Fui vítima de 2 violências, por João Batista Olivi

Publicado em 23/03/2018 10:10
Enquanto o STF me iludia, o bandido encostou o cano frio da Glock G25 na minha cabeça...
Confira depoimento de João Batista Olivi - Jornalista

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Fui vítima de 2 violências, por João Batista Olivi

 

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Ontem, como está aí no título, enquanto o STF livrava Lula de ser preso (e, por tabela, enterrava a Operação Lava Jato), eu e minha família fomos vítimas da realidade. Como a maioria dos brasileiros, sinto-me hoje decepcionado com nosso País. Claro que não é de agora... Mas ainda tenho esperança que ontem só perdemos apenas um batalha..., sim, foi uma grande batalha, mas não a guerra...  Enfim, vamos ao que aconteceu ontem...

Vou começar pelo segundo caso, o do impacto da realidade...

Logo após o encerramento da votação do STF fui pra minha casa, não longe aqui da redação do Notícias Agrícolas, em Campinas.

Não era ainda 8 da noite. Em casa, a Vera, minha mulher, e minha filha, a Ana Teresa, que já se preparava pra dormir. (Ela sofre de uma síndrome, e costuma se recolher cedo)...

Moro numa casa simples, num bairro de classe média, de ruas escuras e vizinhança arredia... Num dos quartos, transformado em escritório, enquanto ligava meu notebook pra atualizar as últimas, ouvi meu filho mais novo, Rafael, chegando com a nora, a Nádia... Lembro que estranhei a demora até a sala... normalmente o Rafael fala alto, barulhento... Não passaram mais do que alguns segundos... E irrompe pelo quarto-escritório um sujeito alto, pardo, magro, cabeças encapuzada (mas rosto descoberto), com uma pistola na mão direita, em direção ao meu rosto...

Quem já passou por esse trauma sabe que é tudo muito rápido, como se fosse uma vertigem...

Na hora imaginei que fosse uma "pegadinha" armada pelo Rafael.. Falei pro estranho:

-- "Isso é uma brincadeira, não é?"

O bandido fechou a cara, e ríspido mandou eu ficar calado...

Quando senti o cano frio de uma pistola que aparentava ser uma Glock encostada na minha cabeça percebi que a coisa não estava para brincadeira...

Fui empurrado para a sala. No corredor estava outro sujeito, atarracado, encapuzado. Notei que todos falavam baixo (claro, pra não chamar a atenção da vizinhança).

Foi chocante ver toda a família emparedada. Rafael já amarrado, tentava acalmar a Nádia -- que vítima de outro assalto violento, demonstrava todo o trauma naquele momento. Ana Teresa, assustada, tremia muito. Mas a preocupação era coma Vera. Cardíaca, recém-operada, minha mulher respirava com dificuldade...

Bom, resumindo, só conseguimos segurar um pouco dos remédios da Vera. Perdemos todos nossos bens de valor... e os sem valor (mas de muita estima) também foram levados. Depois, passado o trauma, a gente ficou se perguntando: por que levaram nossas fotos, as mais antigas, as que registraram o crescimento de nossas crianças. O que vão fazer com isso?? Levaram até mesmo os talheres (de pouco valor, mas, claro, de muita serventia)...

Agora de manhã, enquanto escrevo, vou relembrando essa meia hora de terror em que os estranhos estiveram dentro de nossa casa, ameaçando nossa família.

Os policiais que me atenderam (surgiram 3 carros da PM, com muita presteza) não nos deram muita esperança, porém. A comandante dos soldados, uma mulher rígida e econômica nas palavras, teve o cuidado de acalmar a Vera, mas foi muito clara... A violência está em todo lugar, disse ela, sem meias palavras...

Ficamos quase que conformados por estarmos vivos, sem marcas, sem machucaduras... Não fomos "esculachados", como dizem os bandidos.

Mas enquanto eles agiam minha mente funcionava... Via o rosto assustados dos comparsas, jovens, todos jovens, pardos, todos pardos... Não deveriam, claro, estar ali. Deveriam estar numa sala de aula, na faculdade, talvez na Unicamp... No mínimo, deveriam estar com a família. O que levou nossos talheres certamente iria presentear alguém com o produtor do roubo, talvez a sua própria mãe...

E na minha mente ressoa, enquanto passava aquelas cenas de terror, as palavras da presidente do Supremo Tribunal Federal, a ministra Carmen Lucia, dizendo que a defesa de Lula representava a defesa de todos os cidadãos brasileiros.

"Todos os cidadãos têm o mesmo direito, de proteção, ao recorrer ao Supremo", dizia a presidente. Ao ouvir, até me senti reconfortado. Sim, penso eu, o direito individual é o direito de toda a sociedade. Mas, em seguida, Gilmar Mendes me trouxe à realidade. Disse o ministro Gilmar: "Ninguém pode estar acima da Lei, mas também não pode ficar sem a Lei"...  Puxa, pensei, bom seria se isso fosse totalmente a verdade, se todos pudessem contar com tão bons advogados como tem à disposição o cidadão Luís Ignácio Lula da Silva...

Mas quando se tem uma Glock encostada na cabeça, a conversa é outra.

Hoje posso dizer que não vou mudar um milímetro a minha luta por uma país melhor, mais justo, mais próspero... só agora tenho outra certeza..., a de que todos nós perdemos uma grande batalha ontem, mas não a guerra pela recuperação moral do nosso País. E quando digo que todos nós perdemos incluo aí os petistas, os esquerdistas, e o próprio Lula... Ele sabe que a Lei é igual pra todos..., mesmo ele que se aproveita das brechas da Lei para impor a miséria moral entre nós. Lula sabe que tudo tem limite. E seus dias estão contados. O Brasil é outro, apesar dos nossos traumas...

Por: João Batista Olivi
Fonte: Notícias Agrícolas

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