Dependência da China pelo agronegócio brasileiro e a abertura de novos mercados em discussão, com participação de Paulo Herrmann

Publicado em 03/07/2023 18:50 e atualizado em 11/07/2023 16:57
Grande parte das exportações brasileiras são destinadas à China, o que é um motivo de atenção, como destacaram Marcelo Prado e Paulo Herrmann na edição desta semana. Para eles, abertura de novos mercados é fundamental para o agro do Brasil
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Dependência da China pelo agronegócio brasileiro e a abertura de novos mercados em discussão, com participação de Paulo Herrmann

A economia Chinesa, como destacou Marcelo Prado, apresenta alguns sinais de fragilidade. De acordou com ele, na semana passada alguns bancos reduziram o percentual de crescimento da economia chinesa para 5,2%. Na segunda-feira (03), já se falava se 3% de crescimento nos próximos anos, até 2030.

Esse número surge, como afirmou Marcelo, em um momento em que os jovens entre 18 e 24 anos, na China, estão com 20,8% de taxa de desemprego; o consumo do país está em queda; o setor imobiliário está estagnado; as importações chinesas apresentam queda significativa; e o endividamento regional de algumas províncias são bastante preocupantes.

Como ele afirmou, isso é preocupante porque percebe uma interdependência muito grande do agronegócio brasileiro da China, para onde vão 40% das nossas exportações. A recomendação que Marcelo sempre costuma fazer é de olhar para frente para planejar sua gestão, por isso, ele chama atenção a olhar para a economia chinesa, porque isso afeta as cadeias produtivas do agro.

 

China cresce menos, mas cresce muito

Por outro lado, o economista Antônio da Luz afirma que a preocupação quanto à economia chinesa é genuína, porém o país continua a crescer muito. Ele cita como exemplo que os Estados Unidos, ao crescer 3% hoje, é como se o Brasil crescesse 30% do ponto de vista de números absolutos. Isso por conta da diferença de tamanho das duas economias.

Com a China a situação é semelhantes. O mundo inteiro está acostumado a crescimentos relativos muito grandes da economia chinesa. Porém, ela já alcançou um número absoluto muito alto, em que percentuais mais baixos já são significativos.

“Hoje, a China já é uma economia muito grande, ela não precisa crescer 10%, 8% ao ano para gerar um impacto em termos de demanda bastante significativo. Hoje, um crescimento de 3%, 4% da China é um crescimento que a 10 anos atrás era equivalente a crescer 10%”, explicou o economista.

De maneira semelhante, Paulo Herrmann diz que 3% de crescimento de uma mega riqueza é significativa. Mais do que isso, ele explica que para as máquinas agrícolas reduzirem de valor, é preciso que a economia chinesa não cresça muito, pois assim não aumentaráos valores das matérias primas de mineiro e derivados de petróleo.

 

O que esperar no futuro de mercados internacionais

Para Roberto Rodrigues, o mesmo cuidado que se tem hoje com ciência e tecnologia precisa existir em relação aos acordos comerciais. Atualmente, como ele chamou atenção, existe na própria China uma preocupação para ampliar seus fornecedores.

Assim, ele vê como fundamental acordos comerciais que garantam um mercado mais ou menos definido e permanecente, para que o Brasil posso crescer com consistência e com confiança no mercado futuro.

Na mesma linha, Paulo Herrmann afirma que dentro da porteira o produtor brasileiro tem que melhorar sempre, mas como tem um modelo exportador, essa questão de acordos comerciais é algo que tem de ser melhor trabalhado para não ficarmos reféns dos grandes comprados, como hoje é da China.

“Nada contra as vendas para a China, mas não é saudável que você tenha um cliente que compre 40% do seu volume de produção”, destacou. Portanto, para ele, é necessário redesenhar o modelo brasileiro de exportação, com acordos comerciais por bloco que estabilizem as negociações.

Outro aspecto citado por Herrmann é que o Brasil está na mão de grande tradings internacionais. Segundo ele, há a necessidade de se criar uma trading brasileira, que é um desafio que existe no sistema cooperativo brasileiro.

