“Brasil exporta impostos”, afirma presidente da Associação da Indústria Brasileira de Alimentos
O alimento industrializado do Brasil paga a segunda maior carga tributária do planeta atualmente, conforme apontou João Dornellas, presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), que foi o convidado especial do Conexão Campo Cidade desta semana.
De acordo com Dornellas, em média, o brasileiro paga 24,4% de imposto no alimento industrializado. Ele lembra que produtos como arroz, feijão e carne, por também passarem por um processo industrial também entram nessa conta. Com isso, ele exemplifica que em um restaurante, 1/4 do valor pago no alimento corresponde a impostos.
Enquanto que no Brasil esse valor se aproxima de 25%, nos demais países que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o imposto sobre os alimentos industrializados fica em torno de 7%.
Por esse motivo, ele afirma que o Brasil acaba exportando imposto, devido às altas tarifas pagas dentro do país. “O nosso atual modelo tributário gera um acúmulo de crédito que quem exporta não consegue o obter de volta. Então, o Brasil exporta imposto”.
Altos impostos prejudicam o acesso ao alimento no Brasil
João Dornellas destacou que no Brasil não falta alimento, mas sim renda para que as pessoas tenham acesso à alimentação. Segundo ele, os impostos fazem o alimento ser caro e a falta de renda impede o acesso a esse alimento.
Como dele detalhou, da população economicamente ativa do país, 70% tem uma renda de até dois salários mínimos. Essas pessoas comprometem 30% a 40% dessa renda com alimento. Quanto menos imposto tiver, mais alimento está chegando à mesa do brasileiro.
Preconceito com alimentos ultraprocesssados
Dornellas discutiu durante o programa o termo "ultraprocessados" e o movimento contra a indústria de alimentos, destacando a controvérsia em torno dessa classificação. Ele menciona como a nova categorização define ultraprocessados de maneira ampla, incluindo qualquer alimento industrial com mais de cinco ingredientes ou aditivos.
Essa definição, segundo ele, vem sendo questionada globalmente devido à falta de consenso científico e por englobar uma vasta gama de produtos, desde os fabricados em casa até os industriais, sob um mesmo rótulo crítico.
Ele criticou a simplificação do debate sobre saúde pública, que frequentemente coloca a culpa nos alimentos ultraprocessados sem considerar os diversos fatores que causam esse problema. Estudos observacionais que tentam vincular diretamente o consumo de ultraprocessados a problemas de saúde são vistos com ceticismo por não estabelecerem uma relação clara.
Por fim, Dornellas questionou a validade da categoria "ultraprocessado" para avaliar a qualidade dos alimentos, argumentando que a composição nutricional é o que realmente importa. Ele ilustra como a vasta maioria dos produtos encontrados na dispensa ou geladeira de uma casa média, incluindo itens básicos do dia a dia como misto quente, poderiam ser considerados ultraprocessados pela definição atual.