Bioinsumos, geração de energia, consumo de insetos e produção de carne em laboratório: avanços da ciência que emergem para o futuro

Publicado em 31/07/2023 18:53 e atualizado em 08/08/2023 16:51
Décio Gazzoni, Engenheiro Agrônomo e Pesquisar da Embrapa, aprofundou o debate desta semana em novas formas de produção, tanto de alimentos quanto de energia, que farão a diferença para alimentar uma população mundial crescente
Conexão Campo Cidade -
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Bioinsumos, geração de energia, consumo de insetos e produção de carne em laboratório: avanços da ciência que emergem para o futuro

Em 2050, a expectativa é que a população global esteja em torno de 9 bilhões de pessoas, de acordo com informações da Organização das Nações Unidas (ONU) e da organização Global Challenges Foundation. Um desafio acompanha esse aumento populacional: alimentar o planeta. Para isso, a ciência avança com tecnologias capazes de ampliar a produção de alimentos a fim de suprir a demanda global no futuro.

Nesse cenário, o Brasil assume o papel de protagonista, por conta da sua capacidade de aumentar a produção de alimentos dentro país. E mais do que a produção, o Brasil é um lugar onde pode-se alcançar um importante aumento de produtividade.

De acordo com Décio Gazzoni, Engenheiro Agrônomo e Pesquisar da Embrapa, convidado do Conexão Campo Cidade nesta semana, o aprimoramento do manejo agrícola e a utilização dos bionsumos são fundamentais para que se possa aumentar número de produção sem ser necessário expandir a área de plantio. Essa é uma das principais chaves para a produção de alimentos do futuro.

 

Com o avanço dos bioinsumos, o Brasil pode ser independente de outros países? 

Antônio da Luz questionou Décio a respeito da possibilidade do Brasil se tornar autônomo ou ao menos aumentar sua autonomia em relação aos fertilizantes, a partir do momento que ampliar o uso de insumos biológicos. 

De acordo com o pesquisador da Embrapa, as soluções químicas para a agropecuária, no futuro, passarão a ter menos importância, enquanto que as soluções biológicas se tornarão cada mais importantes. Porém ele ressalta que isso será um processo progressivo, não irá acontecer de uma hora para outra. 

Mas Décio destaca que o aumento do uso dos biológicos é necessário para o Brasil ter uma soberania no mercado de fertilizantes agrícolas e diminuir sua dependência internacional. Ele lembra o período da pandemia, quando houve uma escassez de produtos. Com uma produção nacional de biológicos, esse gargalo seria reduzido. 

Os produtores podem usar os bionsumos por conta própria?

Outra questão levantada por Antônio da Luz foi sobre o uso de bionsumos pelos produtores rurais por “conta própria”. O economista contou que em diversos Congressos dos quais participa, observa palestras sobre bioinsumos e percebe que a mensagem passada muitas vezes é de que o próprio agricultor poderá fabricar seus fertilizantes e aplicá-lo como achar necessário. O questionamento dele é se isso não pode afetar de alguma forma o equilíbrio do solo.

Conforme explicou Décio, desde que o ser humano deixou de ser nômade e descobriu que poderia utilizar a terra para plantar e colher, ele provoca um desequilíbrio no meio ambiante. Por isso, esse desequilíbrio precisa ser constantemente monitorado, favorecendo os organismos que são bons para a produção e desfavorecer o ambiente para organismos patogênicos, como fungos, bactérias, vírus e nematoides.

Por isso, para fazer o uso dos bionsumos, é preciso um trabalho técnico, com monitoramento e equipamentos adequados. Décio disse que ele e seus colegas pesquisadores não são contra a produção dos insumos biológicos dentro da fazenda, mas desde que seja, atendidas algumas normas.

“Você precisa ter um responsável técnico, uma pessoa que tenha conhecimento para manejar aquilo, senão você arrisca pensar que tem um bioinsumo e você tem tudo menos aquelo bioinsumo que você pensa”, afirmou o pesquisador, ressaltando que já encontrou microrganismos nessas condições patogênicos à planta e até mesmo ao ser humano.

 

Aumento de produtividade e o Comitê Estratégico Soja Brasil 

Leticia Jacintho destacou durante a conversa o campeão do Desafio Nacional de Máxima Produtividade da Soja da safra 2022/23, promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). O Campeão Nacional e Sudeste desta edição do Desafio foi o agricultor João Lincoln Reis Veiga, de Nepomuceno-MG, que alcançou a produtividade de 134,46 sacas por hectare. 

Gazzoni é um sócio-fundador do Cesb e conta que o comitê foi criado em 2008 pois os pesquisadores enxergavam uma crescente de mandada de soja do planeta, porém não era ideal que a produção crescesse de maneira horizontal, ou seja, com aumento de área. Por isso, a busca por maior produtividade foi eficaz para o Brasil ampliar sua produção em proporção maior que aumentou sua área. 

Esse fator atende também os requisitos de sustentabilidade e preservação ambiental, o que em 2008 já previam que seria uma exigência mundial, além de garantir ao produtor rural um aumento da sua produção de forma que um ganho financeiro que cresce em proporção maior do que seu custo. 

 

Consumo de insetos e produção de carne em laboratório

Por conta da crescente demanda de alimentos no mundo para alimentar uma população crescente sobretudo em países asiáticos e africanos, novos alimentos têm surgido. Antônio da Luz trouxe para discussão a questão do consumo de insetos, algo crescente no mundo hoje.

“As pessoas estão olhando para o futuro vendo como vamos alimentar 10 milhões de pessoas daqui 30 anos”, afirmou Gazzoni. Por isso, busca-se alternativas, também por conta de não sabermos como as mudanças climáticas podem interferir na produção agropecuária do planeta.

O pesquisar ressalta que 2 bilhões de pessoas no mundo atualmente já consomem insetos. Hoje, até mesmo na Europa e nos Estados Unidos já existe oferta desse tipo de alimento, que é fácil de produzir e contém um alto teor proteico.

Outra questão no radar, como destacou Gazzoni, é a multiplicação de células que permite produzir diferentes tipos de carne, bovina, suína, de frango e peixe em laboratório, sem precisar dos animais ou instalações frigoríficas.

“O mundo está buscando alternativas, isso reconfigura o consumo e reconfigura muito a parte produtivo, então nós do agronegócio temos que ficar atentos”, acrescentou o pesquisador.

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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