Mercado do trigo travado. Compradores apostam em safra cheia e evitam negócios. Vendedores esperam melhores preços pelo produto
Com a expectativa de grande produção na safra 2015/16 compradores e vendedores estão evitando os negócios na espera de melhores ofertas de trigo.
Os comprados que ainda possuem estoques estão retraídos no mercado, enquanto os vendedores estão de olho na paridade de exportação, haja vista que "um dólar que hoje está próximo de R$ 3,12 encarece as exportações e possibilidade uma elevação das cotações dentro do mercado brasileiro", explica Élcio Bento, analista da Safras & Mercado.
A Emater informou nesta quinta-feira (11) que a última semana foi de clima favorável para o avanço da semeadura de trigo no Rio Grande do Sul. De acordo com o boletim divulgado pela entidade, as condições do solo voltaram ao nível ideal e os produtores intensificaram o plantio nos últimos dias. Com o isso, a área plantada no Estado subiu de 15% para 26% do total previsto - apesar do avanço, o desempenho ainda fica atrás da média para o período, de 29%.
Segundo Élcio, mesmo que o clima tenha favorecido as atividades de campo, tanto no estado gaúcho quanto no Paraná, o risco de uma quebra de safra ainda não está descartado, portanto a estratégia adotada pelos compradores neste momento pode ser arriscada, já que as condições que as lavouras vão se desenvolver ainda está indefinido.
Do outro lado do mercado, os vendedores estão atentos à paridade de exportação com relação aos outros países da América Latina. A pressão nos preços da produção do Mercosul deve vir nos próximos meses do Paraguai. De acordo com Bento, os países da América Latina devem somar uma produção de 16,2 milhões de toneladas, contra 13,2 milhões de toneladas na temporada passada.
"O que teremos de diferente neste ano comercial, em termos de Mercosul, é que nos últimos três anos o Brasil sempre teve uma necessidade de importação superior ao saldo exportável dos países do Mercosul. Quando isso acontece é necessário ir para hemisfério norte e pagar mais pelo trigo, mas nessa safra 2015/16 pode não acontecer", explica o analista.
Esse fator deve limitar uma elevação mais acentuada das cotações no mercado internacional, que atualmente trabalham em campo negativo após a divulgação do relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A expectativa do mercado era de uma redução de produção mais significativa, no entanto o relatório trouxe uma diminuição menos expressiva que mantém o cenário de oferta mundial em alta.
Para o analista, as cotações no mercado internacional devem trabalhar com o suporte próximo a US$ 4,80/bushel e uma resistência em US$ 5,40/bushel. "E no mercado brasileiro, em se mantendo esse potencial de produção acima de 7 milhões de toneladas, nós teremos no período da safra uma pressão sazonal sobre as cotações", considera.