Greve dos caminhoneiros transparece a dependência da economia brasileira do modal rodoviário e todas suas deficiências

Publicado em 03/03/2015 13:19
Alta de R$ 0,15 no preço do litro do óleo de diesel impacta em uma alta de, pelo menos, 2%, no custo dos caminhoneiros e revisão do valor é determinante para que a atividade continue sendo viável para os profissionais. Frete mínimo não sinaliza solução ou facilidade de implementação. Movimento transparece a dependência da economia brasileira do modal rodoviário para o escamento de sua produção.

No Brasil o modal rodoviário é determinante no escoamento da produção agropecuária - sendo responsável por 60% das movimentações de carga em todo o país, e com a  greve dos caminhoneiros houve uma paralisação na economia nacional.

"É importante comentar a relação entre custo de transporte e preço de frete - que tem balanceado essas discussões em torno das reivindicações. E hoje os custos de transporte são formados por uma série de componentes do caminhão, entre eles o custo de capital, custo de depredação e o custo do combustível. Hoje o diesel representa cerca de 30% do custo total", explicou Thiago Guilherme Péra, coordenador do grupo de pesquisa em logística da Esalq (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz").

Dessa forma, um reajuste positivo na ordem de 6% no preço do diesel - como tem acontecido nos últimos meses - impacta um aumento nos custos de transporte de quase 2%, afirma Péra.

"No caso do frete rodoviário, ele é formado por oferta e demanda, e no mercado de frete agroindustrial que é altamente concorrencial - apresentando volatilidade de preço durante o ano - é comum acompanhar durante os períodos de safra e entre safra um aumento de 20% a 40% nos preços, sendo que em algumas épocas do ano ele pode estar abaixo do custo de transporte", explica.

Para Péra, é esse cenário que motiva as reivindicações dos caminhoneiros. Porém, em um mercado altamente concorrencial o tabelamento dos preços de frete é complicado de aplicar, pois para acontecer os dois lados - embarcadores da carga e transportadores - precisam aceitar o mesmo valor proposto, além de realizar uma fiscalização sobre a aplicação desses valores.

"Em janeiro deste ano, o Mato Grosso tentou estabelecer uma política de tabelamento de frete, com preço mínimo, mas não deu certo, porque o embarcador não aceitou pagar por esse frete e as transportadoras ficaram sem carga, e consequentemente alguns agentes de transporte aceitaram o valor de frete abaixo do estabelecido pela tabela mínima", declarou o coordenador.

Outra questão referente às reivindicações é a Lei dos Caminhoneiros - aprovada sem nenhum veto na noite de ontem (02) - que, para Péra, deve aumentar a produtividade do transporte e reduzir os custos, garantindo uma melhor margem de setor, como por exemplo, a aplicação de tolerância para o sobrepeso causando reajuste de até 7% no valor dos fretes. "No caso das transportadoras, elas tem condições de parar para renegociar, quando o preço do frete não está atrativo", declara.

Além disso, a expectativa com o pico de safra é que os preços do frete sofram reajustes significativos, e existe grande esperança do setor de transporte sair vitorioso nas revindicações da greve.

 

Por: Carla Mendes e Larissa Albuquerque
Fonte: Notícias Agrícolas

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