Economia do Brasil muda de rota, passa a ser liberal e o câmbio recua para R$ 3,74
Pensamento liberal deve guiar a equipe econômica de Bolsonaro (Ag. Brasil)
A equipe econômica do presidente eleito, Jair Bolsonaro, definiu nomes capazes de levar adiante as propostas que devem sustentar o governo baseadas no pensamento liberal, rigor na busca pelo equilíbrio das contas públicas, controle da inflação e mudanças na estrutura estatal, incluindo projetos de privatizações. A avaliação é de economistas ouvidos pela Agência Brasil, que destacam ainda a preocupação em evitar rupturas e dar continuidade a aspectos considerados positivos, como a condução do Banco Central e do Tesouro Nacional.
Ontem (15), foi anunciado que o economista Roberto Campos Neto será o próximo presidente do Banco Central e que Mansueto de Almeida será mantido no Tesouro Nacional. Anteriormente, a equipe de Paulo Guedes, que comandará o superministério da Economia, confirmou Joaquim Levy para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O professor de economia do Insper Otto Nogami disse à Agência Brasil que a nova equipe deverá adotar medidas menos intervencionistas do que a anterior.
“A gente começa a observar, principalmente dentro da estrutura interna do Ministério da Fazenda, uma gradativa mudança do pensamento econômico. Nós estamos saindo de uma característica mais keynesiana, que seria mais intervencionista, com uma forte participação do Estado na atividade econômica, para um pensamento liberal muito bem claro e definido.”
O coordenador da graduação em economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, destaca a adoção de uma “política ortodoxa” cuja preocupação está no equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação. “Então é uma equipe, como a do governo atual, que se precisar, pode aumentar os juros, sim, para reduzir o nível de inflação. É o que a gente chama de política ortodoxa.”
Articulação política
Nogami disse que para ter sucesso a nova equipe também precisará trabalhar em conjunto com bons articuladores políticos. “Há a necessidade que essa equipe construa uma ligação mais estreita com o Congresso. Haveria necessidade que essa equipe tivesse alguém com facilidade de trânsito dentro do Congresso Nacional para ir articulando nos bastidores essas necessidades que a equipe vai exigir.”
Para Sampaio, a tendência é de Paulo Guedes defender a redução do papel do Estado. “O Paulo Guedes tem um perfil mais agressivo, ele é muito mais liberal. Na prática não vai mudar muito. Muita coisa tem que ter aprovação, tem que passar pelo Congresso”, disse. “No [setor] público você não faz o que você quer, faz o que você pode. Talvez isso seja um choque de realidade para ele.”
Nogami disse que a nova gestão deve buscar outras mudanças na estrutura estatal para estabilizar as contas públicas. “Nós chegamos a uma situação crítica de quase 5% do PIB [Produto Interno Bruto] deficitário. Isso vai envolver uma reforma administrativa, não só previdenciária. Pode ser que haja um encaminhamento também para a reforma tributária dada a caraterística dos integrantes dessa nova equipe que, isoladamente, já comentaram várias vezes que haveria necessidade de uma simplificação do sistema de arrecadação do país.”
Sampaio acrescentou que um teste de fogo para o novo governo será a negociação em torno do acordo para aprovar a reforma da Previdência. Para ele, alterações nas regras de aposentadoria teriam de ser feitas já no início do governo. “Passar a reforma, além de aliviar a questão fiscal, ela dá um sinal importante. Dá um sinal político de apoio ao governo. Seria muito estratégico para eles conseguirem isso no primeiro ano.”
Continuidade
Sampaio e Nogami destacam ainda que há semelhanças entre os nomes atuais do governo Michel Temer e os escolhidos por Bolsonaro. “O Roberto Campos é muito parecido em termos de carreira com o Ilan [Goldfjan, atual presidente do Banco Central]”, analisou Sampaio.
Para Nogami, a decisão de manter Mansueto de Almeida como secretário do Tesouro Nacional é uma sinalização de continuidade. “A própria manutenção do Mansueto alinha bem nessa direção.”
Executivo do banco Santander e neto do ex-ministro Roberto Campos, Campos Neto substituirá Ilan Goldfajn, que não aceitou o convite para permanecer no cargo. Formado em economia, com especialização em finanças, pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Campos Neto tem 49 anos.
