Mesmo com alta do dólar, sojicultores deveriam esperar um pouco mais para vender, diz Ênio Fernandes

Publicado em 12/06/2020 11:53 e atualizado em 12/06/2020 17:04
Dólar deve manter e intensificar volatilidade, além do espaço para altas do prêmio para a soja brasileira ainda ser bastante amplo. Oferta da nova safra é escassa e será disputada, segundo Ênio Fernandes.
Ênio Fernandes - Consultor em Agronegócio da Terra Agronegócios

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Mesmo com alta do dólar, sojicultores deveriam esperar um pouco mais para vender, diz Ênio Fernandes

 

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O dólar voltou a superar os R$ 5,00 nesta sexta-feira (12), com altas fortes registradas, impulsionadas, principalmente, pela preocupação do mercado internacional com a possibilidade de uma nova onda de Covid-19. Perto de 12h (horário de Brasília), a moeda americana valia R$ 5,03. Ainda assim, para Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócios, o momento não sugere que o sojicultor brasileiro volte às vendas neste momento. 

"Eu nunca vi não existir mercado de clima nos EUA e este ano não vai ser diferente. Estamos começando a safra por lá e pode não chover, pode acontecer temperaturas mais altas, podemos ter problemas e ainda está muito cedo", explica Fernandes. 

O consultor cita ainda os números divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta quinta (11) indicando a colheita americana em pouco mais de 112 milhões de toneladas e estoques finais de apenas 10 milhões. "Não é um estoque apertado, mas também não é confortável. Olho para o Brasil e já está tudo vendido e o volume exportável de soja em grão da Argentina é pequeno", detalha. 

Mais do que isso, Fernandes acredita ainda que os prêmios - que já estão altos no Brasil - têm espaço para subir um pouco mais, principalmente com a escassa oferta tendo de ser disputada nos próximos meses entre a indústria local e as exportações, com a demanda externa ainda buscando a soja brasileira. 

Assim, o consultor acredita que agosto e setembro podem trazer melhores oportunidades, portanto, para os volumes remanescentes da safra 2019/20. Para a 2020/21, porém, a realidade já é um pouco mais diferente e os prêmios também dependerão, entre outros fatores, do andamento e resultado da nova safra americana. 

Sobre a nova temporada, Fernandes explica ainda que já há, no Mato Grosso, cerca de 50% safra comprometida - seja com andiantamento, operações de barter ou financiamento. "Assim, o volume disponível é pequeno para a época do ano. Então, eu teria cuidado se fosse produtor do Mato Grosso tendo vendido bastante. O mesmo raciocínio se dá para Mato Grosso do Sul e Goiás, onde já há cerca de 35% vendido", diz. 

Já para o Paraná, onde há cerca de 25% da safra nova comercializada, há fatores que mudam o comportamento do produtor na hora da venda, como a força do mercado interno e as vantagens logísticas do estado. 

DÓLAR

A volatilidade e a especulação sobre o dólar deverão continuar nos próximos meses, ainda segundo o consultor. E até este momento, acredita que a gestão dos produtores foi bastante eficiente frente á recente e intensa movimentação do câmbio no Brasil. 

"Você tem que gestar margens, e ele conseguiu exclentes margens, inclusive agora no milho segunda safra. Porque ele se informa a cada dia mais", afirma Ênio Fernandes. 

Agora, o que se vê é uma quantidade enorme de recursos sendo colocada no mercado, com ações de todos os bancos centrais mundo a fora, e isso precisa ser considerado. Mais do que isso, o consultor afirma que, passado o episódio do coronavírus, o cenário financeiro, fiscal e econômico do Brasil estará ainda mais fragilizado, exigindo decisões e medidas que também trarão ainda mais volatilidade ao mercado. 

"Até março de 2021 haverá muita tensão sobre a mesa e essa volatilidade vai continuar. Hora se verá algo entre R$ 4,60, R$ 4,70, mas comentários, medidas podem levar o dólar acima dos R$ 5,00 de novo", explica. 

Reuters: Dólar dispara acima de R$ 5 em volta de feriado

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava contra o real nesta sexta-feira, superando com folga a marca de 5 reais em ajuste na volta de feriado, depois de uma quinta-feira turbulenta para ativos arriscados de todo o mundo.

A moeda até chegou a desacelerar os ganhos no meio da manhã, mas voltou a ganhar força após o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) reiterar cenário nebuloso para a economia dos EUA no pós-pandemia.

O Fed espera que as finanças das famílias norte-americanas e os balanços das empresas enfrentem "fragilidades persistentes" como resultado do choque da atividade econômica em decorrência da pandemia do coronavírus, informou o banco central em relatório ao Congresso nesta sexta-feira.

Às 12:50, o dólar avançava 1,93%, a 5,0352 reais na venda, enquanto o dólar futuro de maior liquidez tinha alta de 1,68%, a 5,0635 reais.

Na máxima da sessão, a moeda saltou 3,51%, a 5,1130 reais. Na mínima, ganhou 0,75%, para 4,9770 reais.

Segundo analistas, o movimento deste pregão refletia a aversão a risco que havia tomado os mercados globais na véspera, quando não houve negociações no Brasil devido a feriado bancário.

Na quinta-feira, bolsas de valores e moedas arriscadas de todo o mundo registraram fortes perdas em resposta a projeções econômicas sombrias pelo Federal Reserve, que sinalizou que vai fornecer anos de apoio extraordinário para a economia norte-americana, que tem um longo caminho pela frente até uma recuperação em relação à crise do coronavírus.

As autoridades do banco central dos Estados Unidos projetaram um declínio de 6,5% no Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e uma taxa de desemprego de 9,3% até o final de 2020.

"Ontem, os mercados globais tiveram fortes quedas diante da sinalização mais cautelosa do Fed e de informações de que a doença (Covid-19) voltou a ganhar força em regiões dos EUA que começaram a reverter as medidas de distanciamento social", escreveram analistas do Bradesco em nota.

Com o reiterado tom sombrio do Fed nesta sessão, algumas moedas emergentes ou ligadas a commodities reverteram ganhos de mais cedo ou desaceleraram as altas.

Jefferson Rugik, da Correparti Corretora, citou em nota "movimento de compensação", com os participantes do mercado partindo para um movimento de recomposição de posições defensivas, acrescentando que a "única certeza que fica é de que a 'rainha volatilidade' deve voltar a exibir forte presença no nosso mercado de câmbio".

Na última sessão, na quarta-feira, o dólar negociado no mercado interbancário fechou em alta de 1,05%, a 4,9398 reais na venda.

Desde o fechamento da última sexta-feira, o dólar acumula alta de cerca de 1% contra o real, caminhando para fechar sua primeira semana de alta em quatro.

Por: João Batista Olivi e Carla Mendes| Instagram@jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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