 

Plano Safra

A quantia anunciada foi uma surpresa para todos. A taxa de juros está alta, como avaliou Roberto Rodrigues, porém não maior do que a do último ano. Ele avalia como um “Plano Safra razoavelmente bom para as condições que o Brasil tem hoje”.

A única ressalva é a inexistência de um valor substancial para o seguro rural. Isso porque ele afirma ter uma preocupação grande em relação aos preços de comercialização da safra, ao valor do dólar e ao El Niño, o que pode levar a um descasamento de renda, algo que ele já vivenciou em 2005, quando ministro, e se recorda como foi doloroso para o Brasil.

Por esse motivo, para Roberto Rodrigues, um volume maior para o seguro rural poderia ajudar a aliviar esse processo para o produtor rural. “É planejar o futuro para condições de adversas. Você não sabe o que vai acontecer no ano que vem”, frisa o ex-ministro.

De forma semelhante avaliou Paulo Herrmann, que afirmou não esperar algo diferente do atual governo. Além disso, para ele, fica claro o foco direcionados a temas importantes que precisam ser resolvidos, por exemplo, a irrigação.

Herrmann destaca que o estado de Nebraska, nos Estados Unidos, possui mais pivôs centrais que todo o Brasil. O Rio Grande do Sul, como ele citou, perdeu três safras consecutivas por não possuir um sistema de irrigação. "50 bilhões de reais [perdidos] por conta de não ter um sistema de irrigação", reforçou.

“Não podemos ter tecnologia de última geração em sementes, em moléculas, em máquias e depois plantar, correr para a igreja e rezar para que chova”, comentou o convidado da edição.

Outro ponto para Herrmann é a questão da armazenagem. “Somos vítimas da nossa eficiência. Em um ano que estamos passando de 300 milhões de toneladas de grãos entre primeira e segunda safra, nós estamos com uma capacidade estática que fica entre 190 e 200 milhões de toneladas de grãos. E aí, obviamente, é um campo fértil para a especulação agir, porque o produtor se vê com a necessidade de se desfazer do produtor excedente”, declarou.

 

Homenagem a Alysson Paolinelli

O “maior brasileiro da história contemporânea do Brasil”, é assim que Roberto Rodrigues se refere a Alysson Paolinelli, que morreu no último dia 28 de junho. “Paolinelli, com sua visão estratégica extraordinária, com sua preocupação com a tecnologia e sustentabilidade, transformou o Brasil”.

Rodrigues lembrou que até os anos 70, o Brasil importava 30% dos alimentos que consumia. Após Paolinelli se tornar ministra e dar um “empurrão” na Embrapa, o Brasil desenvolveu um processo de conquista do cerrado, levando para o Centro-Oeste um grupo de produtores rurais, que fez um trabalho espetacular.

“Paolinelli inseriu o Brasil no mundo inteiro, levando ao mundo a coisa básica da sobrevivência, que é o alimento. Paolinelli, com seu domínio sobre ciência e tecnologia, criou uma agricultura tropical sustentável que alimenta 800 milhões de pessoas no mundo inteiro e daqui a pouco é 1 bilhão de pessoas”, acrescentou Roberto Rodrigues.

Paulo Herrmann, convidado da edição, destacou a humildade de Alysson Paolinelli e, principalmente, seu olhar para frente. “Ele sempre levantou as nossas cabeças. Toda vez que a gente baixava a cabeça, queria entregar os pontos muitas vezes, ele levantava a cabeça e jogava luz alta no nosso caminho, indicando que o futuro é brilhante, o futuro está para ser construído e não tem país melhor para essa construção do que o Brasil”, afirmou.

Além disso, ele ressalta que, com a morte de Paolinelli, fica agora uma responsabilidade para dar continuidade ao seu legado. "À medida que a luz dele se apaga, aumenta a responsabilidade de cada de nós em carregar essas ideias para frente. Me sinto incumbido de acrescentar às minhas atividades mais um pouco, para diminuir um pouco a ausência do Alyssons nos próximos tempos", finalizou Herrmann.

 

 

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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