Análise do pedido de demissão de Sérgio Moro e suas consequências, por Fernando Pinheiro Pedro

Publicado em 23/04/2020 17:54 e atualizado em 23/04/2020 20:57
Entrevista com Fernando Pinheiro Pedro - Jornalista, analista do NA
Fernando Pinheiro Pedro - Jornalista, analista do NA

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Análise do pedido de demissão de Sérgio Moro e suas consequências

 

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Nesta quinta-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro recebeu um aviso de demissão do Ministro da Justiça, Sérgio Moro. O aviso teria sido uma resposta do ministro após o presidente exigir a demissão do diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Maurício Valeixo. Segundo o jornalista Antonio Fernando pinheiro Pedro, em entrevista ao site Notícias Agrícolas, disse que há uma "dupla face" no governo Bolsonaro.

"Se por um lado vemos um governo combatendo os problemas, colocando as reformas em andamento, por outro vemos um certo proselitismo, com discurso fácil, fanfarronice e acusações em redes sociais. Este segundo lado complica e causa atritos com o primeiro lado, que é o da governabilidade", explica Pinheiro Pedro, comparando o governo federal com o ser mitológico Janus (ver abaixo no artigo escrito pelo jornalista).

Segundo Pinheiro Pedro, há uma dupla pressão sobre o cargo de diretor-geral da Polícia Federal: a primeira é a continuidade da Operação Lava-Jato, a segunda é a investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente. Outra hipótese levanta pelo jornalista é que o presidente estaria iniciando negociações com parlamentares, sendo ue alguns deles são investigados pela Polícia Federal.

"Se o ministro Sérgio Moro sair, tem vários candidatos para substituí-lo. No entanto, organismos como a Polícia Federal resistem quando pessoas de fora da instituição tentam modificar suas atribuições. Se ele sair, teremos um conflito institucional enorme. O governo federal é maior que o presidente, para manter o compromisso com a melhoria do país, precisamos oservar que o presidente é parte do governo e não maior que o governo", disse.

Braga Netto: assessoria do ministro Moro já desmentiu saída (Estadão)

O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, evitou falar diretamente sobre a eventual exoneração do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, por divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre o comando da Polícia Federal.

Ao ser questionado sobre o tema, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, Braga Netto limitou-se a dizer que a informação foi descartada pela assessoria de Moro. Em nota, a equipe do ministro afirmou que "não confirma" o pedido de demissão do ministro, relatado por aliados à imprensa.

De acordo com interlocutores do presidente Jair Bolsonaro, Moro não chegou a pedir demissão nesta quinta-feira, mas afirmou que não concordava com a troca "de cima para baixo" do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, e iria reavaliar a sua permanência no governo. Ao longo do dia, integrantes da ala militar entraram em campo para reverter uma possível saída do ministro.

Diretor-geral da PF vai deixar o cargo e Moro tenta fazer sucessor, diz fonte

BRASÍLIA (Reuters) - O diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, vai deixar o cargo para o qual foi escolhido pessoalmente pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, desde o início do governo Jair Bolsonaro, disse à Reuters uma fonte com conhecimento direto do assunto nesta quinta-feira.

Moro trabalha para fazer o sucessor de Valeixo no cargo e disse que não aceita a escolha de um nome do presidente ou uma indicação política. Se isso ocorrer, o ministro vai deixar o governo, disse essa fonte.

Mais cedo, em reunião no Palácio do Planalto, Bolsonaro avisou a Moro que iria trocar o chefe da PF, disse a fonte. O ministro da Justiça disse ao presidente inicialmente que não via sentido em permanecer no cargo caso houvesse a mudança de Valeixo, segundo a fonte.

Os ministros da Casa Civil, Braga Netto, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, começaram a atuar então para garantir a permanência de Moro e passaram a buscar uma solução que atenda tanto ao ministro da Justiça quanto ao presidente.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça, Moro não pediu demissão do cargo. O ministro ganhou notoriedade por seu trabalho como juiz da operação Lava Jato e é um dos mais populares ministros do governo.

A saída de Valeixo é uma derrota para Moro, que escolheu o chefe da PF no início do governo, em janeiro do ano passado. Os dois trabalharam juntos na Lava Jato em Curitiba (PR) --Valeixo foi superintendente da PF no Estado. Oficialmente, a asssesoria de imprensa da corporação não se manifestou sobre o assunto.

Essa não foi a primeira vez, no entanto, que Bolsonaro buscou trocar a chefia da polícia.

