Milho: produtor deve buscar liquidez e converter o grão em caixa neste cenário baixista, recomenda o analista Anderson Galvão

Publicado em 07/04/2020 11:33 e atualizado em 07/04/2020 16:48
Cotações superaram o patamar dos R$ 60,00 a saca e agora devem iniciar curva descendente pressionada cenário de baixa demanda e chegada da safrinha ao mercado
Anderson Galvão - Analista - Céleres Consultoria

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Milho: produtor deve buscar liquidez e converter o grão em caixa diante de cenário baixista, recomenda o analista Anderson Galvã

 

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O Brasil terminou 2019 e entrou em 2020 em um cenário de escassez de milho no mercado interno devido à demanda super aquecida, seja na produção de ração, no setor do etanol e ou nas exportações que fecharam o ano batendo recordes de volume. Além disso, o câmbio, com o real desvalorizado também ajudou aos preços internos do cereal superar a barreira dos R$ 60,00 a saca neste primeiro semestre.

A partir de agora o panorama é outro. Segundo o analista de mercado da Céleres Consultoria, Anderson Galvão, a chegada da segunda safra no segundo semestre e as incertezas de demanda em meio a pandemia do Coronavírus iniciam um cenário baixista.

“Com câmbio ou sem câmbio, com COVID ou sem COVID, o fato é que a safra que está nos campos agora tudo indica que vem muito cheia. O agricultor foi incentivado por preços muito bons e aumentou a área e a tecnologia e, com clima favorável, tudo indica que vamos para uma safra recorde novamente. Esse quadro de escassez de milho vai ficando para trás”, diz Galvão.

O analista destaca ainda que o contexto de pandemia traz ainda outras complicações como o derretimento dos preços internacionais do petróleo e seus desdobramentos no setor de biocombustíveis. Inclusive os Estados Unidos já fecharam diversas plantas de etanol devido a falta de demanda.

Diante dessa leitura, a recomendação de Galvão é que o produtor brasileiro busque se capitalizar e converter seu estoque de milho em caixa. “A recomendação hoje para aquele produtor que tem milho é capitalize, converta caixa e preserve liquidez. Eu acho que agora é a hora de liquidar posições em milho e fazer caixa”.

Outro ponto que pode influenciar na desaceleração da demanda é uma possível diminuição no consumo interno de carnes, como reflexo das dificuldades econômicas advindas do Coronavírus. Apesar disso, Galvão aponta que a demanda chinesa começa a ser retomada e pode vir a compensar essa queda interna.

Olhando para as exportações, o analista considera como normal a diminuição nos embarques do cereal brasileiro nestes primeiros meses de 2020, já que historicamente é dado prioridade à soja neste momento nos portos, e acredita que as exportações de milho devam ganhar tração no segundo semestre após a colheita da segunda safra.

Confira a entrevista completa com o analista de mercado da Céleres Consultoria no vídeo.

Indústria de carnes do Brasil precisará de mais milho importado a partir de maio (Reuters)

SÃO PAULO (Reuters) - Parte das indústrias processadoras de carnes de frango e suínos do Brasil precisará buscar mais milho no exterior a partir do mês que vem, dado o alto patamar de preços internos da principal matéria-prima do setor, estimaram a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e outros participantes do mercado.

A importação poderá ter origem na Argentina e Paraguai, tradicionais fornecedores quando a oferta aperta no Brasil, ou mesmo nos Estados Unidos.

O preço do milho no mercado físico superou 60 reais a saca de 60 kg na semana passada, maior valor nominal da história, segundo o centro de estudos Cepea, após o país começar o ano com baixos estoques depois de exportações recordes em 2019.

"Monitoramos o mercado e o termômetro nos indica necessidade de importação já em maio. A primeira safra (2019/2020) foi muito ruim por causa da seca, a oferta está baixa e os preços muito elevados", disse o presidente da ABPA, Francisco Turra.

No momento, o país colhe a primeira safra de milho, mas uma frustração pelo clima no Rio Grande do Sul ajudou a sustentar os preços no Brasil, que terá de aguardar a produção da segunda safra chegar ao mercado, somente em meados de junho --a produção do cereal de inverno é a maior do país, respondendo por 75% da colheita total, estimada em cerca de 100 milhões de toneladas.

