Chuvas comprometem qualidade da safra de café que está sendo colhida em Minas Gerais e São Paulo
Na FOLHA: Com oferta menor, indústrias já disputam café
Por MAURO ZAFALON, NA COLUNA VAI E VEM DAS COMMODITIES
A indústria nacional de café poderá ter uma "tempestade perfeita" pela frente –período em que as coisas não devem andar muito bem.
As expectativas iniciais eram de uma safra maior de café e de um produto de qualidade. Seca na fase de desenvolvimento das lavouras em algumas regiões e excesso de chuva agora na colheita mudaram o cenário, principalmente para o café conilon.
A safra de café arábica vai superar a do ano passado, mas as chuvas vão provocar uma quebra de qualidade de parte do produto.
Já a produção de café conilon cai pelo segundo ano consecutivo –e com intensidade– nas duas principais regiões produtoras: Espírito Santo e Rondônia.
Com isso, "a indústria já tem problema de abastecimento e há uma disputa interna pelo café", diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
Mas as indústrias não têm pela frente apenas uma redução de safra –o que já eleva os custos–, o desafio será também manter o blend da bebida que os consumidores estão habituados.
Além da qualidade menor da matéria-prima, as indústrias terão de utilizar, neste ano, mais café arábica do que vinham usando nos anos recentes, devido à quebra de safra de conilon.
O resultado final da bebida pode até ser melhor, dependendo da qualidade do arábica, mas as indústrias têm de fazer essa passagem com cuidado para não interferir muito no produto a que os consumidores estão acostumados, de acordo com Herszkowicz.
Estoques baixos, câmbio favorável às exportações e produtor segurando o café nos armazéns à espera de preços melhores provocaram uma alta de 73% nos preços pagos pelas indústrias pelo café conilon nos últimos 12 meses. No caso do arábica, a alta foi de 8% no período.
Em 2015, o café teve alta de 17% nas prateleiras dos supermercados, enquanto neste ano o aumento é de 6%, segundo pesquisas feitas pela associação das indústrias.
Comparando esses valores nos supermercados e o aumento da matéria-prima no campo, Herszkowicz afirma que o setor industrial vai ter de realizar algum repasse nos preços que serão pagos pelos consumidores.
Suco de laranja Tempestades na Flórida e rendimento baixo das laranjas no Brasil, o que diminui a oferta de suco, elevaram os preços futuros da commodity em Nova York. O primeiro contrato foi a US$ 1,67 por libra nesta segunda (6), alta de 5,5% no dia.
Mais por menos Os EUA elevaram a importação de petróleo para 915 milhões de barris até abril, 4% mais do que em igual período de 2015. Já os preços pagos recuaram 42%, para US$ 29,2 por barril.
Financeiro Os gastos totais com essas importações recuaram para US$ 26,7 bilhões no ano. As compras no Brasil somaram 18 milhões de barris, no valor de US$ 595 milhões, segundo dados do governo dos EUA.
AÇÚCAR VAI NA CONTRAMÃO DAS COMMODITIES
O setor de açúcar vive uma combinação não muito frequente nos tempos atuais no setor de commodities. O preço é bom e a safra de cana é recorde, avalia Julio Maria M. Borges, diretor da JOB Economia e Planejamento. Em geral, as commodities vivem queda nas cotações externas.
Quebra de safra mundial em 2015/16, redução de estoques e deficit entre oferta e demanda aceleram os preços. A alta externa mexe também com as negociações internas.
O valor médio do açúcar cristal nos dois primeiros meses desta safra (abril e maio) superam em 51% os de igual período do ano passado, segundo o diretor da JOB.
Para ele, as usinas do centro-sul vão moer 636 milhões de toneladas, com a produção de açúcar subindo para 34,4 milhões. Já as exportações de açúcar da região aumentam para 24,5 milhões de toneladas, ante 22,97 milhões em 2015/16, segundo Borges.