    Em agosto do ano passado, o presidente disse que pretendia trocar Valeixo e destacou na ocasião ser o responsável pela indicação do chefe da polícia e não Moro, a quem a instituição é funcionalmente ligada. Mas na ocasião a mudança não prosperou após Moro também ter ameaçado sair.

Uma segunda fonte avaliou que a troca do diretor-geral da PF pode ser vista como um movimento de Bolsonaro para provocar Moro, a quem o vê com desconfiança e como potencial adversário na sucessão presidencial em 2022. A discussão sobre o comando da polícia seria apenas uma isca em todo esse lance, na avaliação dessa fonte. "O presidente quer testar para ver até onde Moro vai", disse.

Em um ano e quatro meses, o ministro da Justiça --um dos mais populares integrantes do governo-- teve embates com o presidente e com parte do Congresso Nacional, que o retaliou por ações quando ele esteve à frente da Lava Jato como na desidratação do chamado pacote anticrime.

A iniciativa do presidente de mudar o comando da PF ocorre após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter autorizado a abertura de um inquérito para apurar os organizadores de atos do domingo que pediram o fechamento da corte, do Congresso e uma intervenção militar.

Bolsonaro participou de um dos atos em frente ao QG do Exército em Brasília. O presidente, no entanto, não é alvo da apuração, que será conduzida pela PF e foi requerida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

O presidente também se aproximou nas últimas semanas de parlamentares do centrão, grupo de influente partidos no Congresso e que têm parlamentares como alvo da operação Lava Jato.

A nova investida de Bolsonaro sobre a PF ocorre depois também de o presidente ter demitido na semana passada Luiz Henrique Mandetta, titular da Saúde e que ficou bastante popular durante o combate à epidemia do coronavírus no país.

    REUNIÃO

    O coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), disse ter conversado por telefone duas vezes com Moro nesta quinta-feira. A primeira delas, por volta das 11h, quando tratou de marcar uma reunião com o ministro na próxima terça-feira a fim de tratar sobre questões referentes a soltura de presos.

Posteriormente, os dois voltaram a se falar às 14h, assim que surgiram informações de eventual saída de Moro, o coordenador da bancada da bala quis saber se o encontro da semana que vem iria ocorrer. Segundo o deputado, Moro disse que a reunião estava mantida e a notícia da saída dele não procedia.

    Na manhã desta quinta, o diretor-geral da PF teve uma reunião por videoconferência com superintendentes da corporação dos 27 Estados e do Distrito Federal. No encontro, segundo uma fonte, ele mencionou que não tem apego ao cargo ao lembrar que a função é de livre nomeação.

    O presidente da Associação de Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, admitiu à Reuters na tarde desta quinta que o diretor-geral da PF não estava confortável no cargo desde o ano passado. Disse que ele é um policial sério, mas toda hora há essa conversa de troca na PF mesmo sem ele ter feito "nada de errado".

    "Aí ele vai se cansando, me parece natural que após um ano e meio nesse processo, ele queira sair", disse Paiva à Reuters. "Quem vai ficar nesse processo?", questionou.

A SÍNDROME DE JANUS NO GOVERNO BOLSONARO, por Antonio Fernando Pinheiro Pedro

É necessário, o quanto antes, remover a face proselitista, que só atrapalha, para que a face da governabilidade possa vingar no rosto do governo

O Brasil é um país dicotômico, partido e polifacetado, que possuí várias instituições acometidas pela "Síndrome de Janus".  Janus é um deus romano que representa o início dos caminhos e as escolhas - por isso mesmo é representado por uma cabeça com duas faces: a que olha para o passado, a que vislumbra o futuro, a que observa os erros, a que enxerga os acertos, a que vislumbra o certo, a que mira o errado...

O grande problema do Governo Bolsonaro é que essa síndrome e Janus está hoje perceptível  na cúpula governamental, e afeta a imagem não apenas do governo, mas do Brasil no exterior. Essa dicotomia também suga energias e distorce as ações e pode inviabilizar o próprio governo e jogar a Nação em uma crise. 

É necessário, o quanto antes, remover a face proselitista, que só atrapalha, para que a face da governabilidade, bem sucedida, possa de fato vingar no rosto do governo.

Sobre isso fui entrevistado pelo jornalista Arnaldo Risemberg para a Rádio Sputnik - Brasil. A Rádio Sputnik é mídia da agência russa internacional de notícias Rossyia Segodnya (Rússia Hoje) - antiga Voz de Mascou,  sediada na capital russa e direcionada ao Brasil. 

