Relatório do USDA priorizou dados de oferta e deixou de computar a força da demanda. Chicago pode voltar a subir a partir de fevereiro
Desde a última segunda-feira (12), dia em que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou seu novo boletim de oferta e demanda, o mercado da soja vem passando por baixas consecutivas e, para o consultor de mercado do SIMConsult, Liones Severo, o órgão não computou o desempenho do consumo.
"O USDA sonegou exatamente a projeção que deveria ser atualizada, que é real, e ajustou os números de oferta com um provável número de projeção brasileira, que aumentou também. Ficou muito característico isso", explicou Severo.
No entanto, apesar dessa postura já conhecida do USDA, "de inflar possibilidades", o mercado físico da soja considera esses números da demanda e já trabalha descolado dos negócios de Chicago.
O consultor afirma que a força e o crescimento assumidos pela demanda mundial por soja na atual temporada são fundamentados, principalmente, pelos números vindos da China, país com um crescimento econômico expressivo e mudanças visível nos hábitos, especialmente alimentares, de sua população com um consumo maior de proteína animal, por exemplo.
Em 2014, as exportações chinesas ficaram em 71,4 milhões de toneladas, 12% a mais do que o registrado no ano anterior e, para 2015, a projeção do USDA é de que as compras somem até 74 milhões de toneladas, o que já mostra um aumento de 5% em relação ao ano passado. "Mas, na atualidade, os embarques norte-americanos para a China estão 22% mais altos do que os do ano passado e isso, com certeza, não foi levado em consideração", diz Severo, que acredita que as importações podem chegar a 80 milhões.
Além disso, a capacidade de processamento de soja do país foi ampliada e isso - de algo entre 53 a 57% para 70 a 90%, certamente, irá demandar mais soja importada. Como se não bastasse, a China é ainda o único país, segundo explica o consultor, com capacidade de portos para receber esse produto exportado pelos principais produtores.
Paralelamente, Liones Severo acredita que o aumento da oferta mundial de soja vem em decorrência de um consumo maior, ou seja, de uma demanda que vem exigindo esse produto. "Os números são todos relativos. Um estoque final americano de 7 milhões de tonelada pode ser mais crítico do que o de 3 milhões de toneladas do ano passado", diz.
Evolução de Preços
No ano passado, o mercado físico da soja chegou a pagar de 30 a 405 acima dos valores praticados em Chicago e isso indica que esse mercado estava curto de produto e isso deve acontecer nessa nova temporada também.
A demanda pela soja, que é o maior alimento da humanidade, está constituída, e, a diante, as cotações devem reagir e se ajustar aos fatos. "A partir do movimento de vendas da soja é que se dá continuidade à toda a cadeia (...) E a demanda mundial por alimentos é evolutiva e crescente, principalmente pelo advento da Ásia", mostra o consultor. "A oferta é consequência da demanda existente", completa.
Além disso, Severo afirma ainda que os preços são dependentes também da capacidade dos produtores de administrarem sua comercialização e de saberem o real valor de seu produto e, para o consultor, não há um alarde verdadeiro para uma baixa significativa das cotações.
Atualmente, os preços da soja no mercado mundial para os principais compradores se mostram US$ 200,00 por tonelada mais baratos do que os do ano passado e isso ao mesmo tempo em que os fretes chegam aos seus níveis mais baixos desde 1990. Um navio para levar a commodity do Brasil à China cobra US$ 24,00 por tonelada, enquanto em 2008 era de US$ 140,00.
"Essa política americana de reprimir os preços vai trazer um grande benefício para o futuro da agricultura brasileira. De 1996 a 2002, os EUA fizeram uma política forte de subsídio e os preços da soja e de todos os produtos agrícolas caíram aos menores níveis da história e isso fez com que eles nos trouxessem a China como consumidor, em 1997, porque os preços eram realmente baixos. E com essa nova depressão nos preços, naturalmente surgirá um novo potencial de consumo em algum outro país", relata Liones Severo.
Com esse cenário, marcado principalmente pela demanda mundial constituída para a soja, o consultor acredita que os preços da soja na Bolsa de Chicago devem voltar a subir a partir de fevereiro e trabalhar acima dos US$ 11,00 por bushel.
No entanto, a variabilidade das cotações no mercado da soja, em um curto espaço de tempo, é a maior entre os mercados e esse movimento deve continuar. "Os investidores elevaram de US$ 9 para US$ 10,80, isso foi razoável então, de US$ 10,00 para US$ 11,50 é muito provável que aconteça", acredita Severo. E o mercado do farelo de soja, que também tem preços mais baratos nesse momento, deve contribuir para esse avanço.