Coronavírus ameaça também a fase um do acordo comercial China x EUA, explica analista
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Entrevista com Roberto Dumas Damas - Economista e Professor do Insper sobre o Coronavírus e os impactos nos mercados
O mercado financeiro chinês voltou aos negócios nesta segunda-feira (3), após o feriado do Ano Novo Lunar, registrando seu maior recuo desde 2015 nas bolsas de Shenzen e Xangai. O surto do coronavírus manteve o mercado 'represado' junto das pessoas e cidades isoladas na China por conta do surto de coronavírus que assola o país. Em números oficiais, são mais de 17 mil pessoas infectadas e quase 400 óbitos.
O cenário social, político e econômico segue muito incerto na nação asiática e contaminando os mercados financeiros mundo a fora. E por mais que a comparação com a epidemia de SARS em 2003 seja inevitável, as condições são diferentes e o impacto econômico do coronavírus pode ser pior.
"No episódio da SARS, a alavancagem das empresas, das famílias, do governo, somando tudo, dava 160% do PIB e desta vez estamos em 300% do PIB e cada vez crescendo menos", diz Roberto Dumas Damas, economista e professor do INSPER, especializado em economia internacional. Mais do que isso, há 17 anos, a China não era a segunda maior economia do mundo.
E este quadro se desenha ainda em um momento onde a economia mundial já se mostra fragilizada e sem boas e e consistentes perspectivas de recuperação. "Não tem recuperação da economia global. No começo do ano, o FMI já havia colocado, antes do coronavírus, para baixo a possibilidade de recuperação da economia mundial", explica.
Não bastasse o coronavírus, o surto se desenvolve e se agrava com o mercado ainda muito inseguro sobre a fase um do acordo comercial entre China e Estados Unidos, e o que será efetivamente feito pelos dois países. Os números revelados no acordo são bastante audaciosos e já vinha gerando muita especulação entre os especialistas.
"Essa fase um foi uma bobagem, um acordo absolutamente frágil para reeleger Trump", acredita o economista. "Financistas, bancos, gostam e sabem administrar risco, mas não sabem administrar incerteza, e não temos a mínima ideia do que vai acontecer".
Partindo da premissa de que uma vacina para o coronavírus chegue em mais alguns meses, no máximo até o final do ano, a situação começa a se reestabelecer e o cenário volta a se normalizar nos mercados. "É uma recuperação em V", diz. "Achamos uma vacina, tudo volta como era antes".