Enquanto colheita evolui no RS, preços são pressionados e já não cobrem custo de produção no trigo
No mercado internacional, o trigo vive dias de pressão na Bolsa de Chicago, ao mesmo tempo em que, no Brasil, a evolução da colheita vem trazendo algumas "surpresas desagradáveis" no que diz respeito ao preço pago para o produtor.
De acordo com o analista Vagner Schneider, da De Baco Corretora de Mercadorias, o mercado internacional possui uma superoferta que gera o maior estoque de passagem dos últimos anos e está indo para o maior estoque mundial da história. "Temos hoje um estoque de 245 milhões de toneladas. Com uma safra que deve ser de 739 milhões de toneladas, os estoques devem finalizar em 254 milhões de toneladas", diz.
Além disso, o mercado também se prepara para receber o trigo da Argentina e da Austrália, sendo assim pressionado pela entrada dessas safras. Os países do Mar Negro também precisam ofertar seu trigo até dezembro - se existir demanda, portanto, o mercado deve se abastecer desses produtos ou aguardar a produção dos países que estão colhendo agora.
O mercado interno brasileiro também enfrenta um problema de superoferta. Segundo Scheider, "o mercado praticamente atingiu o piso". Os preços variam de R$500 a R$600 a tonelada. Os moinhos não possuem condição de armazenar toda a safra, devendo, portanto, haver um excedente de 1 milhão de toneladas no Rio Grande do Sul. "Os moinhos não têm condição de moer isso no ano todo", conta.
A saída seria escoar essa safra, mas a diferença teria que ser bancada pelo Governo Federal por meio dos leilões de Pepro. "Vi uma notícia na quinta-feira de que sairiam esses leilões, mas não acredito que isso se efetive. Tem mais efeitos políticos do que financeiros essa medida".
Entretanto, há uma parcela positiva: a produtividade alcançada no Brasil é boa, com lavouras trazendo bons resultados. É uma safra de qualidade para os padrões do Rio Grande do Sul, como aponta o analista.
No consumo interno para ração, a preferência ainda é o milho. Há uma perspectiva de que, se o preço do milho recuar mais na safra e tiver uma grande oferta de trigo, com preços mais baixos para o cereal também, "pode ser interessante o mercado buscar trigo para a ração, mas isso não vai resolver o problema do grande volume de safra no Rio Grande do Sul", finaliza.