Entre 1996 e 1999, ele trabalhou no Banco Bozano Simonsen, onde ocupou os cargos de operador de Derivativos de Juros e Câmbio, operador de Dívida Externa, operador da área de Bolsa de Valores e executivo da Área de Renda Fixa Internacional. De 2000 a 2003, trabalhou como chefe da área de Renda Fixa Internacional no Santander Brasil.
Em 2004, ocupou a posição de Gerente de Carteiras na Claritas. Ingressou no Santander Brasil em 2005 como operador e, em 2006, foi chefe do setor de Trading. Em 2010, passou a ser responsável pela área de Proprietária de Tesouraria e Formador de Mercado Regional e Internacional.
Para assumir o cargo de presidente do Banco Central, Campos Neto precisa ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e ter seu nome aprovado. O plenário da Casa também precisa referendar a indicação. O cargo de presidente do Banco Central tem status de ministro.
O avô do futuro presidente do BC, o economista Roberto Campos, comandou o Ministério do Planejamento no governo Castelo Branco, de 1964 a 1967. Nesse período, ele foi um dos idealizadores e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de agosto de 1958 a julho de 1959.
Tesouro
No comando do Tesouro Nacional desde abril deste ano, Mansueto Almeida é técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi coordenador-geral de Política Monetária e Financeira na Secretaria de Política Econômica no Ministério da Fazenda, entre 1995 e 1997; assessor da Comissão de Desenvolvimento Regional e de Turismo do Senado Federal, de 2005 a 2006. De 2014 a 2016, foi consultor privado.
Assim que Michel Temer assumiu a Presidência da República, em maio de 2016, Mansueto Almeida ocupou a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda. Posteriormente, a Seae foi desmembrada, e Almeida comandou a Secretaria de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria (Sefel). Quando o ministro Henrique Meirelles deixou a Fazenda para disputar as eleições presidenciais, Almeida passou a chefiar o Tesouro Nacional. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo, Almeida começou a cursar doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Em reação à nova equipe econômica, dólar cai e Bovespa sobe 2,96%
O mercado financeiro reagiu ao anúncio dos novos nomes da equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro, com a cotação da moeda norte-americana encerrando a semana em queda e o índice B3, da Bolsa de Valores de São Paulo, registrando alta no fechamento do pregão. O dólar comercial fechou a semana em baixa de 1,28%, cotado a R$ 3,7372 para venda, mantendo a tendência de queda nos últimos pregões da semana. A moeda norte-americana ainda acumula uma valorização de 14% no ano em relação ao real.
O índice B3 terminou o pregão desta sexta (16) em forte alta de 2,96%, com 88.515 pontos. As ações das grandes companhias, chamadas de blue chip, seguiram a tendência com Petrobras encerrando a semana em valorização de 2,91%, Vale com mais 1,70%, Itau subindo 3,05% e Bradesco em alta de 4,28%. Os papéis da Eletrobras também fecharam com destaque positivo, com alta de 8,60%.
Atividade econômica cresce 1,74% no terceiro trimestre
A economia brasileira registrou crescimento no terceiro trimestre deste ano. A expansão, calculada pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) dessazonalizado (ajustado para o período), divulgado hoje (16), chegou a 1,74% na comparação com o segundo trimestre. Em setembro, comparado a agosto, houve queda de 0,09%.
Na comparação com o terceiro trimestre de 2017, o crescimento do IBC-Br chegou a 1,72%. No ano, o IBC-Br registra expansão de 1,14% e, em 12 meses encerrados em setembro, o crescimento de 1,45%.
O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica brasileira e ajudar o Banco Central a tomar suas decisões sobre a taxa básica de juros, a Selic.
O índice incorpora informações sobre o nível de atividade dos três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária, além do volume de impostos. Mas o indicador oficial sobre o desempenho da economia é o Produto Interno Bruto (PIB – a soma de todas as riquezas produzidas pelo país), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por que o ambiente de negócios brasileiro precisa melhorar, diz Otaviano Canuto (no Poder360)
O ambiente de negócios brasileiro, ou seja, o contexto em que as empresas operam no país, melhorou do ano passado para cá. Pelo menos a julgar pela subida de posições no relatório “Doing Business” do Banco Mundial, no qual o Brasil passou do 125º para o 109º lugar. Vale realçar o pequeno encolhimento da distância do Brasil em relação à fronteira de “melhores práticas” entre os 190 países incluídos no ranking.
