No início da colheita, condição do parque cafeeiro ainda é muito preocupante, avalia Guy Carvalho
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Entrevista com Guy Carvalho - Produtor de Cafés Especiais sobre o Acompanhamento da Safra de Café
Confira abaixo o relato completo do consultor Guy Carvalho:
2020 foi um ano muito favorável para a granação e maturação, e o clima seco durante a colheita do café também foi importante, o que trouxe muita qualidade. Porém, a estiagem muito prolongada associada às altas temperaturas afetou drasticamente as lavouras nas principais regiões produtoras do país. As chuvas atrasaram, o que também resultou no atraso das floradas. Além disso, muitas lavouras não resistiram e precisaram ser podadas, aumentando assim a área de poda, e mesmo aquelas lavouras que por algum motivo não foram podadas pelo produtor estão com carga baixíssima, inclusive podendo nem ser colhidas pelo volume irrisório de café.
Como se não bastasse o clima de 2020, 2021 está se caracterizando como um dos piores anos, pois tivemos veranico e altas temperaturas em janeiro e, a partir do 3º decêndio de março para cá, as chuvas simplesmente cessaram. Estamos entrando no período seco do ano com baixas reservas de água do solo.
Eu e outros colegas temos constatado problemas de granação relacionados ao clima seco e quente como grãos com coração negro e chochos, isso deverá comprometer a renda e aumentar o número de litros por saca beneficiada.
O que posso afirmar é que não está fácil produzir café e o cafeicultor precisa rever conceitos de plantio e condução de lavoura de café. “Muitas vezes temos medo do novo, mas é impossível obter resultados diferentes fazendo as coisas da mesma forma que antes. Inovar, além de ser necessário, é uma questão de sobrevivência.”
DAQUI PRA FRENTE
Do ponto de vista agronômico da produção, precisamos pensar em irrigação. Com exceção do período de repouso, que ocorre entre julho e agosto, o cafeeiro precisa de água durante as demais fases fenológicas. Independente da região de localização da lavoura, a irrigação garante que não irá faltar água e que o potencial produtivo será alcançado, porém essa tecnologia está muito distante da maioria dos cafeicultores por vários motivos.
O uso de podas, que mantém a planta sempre jovem, e também a utilização de cultura de cobertura, com a braquiária ou o mix de plantas, que está ao alcance de todos.
A utilização da cultura de cobertura nas entrelinhas da lavoura de café traz inúmeros benefícios. Além de adicionar, reciclar e armazenar nutrientes, protege contra erosão, reduz a temperatura e retém mais água no perfil do solo. Como dicas para aqueles cafeicultores que querem aderir a essa tecnologia, recomendo manter limpa uma boa faixa na linha das plantas, evitando assim que ocorra competição com o cafeeiro. Também é importante que o cafeicultor acompanhe a disponibilidade de água no solo e intervenha com roçadas na época de seca e em caso de longos veranicos.