DA REDAÇÃO: Seca em Ipirá (BA) reduz em 1/3 rebanho de gado
Vivemos em Ipirá uma situação calamitosa provocada pela forte seca que desde 2009 castiga todo o semiárido baiano. Considerada como a pior dos últimos cinqüenta anos, esta violenta seca comprometeu toda nossa produção. A estimativa de perdas é alarmante. A agricultura de subsistência desapareceu e a pecuária, sofrendo o acúmulo de três anos sucessivos com precipitação abaixo da média, encontra-se numa situação limite. Os rebanhos que não pereceram de fome ou sede foram vendidos por 1/3 do valor normal. As pastagens foram consumidas até a exaustão e as reservas de palma se esgotaram, assim como as reservas de capital na aquisição de medicamentos, ração e água.
É notória a baixa remuneração da atividade agropastoril das regiões semiáridas devido à forte estacionalidade da produção forrageira. Apesar desta limitação comparativa o “mercado” indistintamente nos cobra produtividade impondo necessidades sempre maiores em investimentos. A própria ”sustentabilidade”, entendida como a manutenção no longo prazo da atividade produtiva, obriga-nos a investimentos. Esta necessidade provocou nosso endividamento junto às instituições financeiras e transformou-se na razão de enormes incertezas com relação ao futuro.
O Sindicato dos Produtores Rurais de Ipirá, com o apoio da FAEB/CNA/SENAR, tem procurado fazer sua parte. A seca ainda não era “notícia” e trabalhamos no sentido de tornar pública a situação. Enviamos carta à SEAGRI, ofícios à CERB, Banco do Brasil e BNB. Encomendamos prognóstico climático divulgado em rádio local, intermediamos entrevistas com representantes da CERB, BNB e CONAB e promovemos encontros entre produtores, BNB, Banco do Brasil, SICOB, ADAB e FAEB. Se estas iniciativas inicialmente serviram para “despertar” às instituições, agravaram também incertezas, à medida que percebemos nossa impotência face às “forças econômicas” e a inconsistência das recentes “medidas emergenciais contra a seca”.
Muitos companheiros já chegaram às raias do desespero. Os prejuízos destes anos ruins, somados ao endividamento e à falta de crédito parecem conduzir-nos à perda de nossa condição de produtores rurais. Como reverter este quadro e buscar a reestruturação financeira se não temos condição nem mesmo de honrar nossas dividas? Como recomeçar do zero, recompor rebanhos e recuperar pastagens, evitando a degradação do solo, “primeiro passo para a desertificação no semiárido”? Como retomar o crescimento em bases sustentáveis e enfrentar a realidade ainda mais difícil das “projeções climáticas” para este século?
A resposta para estas questões são os pleitos:
a) crédito verdadeiramente emergencial, sem as formalidades intransponíveis do PROGRAMA EMERGENCIAL–FNE 2012;
b) apoio na forma de prorrogação/renegociação das dívidas rurais e rebate significativo;
c) anistia para financiamentos contraídos no período da seca;
d) e concessão de crédito novo para investimentos de reestruturação.
Afinal, os prejuízos e perdas desta seca NÃO decorrem de incompetência, imprevidência, negligência ou mal uso de financiamentos contratados. É preciso considerar o caráter excepcional desta seca, um evento climático extremo que pegou o próprio Estado “de calças curtas” (Eng°Manoel Bonfim Ribeiro). É preciso lembrar o instituto da co-responsabilidade entre devedores e bancos oficiais. É preciso lembrar a completa desarticulação dos serviços de assistência técnica na Bahia, além do fato de não ter havido nenhum alerta para a “possibilidade” de seca no sertão baiano (Vide Boletins CPTEC/INPE). E para concluir, lembrar históricas desigualdades regionais citando o “Cientista da Seca” - Eng° Manoel Dantas Vilar Filho:
– Os moradores do semi-árido são credores do Brasil.
José Caetano Ricci de Araujo
Presidente
Sindicato dos Produtores Rurais de Ipirá