Café: Em Vargem Alta/ES, déficit hídrico é um dos piores da história e lavouras passam por uma maturação forçada
A produção de café no estado do Espírito Santo pode ter quebra de safra e perca de qualidade na produção por conta das condições climáticas que não foram favoráveis.
"A condição que vem ocorrendo nos últimos anos, provocou um significativo déficit hídrico, e causou sérios danos aos produtores que não conseguiram realizar os tratos culturais necessários", explica Amarildo Sartori, produtor rural de Vargem Alta (ES).
O Conselho Nacional de Café (CNC) divulgou um levantamento realizado pelo Procafé a qual aponta que a safra 2015 de café do Brasil ficará entre 40,3 milhões e 43,25 milhões de sacas de 60 kg, implicando quebra de 4,61% a 11,12% na comparação com as 45,342 milhões de sacas colhidas em 2014.
Para Sartori, esses dados devem estar muito próximos à realidade do campo, no entanto, alguns fatores podem não ter sido levados em consideração no levantamento. Como os fatos das plantas que sofreram estresse neste ano consequentemente não terão boa produtividade no ano seguinte.
"O crescimento vegetativo da planta embora tenha passado por essas intervenções foram prejudicados no seu crescimento, então onde poderia dar café no ano que vem pode não dar, principalmente as lavouras menores foram prejudicadas", ressalta Sartori.
Além disso, mesmo que os cafeeiros alcancem essa produtividade, a perda de qualidade também deve ser levada em consideração, uma vez que "a maturação está ocorrendo de forma forçada, e os grãos estão mal formados, consequentemente representando uma quebra", completa Sartori.
Outro fator que a desuniformidade das floradas prejudicou foi à produção da variedade cereja descascado - bebida de melhor qualidade - pois mesmo que a bebida apresente boa qualidade, os produtores perdem no tamanho do grão. Sendo assim, um volume baixo dessa variedade deve ser produzido na região.
A quebra de safra, no entanto, não tem se refletido no mercado. Muitos analistas afirmam que os fundamentos, em especial do mercado internacional, não agem de acordo com a realidade, e muitos produtores já começam a ver esse cenário com preocupação.
Na região o conilon tipo 7 está cotado em R$ 285,70 e o tipo 8 R$ 254,50 a saca. Já o café arábica tipo 6, bebida dura está sendo comercializado a R$ 424,85 a saca e, no tipo 7, bebida rio o preço da saca é de R$ 299,95. Segundo o cafeicultor, poucos produtores da região conseguiram produzir a bebida tipo 6, com isso o maior volume é do arábica tipo 7, haja vista os prejuízos na lavoura com a falta de chuvas. Ainda assim, os preços praticados "não cobrem os custos de produção", afirma o produtor.
Nas lavouras de café, um dos maiores custos dos produtores é a mão de obra, pois nos cafezais a colheita - na maioria das regiões - acontece de forma manual. "Está surgindo no norte do estado à colheita mecanizada para o café conilon, mas é um equipamento que é inacessível para a maioria dos produtores", ressalta.
E mesmo com toda essa preocupação do produtor, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizou do último dia 25 de março leilão de 2,45 mil toneladas (cerca de 40,5 mil sacas de 60,5 kg) de café arábica dos estoques públicos. Entretanto, não houve interesse comprador e o pregão não registrou arremates.
O CNC e a Comissão Nacional do Café da CNA entendem que esse resultado foi o esperado, já que o leilão foi definido sem a participação do setor privado da cafeicultura, o qual, se consultado, prontamente seria contrário haja vista o início da colheita e, consequentemente, a entrada de cafés mais novos ingressando dentro dos próximos dois meses.
"A partir desses números eu acredito que o mercado deve acordar e vai entender que café não tem o que se imagina, porque a demanda mundial a gente sabe que é crescente e todos os países estão atravessando algum tipo de problema, isso reflete na produção mundial de café", conclui o produtor.