Câmbio e recomposição dos planteis de suínos na China podem impactar as exportações de carne bovina, diz consultor
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Entrevista com Caio Toledo Godoy - Consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX sobre o Mercado do Boi Gordo
Com a recomposição do plantel de suínos na China e as questões cambiais, a expectativa é que o Brasil não consiga exportar mais volumes de carne como observado no final do ano passado. No entanto, é preciso acompanhar a demanda externa já que a China está em disputa comercial com os Estados Unidos e pode ter problemas com alguns fornecedores, como a Austrália.
O consultor aponta que as compras chinesas seguem aquecidas, mas que as compras chinesas têm um teto já que os preços do porco na China têm recuado e isso mostra que a recomposição do plantel está aumentando. “Isso pode estar influenciando na queda das exportações brasileiras. O viés para a demanda externa é positivo, mas temos a questão cambial que pode jogar a favor ou contra nós”, explica.
Os preços da arroba são influenciados pelo o mercado doméstico, mas também pelo o mercado externo já que com o câmbio desvalorizado acaba ajudando muito os embarques de carne bovina. “Nós vemos uma queda no valor da tonelada em dólar, mas um aumento no valor da tonelada em reais”, comenta.
Pelo o balanço das indústrias frigoríficas o câmbio foi um fator decisivo para as exportações brasileiras. “A China tem tentando pressionar os preços para baixo e os frigoríficos brigam para puxar os valores para cima. Temos uma tendência que os preços devem cada vez mais ser jogados para baixo”, aponta.
Confinamento
De acordo com Consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX, Caio Toledo de Godoy, a estimativa em maio era que o confinamento tivesse uma queda de 30%, mas esse número foi revisto em setembro com a puxada dos preços no mercado futuro e que acabou incentivando o confinamento para a saída de animais em dezembro e janeiro.
“Nós fazemos duas vezes por ano, em maio e setembro, o levantamento para tentar entender como será o número de animais confinados durante o ano. Nessa segunda pesquisa, nós observamos uma redução tanto no primeiro e segundo giro do confinamento em capacidade estática e em número totais de cabeças”, afirma.
Os fatores que contribuíram para a redução no confinamento foram à reposição com valores elevados e baixa disponibilidade no mercado e os insumos relacionados à alimentação. “O milho teve uma alta exponencial neste ano e acabou contribuindo para a redução das margens da pecuária, principalmente na engorda”, destaca.
A consultoria estima que o número total de cabeças confinadas fique ao redor de 3,85 milhões no centro-oeste brasileiro, sendo que no ano passado ficou em 4,80 milhões de cabeças. “Nós não olhamos o volume de animais confinados no norte e nem o sul do Brasil. Pode ser que a metodologia e o cálculo foram feitas de formas diferentes”, comenta.
Com os valores do milho elevados e com a reposição em alta, os pecuaristas precisam se planejar e gerenciamento de risco através do mercado futuro ou realizando compras antecipadas. “O pecuarista precisa ficar atento as mudanças mercadológicas em todos os mercados que necessitam um olhar com mais afinco sobre as compras de insumos e vendas de gado”, ressalta.
Mercado interno
O estudo da StoneX apontou os impactos do auxilio emergencial no valor das proteínas animais, mas que não chegou a determinar os preços da arroba. “Nós queremos mostrar que não foi apenas o auxílio emergencial que influenciou na alta do boi, mas sim a oferta restrita e demanda externa aquecida”, disse Toledo.
Atualmente, as referências para a carcaça bovina estão próximas de R$ 17,30/kg, enquanto que a arroba do animal com destino ao mercado externo está próxima de R$ 270,00/@ e o boi com padrão exportação está em torno de R$ 275,00/@. “Para o frigorífico conseguir boas margens com os preços atuais vai depender muito para que mercado ele negocia, mas hoje a indústria que destina somente para o mercado doméstico acaba trabalhando com margens negativas”, relata.
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