Com elevação nas taxas de exportação, produtor argentino pode perder, em média, US$20/t na soja
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Entrevista com Sebastian Gavaldá - Diretor da Globaltecnos (Argentina) sobre as Retenciones na Argentina
O novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou suas primeiras medidas econômicas: elevou os custos para demissão sem justa causa e o imposto sobre exportação de produtos agrícolas. No entanto, os valores a serem reajustados sobre os impostos ainda não estão claros. Segundo Sebastian Galvadá, diretor da Globatecnos, as "retenciones" vão ser reajustadas de 6,5% para 12% para cereais e de 24% para 30% para soja.
Mesmo com as mudanças ainda em andamento, o mercado argentino não abriu nesta segunda-feira (16) para as exportações. O impacto na remuneração para os produtores rurais irá depender tanto do rendimento da lavoura, quanto da distância em relação ao porto. No entanto, Galvadá diz que haverá uma diferença de US$ 20 / tonelada a menos, caso as novas taxas sejam colocadas em prática.
Como exemplo, ele compara o rendimento que o produtor brasileiro recebe por tonelada, que é de cerca de US$ 340 (sem considerar o bônus). Já o produtor argentino, recebe atualmente US$ 245 / tonelada, com as retenciones em prática, esse valor seria reduzido para US$ 225.
Com a possível queda de competitividade das commodities argentinas, os produtores do país venderam boa parte de suas produções antes das retenciones se tornarem efetivas. Galvadá cita o caso do trigo, que foi vendido em quase sua totalidade. Isso poderá afetar o Brasil, já que o país costuma importar trigo argentino para atender sua demanda interna.
Produção argentina vai sofrer com taxas para exportação de grãos, dizem agricultores
BUENOS AIRES (Reuters) - O aumento nas taxas sobre exportações de grãos anunciado pela Argentina no fim de semana irá pressionar os embarques de soja, milho e trigo do país, com produtores diminuindo investimentos para compensar os menores lucros que as novas tarifas devem causar, disseram agricultores à Reuters nesta segunda-feira.
O presidente peronista Alberto Fernández, que tomou posse na terça-feira, elevou as taxas sobre grãos, óleo e farelo de soja para 30%, contra cerca de 25% anteriormente, e aumentou de cerca de 7% para 12% as tarifas sobre milho e trigo. O governo passa por um momento em que precisa de dinheiro, uma vez que caminha para renegociar cerca de 100 bilhões de dólares em obrigações.
A Argentina é a terceira maior exportadora de milho e soja do mundo, além de maior fornecedora de farelo de soja, utilizado como ração animal. Produtores afirmaram que as taxas mais altas vão causar uma retração na tomada de riscos, forçando um aumento no plantio de soja, mais barato, e reduções nos investimentos.
"O aumento nas taxas de exportação será horrível para a produção, e isso afetará as economias rurais, com impacto sobre as pessoas que vendem máquinas agrícolas, sementes e fertilizantes. Mais tarde, isso fará efeito sobre a economia nacional", disse David Hughes, produtor da cidade de Alberti, na região de Buenos Aires.
Para a Argentina, os embarques de grãos são a principal fonte dos muito necessários dólares provenientes de exportações. O banco central tem precisado vender reservas de dólares para controlar a desvalorização da moeda local, que perdeu mais de 83% de seu valor nos últimos quatro anos. O enfraquecimento do peso contribuiu para que a inflação ficasse ao redor de 50% ao ano.
As taxas de exportação são pagas ao governo por empresas exportadoras internacionais, que, por sua vez, descontam os impostos dos preços pagos aos produtores. Dessa forma, os agricultores terminam pagando as taxas mesmo que não tenham um ano lucrativo.
Segundo Hughes, o custo para cultivar soja em sua fazenda gira em torno dos 300 dólares por hectare. O milho custa 550 dólares e o trigo, 380 dólares. Assim, com os lucros em jogo, a tendência é que ele e outros produtores reduzam riscos e diminuam o cultivo de milho e trigo.
"Os agricultores arriscam todo seu capital no plantio. E então a safra fica sujeita às condições climáticas. Quando os riscos disparam devido às taxas mais altas, é natural arriscarmos menos, investirmos menos, colhermos menos", disse Eduardo Bell, produtor da cidade de Saladillo, no coração do cinturão agrícola dos Pampas.
Peso argentino recua no mercado paralelo com receio sobre "taxa de turismo"
BUENOS AIRES (Reuters) - O peso argentino negociado no mercado paralelo caiu quase 8% em relação ao dólar norte-americano nesta segunda-feira, depois de um funcionário de alto escalão sinalizar o retorno da chamada taxa de turismo sobre gastos em dólares, uma medida para ajudar a sustentar o peso local, além de auxiliar a encher os cofres do Estado deficitário.
O peso recuou 7,93%, para 72,50 por dólar, no mercado informal, disseram operadores, afastando-se, aproximadamente, em 20% da cotação à vista oficial, que foi mantida estável pelos rígidos controles de capital impostos em setembro.
A medida, juntamente aos impostos mais altos sobre as exportações de produtos agrícolas impostos no fim de semana, ressalta as mudanças políticas sob a nova administração do peronista de centro-esquerda Alberto Fernandez, que assumiu o cargo presidencial na semana passada após derrotar o conservador Mauricio Macri.
O novo chefe de gabinete da Argentina, Santiago Cafiero, disse no fim de semana que um projeto de lei seria enviado ao Congresso para aumentar os impostos sobre bens e serviços adquiridos em dólares americanos. Ele disse à uma rádio local que a porcentagem pode chegar a 30%, mudando declarações anteriores, de que seria em torno de 20%.
A taxa de turismo, que será aplicada a todas as despesas incorridas com cartão de crédito no exterior, está incentivando os argentinos a estocarem dólares, já escassos devido aos rígidos limites impostos às compras oficiais da moeda norte-americana.
"As pessoas que podem comprar (dólares) estão comprando agora para gastá-los mais tarde", disse um operador.
A medida visa estabilizar o peso, que perdeu mais de 80% de seu valor nos últimos quatro anos sob o ex-presidente Macri. O peso fraco, por sua vez, provocou altos níveis de inflação.