Produtor rural e créditos de carbono: Área preservada já tem valor e pode ser renda adicional, mas como receber por ela?

Publicado em 23/10/2023 18:42 e atualizado em 30/10/2023 16:44
Rita Ferrão, presidente da Associação Brasileira de Crédito de Carbono e Metano (Abcarbon), esteve no Conexão Campo Cidade desta semana e explicou procedimentos para a comercialização de créditos por áreas verdes na propriedade e o que ainda falta para o produtor receber esse pagamento
Conexão Campo Cidade
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Produtor rural e créditos de carbono: Área preservada já tem valor e pode ser renda adicional, mas como receber por ela?

“É no campo que está a solução para o aquecimento global”. É com esse argumento que Rita Ferrão presidente da Abcarbon, inicia sua fala no Conexão Campo Cidade. A empresa que ela preside desenvolveu um mecanismo para mapear áreas, como propriedades rurais, e calcular o valor de créditos de carbono que aquele local tem para receber. A ideia é de que no futuro, a preservação da área seja uma fonte de renda para o produtor rural, assim como o produto colhido também é. 

Para explicar melhor como a Abcarbon trabalha e em que estágio está o processo de compra e vende de créditos de carbono, a presidente conversou com José Luiz Tejon e Antônio da Luz. Confira o programa completo no vídeo acima e, a seguir, algumas questões fundamentais levantadas durante o programa e respondidas por Rita Ferrão:

 

- É factível medir os créditos de carbono de uma propriedade?  

Sim, é factível. Basta enviar as coordenadas para a Abcarbon, que a associação triangula a área e um software calcula o valor que tem efetivamente de crédito de carbono no momento da medição.  

 

- O processo vai do início ao fim para que o produtor faça a comercialização?  

Sim, a Abcarbon dá do início ao fim a certificação para que o produtor receba pelos créditos, sem precisar de certificados internacionais. Segundo a presidente, o projeto de lei 412/22 colabora para que isso ocorra.  

 

- O que o produtor pode fazer em sua propriedade para ter mais créditos de carbono? 

O próprio campo nativo gera crédito de carbono, áreas de floresta e mata também geram, basicamente, tudo que for verde e faça fotossíntese gera crédito de carbono. Até mesmo água fluviais convertem-se em créditos. Então, basta o produtor ter o Cadastro Ambiental Rural (CAR) em dia, ter a matrícula da propriedade e enviar à Abcarbon que o procedimento é realizado.  

 

- Quanto custa uma verificação e qual o valor do crédito de carbono? 

A Abcarbon realiza o processo de verificação da área por R$ 250,00, de acordo com Rita Ferrão, conforme ela afirmou na edição desta segunda-feira (24/10/23). O Notícias Agrícolas não tem envolvimento com tal valor, por isso, pode variar de acordo com o que for estabelecido pela associação. O produtor rural pode entrar em contato pelo site: https://abcarbon.org.br/.  

Sobre o valor do crédito de carbono, de acordo com Ferrão, um hectare tem resultado, em média, 140 créditos de carbono. Não é uma regra, mas a maioria fica nessa média. Se for mata fechada, chega a 200, 210 créditos por hectare, porém esse total varia de acordo com o bioma.  

Cada crédito de carbono, no Brasil, vale R$ 25,00. Ou seja, se a propriedade está dentro da média de 140 créditos, cada hectare resulta em R$ 3.500 ao ano.  

 

- Calculado crédito, o que o produtor faz com a certificação, como ele recebe por isso? 

A Abcarbon funciona como se fosse um registro de imóveis. Os certificados são gerados por blockchain para que não haja duplicidade. O crédito fica custodiado na associação. No site é possível ver o que já foi certificado (https://abcarbon.org.br/certificados) . O produtor rural recebe o certificado com todos os dados da área com o total de créditos.  

Agora, chega-se em um ponto importante que é a comercialização. A Abcarbon, como associação, não comercializa o crédito. O trabalho agora é desenvolver um player que faça essa negociação. Hoje, empresas e governos compram créditos para incentivar o mercado e a Abcarbon está trabalhando para que os créditos emitidos por ela sejam comercializados. 

Os créditos ficam custodiados na Abcarbon, então não é possível o próprio produtor realizar a venda. A associação precisa indicar esse comprador, pois precisa fazer rastrear dentro do software da empresa para não ocorrer duplicidade. Ainda não há essa empresa, pois a Abcarbon precisa de uma que faça todo esse processo de rastreabilidade em se for brasileira, tenha registro na CVM, como prevê o projeto de lei 412/22.  

 

- Então, hoje, o produtor que fez o cálculo, fica com o crédito guardado? 

Basicamente sim. O crédito fica custodiado na Abcarbon, que está em processo para fazer a comercialização e espera que até o final deste ano consiga fazer esse procedimento. Segundo Ferrão, a empresa já está em tratativas para realizar essas vendas. Se alguma empresa quiser comprar créditos apenas para compensar suas emissões, já é possível. Mas fazer comercialização, ainda não.  

Ou seja, se uma determinada empresa precisa compensar a pegada de carbono, pode adquirir e o produtor rural poderá receber pelos créditos certificados.  De acordo com Ferrão, o mercado está caminhando, e, quando for aprovado do PL 412/22, empresas serão até mesmo multados se não compensarem suas emissões. Portanto, ela espera que em menos de 1 anos as compensações comecem a acontecer com maior frequência. 

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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