Dólar pode testar os R$ 6,30 no curto prazo e caminho para produtor pode ser o hedge cambial
Os juros baixos, a pressão sobre os preços das commodities e o desalinho no cenário político brasileiro têm se mostrado como os principais combustíveis para o contínuo avanço do dólar frente ao real. A avaliação é do economista chefe da Necton, André Perfeito, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta sexta-feira (15), onde projeta que a divisa possa chegar aos R$ 6,00, continuar subindo e ainda alcançar os R$ 6,30 já nas próximas semanas.
"Quando os juros caem, e tudo indica que a Selic possa chegar aos 2%, isso sugere que o real fica menos atrativo. Por que colocar dinheiro em um país onde a economia está fraca e em um país que paga pouco juros?", explica Perfeito. "E politicamente o Brasil está em um período bastante conturbado. É verdade que o presidente tem total controle da situação, mas a situação não está tranquila (...) e isso gera uma distração para enfrentar uma crise", completa.
Segundo ele, o que mais pesa politicamente ainda é o desalinho entre o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. Uma relação mais amena que começou a aparecer no final desta quinta-feira (14) entre o presidente Jair Bolsonaro e Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, já foi bem recebida pelo mercado, que precisará ver um alinhamento melhor entre os poderes no Brasil.
O economista afirma ainda que o Banco Central deverá continuar cortando as taxas de juros, mas afirma que essa medida, sozinha, ainda é insuficiente para equalizar o mercado e conter a escalada do dólar. Assim, não só o dólar pode alcançar os R$ 6,30, como pode subir ainda mais.
"E temos motivos não só para o real ficar fraco, mas para o dólar subir", acredita. Entre eles, as relações entre China e Estados Unidos podendo, novamente, tomar um caminho negativo é um deles, bem como os impactos da pandemia do coronavírus e de seus desdobramentos sobre a economia global.
Assim, Perfeito orienta os produtores rurais a buscarem fazer uso das ferramentas disponíveis para protegerem sua renda, entre elas, o hedge cambial.
O QUE PODERIA FAZER O DÓLAR RECUAR?
Na análise do economista, o dólar deverá estar na casa dos R$ 5,90 no final do ano, distante do estimado pelo mercado, que é o patamar de R$ 5,00, como mostra o último boletim Focus.
E entre os fatores que poderiam promover uma baixa da moeda americana seria uma retomada dos mercados de capital, a balança comercial brasileira melhorar muito e os juros podem cair ainda mais no exterior e podem gerar uma atratividade maior para o Brasil, além da crise política possa ser ao menos pacificada.
"Isso tudo pode acontecer, mas acho difícil que aconteça no curto prazo", afirma Perfeito.
RECUPERAÇÃO DA ECONOMIA E O AGRO BR
A normalidade, na análise do economista chefe da Necton, ainda está distante, e por isso, a recuperação das economias mundial e nacional ainda está distante e incerta. Todavia, Perfeito explica que o agronegócio terá função determinante na amenização do atual cenário.
"O setor agrícola agora terá uma contribuição ainda maior na melhoria do quadro macroeconômico e também insititucional. Gosto muito da ministra Tereza Cristina, que no meio dessa questão toda está quieta, tocando o barco dela, fazendo um trabalho excepcional (...) O papel é absolutamente fundamental da agricultura e cabe ao agronegócio ter este pensamento estratégico também com o Brasil", conclui.