Investidores na defensiva diante do Coronavírus; soja ainda sente pressão do acordo China x EUA e da colheita no BR
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Entrevista com Steve Cachia - Consultor da Cerealpar e da AgroCulte sobre o Coronavírus e os impactos nos mercados
Os mercados financeiros chineses voltaram do feriado do Ano Novo Lunar, prolongado pelo surto de coronavírus, registrando perdas de mais de 7% nos índices acionários nas bolsas de Xangai e Shenzen. A aversão ao risco continua muito elevada e, sem tempo de ajustes com o país parado diante da crise, as perdas foram generalizadas, com os investidores ainda em estado de alerta e na defensiva.
Segundo epxlica Steve Cachia, consultor da Cerealpar e da AgroCulte, essa é uma 'reação esperada' pelo mercado diante de tantas incertezas ainda sobre o alastramento do vírus. São quase 400 mortes e mais de 20 mil pessoas infectadas. Para alguns institutos de saúde, o número real de casos confirmados passa de 100 mil.
"Isso cria um certo pânico no mercado e, cada vez que se incluem mais países além da China, o temor aumenta. E a primeira reação dos investidores é se proteger", diz Cachia.
Para o executivo, que fala ao Notícias Agrícolas direto de Malta, na Europa, essas correções mais agressivas são temporárias e que, aos poucos, com a confirmação de notícias que sinalizem um estabelecimento do controle do surto, os mercados vão, aos poucos, retomando sua normalidade.
"Não podemos esquecer que, apesar da desaceleração do crescimento econômico da China, o crescimento ainda é de 5% a 6% ao ano e, por mais que não sejam níveis a que estávamos acostumados até alguns anos atrás, são importantes", diz.
Entre as commodities agrícolas, porém, as baixas neste início de mês e de semana são mais tímidas do que o observado na última semana. Na Bolsa de Chicago, os futuros da soja perdiam algo entre 0,50 e 0,75 ponto nos principais contratos, por volta de 10h30 (horário de Brasília), após perder cerca de 8% somente em janeiro.
No entanto, ainda como afirma Cachia, há uma pressão também sobre os preços da soja de uma falta de atividade da China no mercado norte-americano - embora o acordo comercial só entre efetivamente em vigor neste dia 15 de fevereiro - e da chegada da nova safra da América do Sul ao mercado, começando pelo Brasil.
E essa maior disponibilidade de soja brasileira no mercado ajuda a garantir uma maior competitividade também do produto do Brasil para os importadores, principalmente para a nação asiática. E os preços da oleaginosa nacional, ainda como relata o consultor, seguem remuneradores para o produtor brasileiro e é importante que ele saiba aproveitar as oportunidades que o mercado pode oferecer.
"E o Brasil tem ainda a questão da taxa de câmbio, que está anulando qualquer fator negativo,e os preços reais ainda estão sendo bastante atrativos", diz. "Mas também podemos ter o dólar voltando a cair conforme as notícias boas sobre o coronavírus forem saindo, podemos ter o efeito inverso".