Dilvo Grolli e Paulo Herrmann falam sobre custos e projeções da safra 23/24 no Conexão Campo Cidade
O Conexão Campo Cidade desta semana recebeu a participação especial de dois nomes ilustres do agronegócio brasileiro: Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, e Paulo Herrmann, ex-presidente da John Deere Brasil. Entre os diversos assuntos discutidos na edição, o destaque fica para os números da safra brasileira e os custos de produção para o agricultor nacional.
De acordo com Dilvo Grolli, a safra do Paraná, em relação à safra passada, terá uma quebra de 15%. Ele reconhece que o atual momento é de dificuldade para o produtor, porém também percebe a importância da gestão, tendo em vista a redução no preço dos insumos agrícolas. “Mesmo que tenhamos uma quebra de 15% nas lavouras e preços de 30% a 40% menores do que o mesmo período de 2023, houve uma também uma queda dos insumos em torno de 25% a 30%”, afirmou.
Segundo o presidente da Coopavel, o produtor rural precisa ter em mente que hoje ele também é um administrador de tecnologia. Por isso, ele precisa ir a um evento técnico, por exemplo, e ver como fará para aumentar produtividade em 2024/25. “Essa soja que estamos colhendo, pertence ao passado”, destacou Grolli.
Produtor pode pressionar empresas para que os custos de produção caiam ainda mais
Paulo Herrmann também destacou que os custos de produção caíram, mas a queda de preços da commodities foi ainda maior. De acordo com ele, a pandemia provocou uma elevação nos valores tanto das commodities quanto dos insumos, que não é algo normal. “Estamos voltando ao patamar pré-pandemia. A pandemia subvertou a ordem das coisas, que não é uma nova realidade”, frisou.
Contudo, ele afirma que os insumos ainda têm espaço para caírem. Para Herrmann, o importante agora é pressionar as empresas para que os preços fiquem menores e devolvam essa margem ao produtor.
Em relação às máquinas, ele afirma demoram mais para cair, porque têm influência do petróleo e do mineiro de ferro, porém a queda de preço já pode acontecer. “Esses fatores dependem muito da economia chinesa. Com desaceleração do crescimento da China, também tem espaço para forçar uma redução para preços das máquinas”, declarou Herrmann.
Antônio da Luz, em relação às máquinas, destaca que esse processo pode ser ainda mais lento, por conta da concessionária, que já preencheu seu estoque comprando com preços altos. Mas segundo Herrmann, as concessionárias já limparam uma boa parte desse estoque em 2023, por isso acha válida uma pressão para redução de preço: “Todo mundo [concessionárias] ganhou muito dinheiro e na hora de ajustes vai ter que entregar um pouco. Não vai poder ficar essa conta para o agricultor”.
Agricultor ainda não consegue extrair todo potencial das máquinas para melhora produtividade
Outro problema que envolve os custos, segundo o ex-presidente da John Deere, é a dificuldade de extrair todo potencial das máquinas agrícolas. Conforme ele afirmou, o produtor produtor não tem preparo para uso da tecnologia que as máquinas possuem atualmente: “Não conheço agricultor, cooperador, qualquer estrutura produtiva, sem fazer distinção entre pequeno, grande e médio, que use mais de 60% do potencial de uma máquina. Não tem, não existe”.
Segundo ele, as máquinas andaram muito tecnologicamente, mas o preparo, a academia, está parada no milênio passado. Os agrônomos, os técnicos que estamos formando, não têm noção da tecnologia que está no campo, de acordo com Herrmann, porém, mesmo que o produtor use 60%, o fabricante continua cobrando 100%.
Potencial de crescimento da produção brasileira a longo prazo
Um dos questionamentos levantados por Roberto Rodrigues foi o potencial de crescimento da produção agrícola do Brasil. Para responder essa questão, Paulo Herrmann apontou dois fatores relacionados à população mundial.
Primeiro, Herrmann cita Dubai, cuja população é apenas 15% nativa. O restante dos moradores vêm do sudeste da Ásia, que são pessoas vinda de uma situação miserável para melhorar de vida. Portanto, isso é uma tendência de melhoria de poder aquisitivo. “Ali há uma demanda crescente por alimento, fundamentalmente proteína. O ser humano precisa de 1 grama de proteína por quilo por dia. E eles não têm vocação, nem aptidão, nem interesse de produzir essa proteína. E esse alimento terá que sair do Brasil”, afirmou.
O segundo fator apontado por ele é o crescimento de habitantes no planeta, sendo que só no ano passado, a população mundial aumentou em 75 milhões de pessoas. “Quando combinamos aumento populacional com crescimento do poder aquisitivo, isso indica mais consumo. É óbvio que tem que ser balanceado. Não adianta produto demais muito rapidamente enquanto a demanda não está pronta ainda, mas essa é a tendência”, concluiu Herrmann.
Projeções para safara brasileira feitas pela Conab e pelo USDA
As recentes projeções de safra divulgadas pelo USDA e pela Conab também estiveram na pauta da edição. Para Paulo Herrmana, um problema hoje é a maneira como se constrói as verdades, as projeções no mundo. “Você tem de um lado o USDA fazendo projeção de safra. Eles são muito estruturados, mas fazer projeção de safra brasileira lá dos Estados Unidos, convenhamos. E eles estão furando mais uma vez, estão falando em 155 milhões de toneladas”.
Com isso, o produtor brasileiro fica desamparados, porque esse é em campo propício para as tradings entrarem e fazerem as posições, de acordo com Herrmann. “Nós precisamos ter um observatório, nós precisamos ter a nossa estatísticas e o IBGE não bate com a Conab. É um despropósito generalizado. Isso é mais problemático do que a gente produzir bem, é a gente vender bem”, protestou.
Visão externa da agricultor e do agronegócio brasileiro
Durante o debate, Dilvo Grolli questionou Paulo Herrmann a respeito de como ele percebe a imagem que o Brasil tem internacionalmente. Para o ex-presidente da John Deere, quem fala mal do agro brasileiro é a elite da elite brasileira, não povo.
Ele cita uma pesquisa da ABMRA, a qual mostra a população brasileira orgulhosa do agronegócio. Entretanto, ele afirma que tem muitos interesses envolvidos, principalmente os europeus, que, segundo ele vivem uma agricultura ineficiente.
“É óbvio que essa eficiência brasileira por conta da nossa ciência, por conta do nosso agricultor, da tecnologia que ele usa, isso é uma ameaça. Mas de maneira geral, quem olha sem viés ideológico, sente uma grande admiração pelo agricultor brasileiro”, destacou.