Apesar de preços em reais estarem em patamares elevados, custos em dólar reduzem margem para produtor brasileiro de algodão

Publicado em 05/05/2015 13:06
Apesar de preços em reais estarem em patamares elevados, custos em dólar reduzem margem para produtor brasileiro de algodão
O mercado do algodão segue oscilando no intervalo de 60 a 67 centavos de dólar por libra peso, pautado pelos preços da bolsa de Nova Iorque (NY). 
 
Para o consultor da FCSTONE, Bruno Zanutto, quando o mercado se aproxima de 60 a 61 centavos de dólar por libra peso, a demanda aparece com mais força, porque o algodão fica mais barato. Quando o preço se aproxima dos 67 centavos de dólar por libra peso, a demanda começa a desaparecer.
 
“O mercado vem oscilando assim já há alguns meses e está difícil de sair disso. O que pode impactar o final dessa safra que termina em julho é o balanço de oferta e demanda principalmente dos EUA”.
 
 “Além do contrato de julho, teremos outro cenário que é a oferta e demanda da próxima safra que se inicia em agosto. Nesse momento estamos no plantio no hemisfério norte: China, Índia, Paquistão, ou seja, os maiores produtores mundiais de algodão estão plantando. O mercado está observando isso e como o clima pode se comportar nos próximos meses”, explica Zanutto.
 
Existe uma projeção de queda na produção mundial. “A principio existe essa especulação de que a produção mundial deva cair e que o estoque global de algodão da próxima safra também”, revela Zanutto. Isso teoricamente seria favorável à formação de preços.
 
Em contrapartida, “o cenário nos EUA, pode ficar mais confortável para a próxima safra. Pode sobrar mais algodão nos estoques finais, do que nessa safra”, conta o consultor.  E como a bolsa de NY tem o foco direcionado à produção nos EUA, isso poderia ser baixista para os preços.
 
Mas esse é apenas um cenário. Zanutto explica que são dois momentos diferentes para o mercado do algodão. “São duas safras distintas. Se olharmos o contrato de julho, ele é o ultimo contrato da bolsa pra safra 14/15, o de dezembro seria o primeiro contrato com atividade realmente da safra 15/16 e ambos os contratos, julho e dezembro precificam a safra 2015 no Brasil. Temos que tomar cuidado com essa diferenciação, porque temos duas safras internacionais que precificam a safra brasileira”, explica Zanutto.
 
Até julho, portanto até o final da safra 2014/15, existe baixa disponibilidade de algodão de qualidade nos EUA, a Austrália está colhendo uma safra 50% menor que anos anteriores, sendo que os EUA estão com boa parte da safra vendida para exportação, e com parte já no consumo interno.
 
“A Índia e o Brasil, poderiam substituir o algodão americano, mas não produzem algodão da mesma qualidade. Se analisarmos essa situação, o quadro de oferta não está muito confortável e os EUA terão pouco produto para ser entregue contra bolsa”, relata o consultor. A consequência disso é a instabilidade dos preços, com viés de alta. “Temos o algodão americano sendo vendido a preços caros, pois não está tão fácil originar o algodão americano e a tendência de NY é convergir pra esse quadro também. Hoje o que vemos no cenário americano, são prêmios fortes, ou seja, não tem algodão de qualidade disponível e a tendência seria o contrato de julho continuar subindo”. 
 
Brasil
 
Já no Brasil, houve uma reação significativa nos preços do algodão em reais, ligada à valorização do dólar. Para Zanutto, outro fator contribuiu com o aumento nos preços do algodão.
 
 “O prêmio interno que há meses permanecia negativo, teve um aumento significativo. Houve uma retração de oferta no mercado e a indústria que estava recuada pela incerteza de mercado e da política, voltou as compras e fez com que o algodão ficasse escasso. O produtor vendeu e as exportações seguiram fortes durante três meses. Para manter esse algodão no comércio doméstico começou-se a pagar prêmios mais altos”.
 
Hoje os valores apurados pela ESALQ, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, estão em torno de R$ 2,18 e já chegou a R$ 2,20.
 
Segundo o consultor, o momento é de vender, aproveitar os preços e a faixa alta do mercado que na bolsa de NY se aproxima dos 67 centavos de dólar por libra peso. “Comprar um seguro para uma participação em uma eventual alta no mercado também é uma opção. É difícil adivinhar para qual lado o mercado vai, tudo está se desenhando de uma forma que não existirá muito espaço pra subir”, orienta.
 
Mercado Chinês
 
Os EUA exportam semanalmente para a China, cerca de 16 mil toneladas. “Mas a gente tem que olhar se esse cenário é permanente. A princípio, a reserva governamental chinesa não está vendendo algodão. Eles possuem algo em torno de 11 milhões de toneladas, só que este algodão está fora de mercado”, diz Zanutto.
 
A China deve cumprir um volume mínimo de importação de algodão acordado com a OMC, Organização Mundial do Comércio. Porém, a nação asiática consegue trazer algodão com 1% de imposto, o que favorece a importação chinesa.
 
Entretanto, o segundo semestre pode ser diferente. “Está previsto para a reserva chinesa começar a vender algodão em agosto e também essa cota da OMC pode acabar. A estimativa é que 50% da cota já tenham sido tomadas”, conta Zanutto.
 
Além disso, outros países que aos poucos vem tomando o papel da China importam algodão bruto e vendem fios de algodão, não entrando na cota da OMC e ficando fora de um imposto de 40%. 
 
“Acontece que ao invés dela importar o volume de algodão que importava anos atrás, está importando mais fios. Como consequência, os países que estão em volta: Índia, Bangladesh e Paquistão, importam mais algodão para fazer fios para China”, esclarece Zanutto.

 

Por: Aleksander Horta//Nandra Bites

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Bahia inicia plantio da safra 2024/2025 de algodão com perspectivas positivas
Algodão/Cepea: Negócios mantêm bom ritmo; preços recuam
Vazio sanitário do algodão, na Região 4 de Goiás, começa no domingo, dia 10
Algodão/Cepea: Vendedores mantêm foco em embarques de contratos a termo
Expectativa para o plantio do algodão 2024/25 no Oeste da Bahia é de clima mais favorável do que a safra anterior
Algodão : Demanda global mais baixa e problemas políticos e financeiros, em alguns dos principais destinos da fibra, marcam a conjuntura em 2024
undefined