Para ouvir a entrevista, basta clicar aqui.

A cada dia que passa aumentam denúncias no exterior contra o Presidente Jair Bolsonaro. Os ataques ao mandatário da Nação têm por fundamento suas falas e atitudes, em especial seu comportamento diante da pandemia da COVID-19, isso ocorre  na ONU e até no tribunal internacional penal.

Essa avalanche de denuncias  decorre da "Síndrome de Janus" que acomete o mandatário e seu coverno.  Janus é um deus romano protetor dos inícios e das escolhas, ele é representado por uma figura masculina cuja cabeça possui dois rostos, voltados para direções opostas. Assim, pode-se dizer que há dois governos bolsonaro, hoje.  

O primeiro é o real, o que governa o país - e governa bem. Está estruturado a partir de um gabinete da presidência estruturado colegiadamente, coordenado pelo Chefe da Casa Civil, composto dos ministros militares que ocupam as secretarias de governo, assuntos estratégicos, segurança institucional e o ministério da defesa. Esse gabinete conta ainda com o apoio do Vice-Presidente, General Mourão. Escalado pelo próprio presidente no início deste ano de 2020, esse gabinete faz a máquina do governo funcionar, gerencia os conflitos institucionais e toca as reformas necessárias à modernização do Estado e à manutenção da governabilidade.  

O segundo governo bolsonaro é o rosto midiático do próprio presidente, e encontra-se enredado em uma contínua campanha eleitoral. Promove ações de cunho proselitista e pratica uma agressiva política de enfrentamento.  Todos os dias, esse rosto procura um inimigo para malhar como judas na Semana Santa, promove agitações, estimula suas hostes a promoverem campanhas de destruição sistemática de reputações e convive com todo tipo de atitude descrente e mesmo hostil ao regime democrático. 

Essa dicotomia termina se refletindo nas reais intenções contidas nas denúncias de entidades e organismos internacionais.  De um lado, há uma massa de questionamentos advindos do profundo desconforto causado pelos atos e atitudes governamentais contra valores e campanhas relacionadas á sustentabilidade do planeta, ao combate às pandemias e às ações de enfrentamento às mudanças climáticas. Mas de outro, há um evidente oportunismo globalista, que procura usar a crise de imagem para desacreditar e atacar um governo que adotou a linha soberanista desde o primeiro dia. 

Por óbvio que a imagem do governo fica comprometida - e isso transmite ao mundo uma visão absolutamente incondizente com o que se está fazendo de bom e salutar no país - como o efetivo combate à corrupção, de modo que não houve, neste governo, um único escândalo de corrupção, e o combate à criminalidade organizada, a retomada da agenda de implantação da infraestrutura, a manutenção do abastecimento e da pujança do agronegócio, etc.  

Lógico que a segunda face de Janus contribui decisivamente para essa queda de imagem internacional, e os ministros comprometidos com o rosto proselitista do governo bolsonaro  têm contribuído para esse dano - gerando uma crise atrás da outra em suas pastas. 

O episódio desnuda a impressionante falha existente na comunicação institucional do governo bolsonaro, que compromete a credibilidade na opinião pública e os negócios do Brasil no exterior. 

Revela, também, uma falha de conduta que necessita ser imediatamente corrigida, sob pena de inviabilizar o governo. 
As  hostes bolsonaristas, baseadas na face proselitista do Janus governamental, por exemplo,  parecem querer esticar a corda até o rompimento com o maior parceiro comercial do Brasil, que é a China - e isso parece ter método. De toda forma o resultado é péssimo e desestimulante, inclusive para os ministros mais importantes do governo federal e suas equipes. 

Sérgio Moro, na Justiça, e Tereza Cristina, na Agricultura, são alvos fáceis para as hostes bolsonaristas, que trafegam pelo rosto proselitista - e isso pode destruir a imagem do Brasil no combate á corrupção e no agronegócio. A insegurança típica das ações proselitistas também poderá fazer o governo alterar da tecnocracia para o mais raso fisiologismo em questão de horas. 

É hora de se proceder a uma dura correção dessa disfuncionalidade. O rosto proselitista deve ser arrancado, para que o real possa governar, sob o comando do presidente, com efetividade e eficácia. 

Por: João Batista Olivi e Ericson Cunha
Fonte: Noticias Agrícolas

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