 e 8.300 para 1º de junho. O dólar chegou a desacelerar os ganhos, descendo a 5,4757 reais na mínima pós-anúncio da operação, mas voltou a ganhar força e subia 2,05%, para 5,4950 reais.
No último dia 9, o BC também havia realizado oferta líquida de até 1 bilhão de dólares em swaps, vendendo todo o lote em duas operações.
O leilão de novos swaps pelo BC visou reduzir o gap de depreciação entre o real e seus pares. Ainda assim, enquanto o dólar subia cerca de 2% aqui, a moeda ganhava 1,4% ante peso mexicano e lira turca e 0,9% contra o rand sul-africano.
O BC também fez nesta sessão operações para rolagem de contratos de swap cambial vincendos em abril e de linhas de dólares com compromisso de recompra que vencem em março.
Ibovespa desaba com risco político; Petrobras perde cerca de R$65 bi em valor de mercado
SÃO PAULO (Reuters) - A Ibovespa tinha forte queda nesta segunda-feira, com agentes financeiros enxergando aumento relevante de risco político no país, principalmente ingerência governamental na Petrobras, que já perdeu cerca de 65 bilhões de reais em valor de mercado apenas nesta sessão.
Às 11:45, o Ibovespa caía 4,96%, a 112.555,5 pontos. No pior momento, chegou a 111.650,26 pontos. O volume financeiro somava 23,7 bilhões de reais, com as negociações ainda influenciadas pelo vencimento de contratos de opções sobre ações.
Na sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro indicou o nome do general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras após o encerramento do mandato do atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco.
Um dia depois, Bolsonaro indicou nova substituição nesta semana aos moldes da decisão para a presidência da Petrobras, bem como afirmou que vai "meter o dedo na energia elétrica".
"As declarações recentes do presidente acendem um enorme sinal amarelo - senão vermelho - ao cenário político local", disse o estrategista Dan Kawa, da TAG Investimentos, esperando uma segunda-feira de enorme pressão negativa nos ativos locais, "na ausência de uma mudança de postura do governo federal".
Endossando as missivas, o BTG Pactual destacou que a decisão relacionada à presidência da Petrobras aumenta de forma significativa incertezas que já se multiplicam tanto na parte política, na saúde e na agenda de reformas, conforme nota a clientes enviada pela área de gestão do banco.
"Não se trata apenas de uma troca no comando da Petrobras, que poderia ser considerada normal, porém aconteceu após duras críticas à política de preço que vinha sendo executada."
O Bank of America cortou a recomendação para Brasil a 'marketweight' em portfólio de ações na América Latina, bem como reduziu exposição a companhias de controle estatal, citando "maior incerteza".
DESTAQUES
- PETROBRAS ON e PETROBRAS PN desabavam 18,2% e 18,5%, respectivamente. Vários analistas cortaram a recomendação e reduziram os preços-alvo para os papéis. Até o momento, a Petrobras registra perda de cerca de 65 bilhões de reais em valor de mercado apenas nesta sessão.
- BANCO DO BRASIL ON perdia 10,3%, sofrendo com o aumento da percepção de risco de interferência política em entidades estatais após decisões ligadas à Petrobras. O Credit Suisse cortou a recomendação das ações para 'neutra' e reduziu o preço-alvo para 38 reais, de 46 reais antes. "Acreditamos que o impacto de tal desenvolvimento não é apenas negativo para a Petrobras, mas para outras empresas estatais, como o Banco do Brasil, que já estava sob escrutínio do mercado para potencial interferência política", afirmaram os analistas do banco.
- ELETROBRAS ON e ELETROBRAS PNB recuavam 4,7% e 4,2%, respectivamente, também contaminadas, embora tenham se afastado das mínimas. O índice do setor elétrico na B3 perdia 3,7%.
- ULTRAPAR ON mostrava declínio de 9,4%, também afetada pela verborragia de Brasília relacionada aos combustíveis. Mais cedo nesta segunda-feira, Bolsonaro afirmou a apoiadores que é possível reduzir em 10% o preço dos combustíveis intervindo na bitributação e em mudanças no ICMS. BR Distribuidora ON perdia 8,8% e COSAN ON caía 6,3%.
- LOJAS AMERICANAS PN avançava 13,5% e B2W ON subia 5,5%, entre as poucas altas do Ibovespa. As companhias anunciaram na sexta-feira que estão avaliando uma combinação de suas operações. As varejistas, porém, não deram detalhes sobre quando os estudos poderão ser concluídos e assembleias de acionistas serem convocadas. A B2W é atualmente controlada pela Lojas Americanas em 62,5%.
Mercado age como “rebanho eletrônico”, diz Mourão sobre queda da Petrobras
“É especulação”, afirma o vice; Depois, investidor voltará correndo (No Poder360)
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse nesta 2ª feira (22.fev.2021) que o preço das ações da Petrobras vai se recuperar porque o substituto de Roberto Castello Branco, general da reserva Luna e Silva, “é preparado”.
Os investidores financeiros estão reagindo negativamente à troca promovida pelo presidente Bolsonaro na petrolífera se desfazendo de seus investimentos na estatal.
“É especulação. O mercado é rebanho eletrônico. Sai correndo para um lado. Depois, volta correndo de novo”, disse o vice ao comentar a queda das ações na Bolsa nesta 2ª feira (22.fev).
Mourão negou que a troca no comando da Petrobras seja uma intervenção do presidente Jair Bolsonaro. Afirmou que a mudança foi uma “questão de confiança”.
Bolsonaro indicou Luna e Silva, atual diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional e ex-ministro da Defesa do governo Michel Temer, para comandar a Petrobras. A decisão precisa do aval do Conselho de Administração da empresa, que se reúne nesta semana.