Conforme já abordamos nesse espaço, um ambiente de negócios desfavorável como o brasileiro afeta negativamente a produtividade no país e a competitividade externa de suas empresas. O relatório “Doing Business”, elaborado anualmente pelo Banco Mundial, compara tempos e custos que uma típica empresa de cada país é obrigada a encarar para operar ao longo de seu ciclo de vida. Como evidenciado por Marcelo Curado e Thiago Curado, a qualidade do ambiente de negócios em um país está entre os determinantes de seu crescimento econômico.
O relatório do Banco Mundial vem indicando ano após ano como uma típica empresa brasileira é obrigada a gastar recursos humanos e materiais em atividades que não geram valor. Isso implica, além de ônus para as empresas¸ subtração de produtividade no uso do conjunto de recursos produtivos na economia como um todo.
Reformas implementadas em 4 áreas explicam a recente melhora brasileira. O registro e licenciamento online de empresas reduziu o tempo e os custos de se abrir uma empresa em São Paulo e Rio de Janeiro, as duas cidades brasileiras usadas como referência pelo Banco Mundial para o Brasil.
O aprimoramento das informações disponíveis para credores, por seu turno, tornou mais fácil o acesso ao crédito. Com os certificados de origem digitais, importar mercadorias tornou-se mais rápido. O relatório também capturou o aumento no nível de confiabilidade no fornecimento de eletricidade em São Paulo permitido pelos investimentos em redes inteligentes (“smart grids”).
A subida no ranking não foi maior porque muitos outros países já priorizaram há algum tempo a redução da ineficiência decorrente de ambientes de negócios desfavoráveis e vêm implementando reformas para melhorá-los. O ponto que gostaríamos de enfatizar é a importância de se aprimorar o ambiente de negócios por si só, em termos absolutos, diminuindo-se assim o ônus em termos de desperdício de recursos.
A posição em rankings é mera consequência da situação relativa de um país no que diz respeito aos indicadores monitorados pelo “Doing Business”, enquanto o nível absoluto de ineficiência é o que afeta a produtividade no país.
A distância absoluta do Brasil em relação à fronteira de eficiência nos diversos indicadores do relatório permanece grande e se impõe a necessidade de avaliar para onde envidar esforços de reforma no futuro próximo.
Um item óbvio é o sistema tributário, cuja complexidade onera em muito a simples tarefa de cumprir com suas obrigações e, não por acaso, o Brasil ocupa a 184ª posição entre os 190 países nesse item do “Doing Business”. Reduzir as elevadas barreiras ao comércio com o exterior também oferece elevado prêmio em termos de maior produtividade e crescimento.
Nesse contexto, cabe destacar também os ganhos a ser derivados de reformas no mercado de crédito, nas quais passos importantes têm sido dados recentemente e outros estão prontos para tal.
Além da duplicata eletrônica recém aprovada, há que se concluir a tramitação pelo Congresso do Cadastro Positivo, cujos reflexos sobre avaliação de riscos e spreads bancários serão favoráveis. Um novo projeto de lei para insolvências também está na ordem do dia, complementando a reforma truncada que ocorreu na primeira metade do decênio passado.
Abertura de espaço para maior concorrência na oferta de serviços creditícios no varejo, inclusive via fintechs, também contribuiria para melhorar os termos de acesso ao financiamento. A facilitação de tal acesso, em base sustentável e não dependente de favores do setor público, não apenas melhorará o ambiente de negócios, como poderá reforçar a base para maior crescimento econômico.
A propósito de reformas estruturais com efeito positivo sobre o crescimento econômico brasileiro, vale notar um trabalho recente de pesquisa realizada por dois técnicos do FMI, Nina Biljanovska e Damiano Sandri, divulgado no mês passado, em que os autores examinaram o impacto de diferentes reformas sobre a produtividade no país.
Seus resultados apontam as reformas no setor bancário como aquelas contendo máximo potencial de resultados, além de contarem com máxima probabilidade de apoio popular. Parte do que os autores incluem como reformas no setor têm sido implementadas no passado recente, tais como encolhimento da intervenção estatal na alocação de crédito e da presença de grandes bancos públicos.
Resta, porém, reduzir os custos e riscos nas operações de financiamento entre agentes privados.
Que prossiga a agenda de reformas para aprimorar o ambiente de negócios brasileiro. Independentemente dos rankings no “Doing Business”, a produtividade e o crescimento econômico brasileiro serão os maiores beneficiários.