O milho importado da Argentina e Paraguai chega a ter preços competitivos para algumas indústrias do Sul do Brasil, em relação ao produto vindo do Centro-Oeste devido ao custo de transporte, mesmo com o câmbio oscilando a níveis recordes.

A divisa norte-americana acompanha um movimento de alta global, diante de evidências crescentes de que o mundo já está em uma recessão de grande magnitude.

O dólar à vista fechou a 5,2918 reais na venda e tem oscilado perto de máximas históricas em sessões anteriores.

Turra explicou que, como as moedas da Argentina e Paraguai estão ainda mais enfraquecidas que o real em relação ao dólar, o valor do milho se manteve atrativo para o comprador brasileiro, que já importou o grão em anos anteriores.

"(Com este câmbio) é complicado importar milho dos Estados Unidos. As indústrias do Nordeste sempre precisam trazer alguns volumes de lá, nesse ano ainda não fizeram, mas esta possibilidade não está descartada para breve, principalmente se a safrinha não vier cheia."

O analista da consultoria Agrifatto, Yago Ferreira, alerta que o contrato de milho na Bolsa de Chicago atingiu 3,28 dólares por bushel nesta segunda-feira, o que, segundo ele, representa 40,60 reais por saca, valor abaixo dos 48,79 reais por saca que o cereal está sendo precificado na B3 atualmente, para entrega em maio.

"Isso por si só já justificaria o fato de que a importação deveria ser posta em pauta pelos consumidores internos", disse o analista.

Ferreira ressaltou que a segunda safra de milho do Brasil, que está no campo, só chega ao mercado em meados de junho. Ainda que a produção seja boa, deixa um hiato de oferta e demanda entre abril e maio, em algumas regiões do país com baixa oferta na primeira safra.

Em linha com as projeções do mercado, a Agrifatto espera que o país colha 73 milhões de toneladas de milho na safrinha de 2019/2020, queda de 3,31% ante a safra passada.

O agrometeorologia da Rural Clima, Marco Antônio Santos, previu na segunda-feira que uma frente fria provocará chuvas em regiões produtoras do grão da safrinha no Brasil, neste mês, que devem beneficiar as lavouras.

Sobre a importação de milho norte-americano, o analista da Agrifatto considera a hipótese factível, pois a primeira safra brasileira, provavelmente, não será suficiente para reduzir o preço interno a ponto de deixá-lo mais competitivo que o milho que está nos estoques dos EUA.

"Com o problema de demanda nos EUA (quarentena e crise do petróleo), o esmagamento de milho tende a ter uma forte redução, ou seja, abre mais espaço para (a importação do) milho norte-americano."

 

COMPRAS EXTERNAS

Somente no primeiro bimestre de 2020, as importações de milho do Brasil saltaram cerca de 235% em relação ao mesmo período do ano passado, para 283,73 mil toneladas, com o Paraguai respondendo quase pela totalidade do cereal importado, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.

A JBS, detentora da Seara que atua nas áreas de aves e suínos, foi uma das companhias do setor de carnes que contribuiu para a aquisição deste montante.

A companhia disse à Reuters que negociou cerca de 100 mil toneladas de milho argentino com escala de recebimento em três cargas mensais, sendo a terceira prevista para maio de 2020.

"Os altos custos do milho brasileiro verificados nos últimos meses têm exigido a adoção de medidas alternativas de aquisição do cereal no mercado externo."

A decisão da JBS está baseada na melhor competitividade apresentada na importação do cereal argentino em relação ao custo atual do grão no Brasil, acrescentou a empresa em nota.

Além das 100 mil toneladas de milho que chegarão para a JBS até maio, outras 100 mil foram importadas pela companhia anteriormente e estavam previstas para chegarem ao país até março, disse uma fonte com conhecimento sobre o assunto sob condição de anonimato.

A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, ainda tem mantido as negociações de compra de forma regular e não houve quebra no fornecimento de insumos no Brasil, segundo manifestação da empresa na última semana.

Apesar de não ter optado pela importação neste ano, a BRF não descarta totalmente esta possibilidade, monitora constantemente as condições de preço do mercado e pode optar pelo que for mais competitivo para a empresa, disse à Reuters outra fonte que não quis se identificar.

Por: Guilherme Dorigatti
Fonte: Notícias Agrícolas

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