As pessoas que formam o agronegócio brasileiro e a apreensão do produtor rural pós-eleições
O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.
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Dois temas principais compuseram o debate do Conexão Campo Cidade nesta semana: primeiro, com Carmen Perez, pecuarista que é liderança do movimento de bem-estar animal no Brasil, falou sobre a importância das pessoas que compõem o agronegócio, cujas histórias têm sido contadas pelo projeto “Quando Ouvi a Voz da Terra”; em segundo momento, os participantes dialogaram sobre a apreensão que existe hoje em meio aos produtores rurais após as eleições presidenciais.
“Quando Ouvi a Voz da Terra”
O documentário “Quando Ouvi a Voz da Terra” traz a história da produtora rural Carmen Perez, que percorre diversos lugares do Brasil, a fim de mostrar a vida de pessoas que produzem alimentos de forma sustentável, em harmonia com o meio ambiente.
A produtora vai a lugares afastados do Brasil, que até mesmo grande parte dos próprios brasileiros desconhecem, para mostrar diversos cenários de famílias brasileiras e comprovar que é possível produzir com respeito aos animais e à natureza.
"Você põe amor por pessoas que fazer o agro", foi como Roberto Rodrigues avaliou o trabalho desenvolvido por Carmen Perez no documentário. Além disso, como destacou Marcelo Prado, esse trabalho mostra para o Brasil e até mesmo para o mundo, uma realidade que poucos conhecem do agronegócio. Como ele ressaltou, a imagem conhecida é apenas a empresarial, porém, existem muitos agronegócios no Brasil.
Carmen reforçou que no documentário ela conversou com engenheiros, médicos, profissionais liberais, que foram entrevistados e ficaram surpresos pois não conheciam esse outro lado do agro negócio, da preservação, da sustentabilidade e do cuidado com os animais. O filme pode ser assistido no YouTube pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=dvbzQvISiTE.
Respeito com os animais e aumento produtivo
Carmen Perez é uma das lideranças do movimento que trabalha para que os animais do campo sejam bem tratados. Para que eles tenham a garantia do bem-estar, existem cinco pilares que precisam ser verificados, a nutrição, o ambiente, a saúde, o comportamento e os estados mentais, como ansiedade, depressão em angústia.
Ela explica que não é apenas ter uma interação com o animal, é preciso que tenha a garantia de uma sombra, por exemplo. E garantir esse bom cuidado resulta em uma melhor produtividade. Segundo ela, o boi estressado produz menos cortisol, o que faz com que ele coma menos e absorva menos nutrientes.
Portanto, o produtor que cuida bem do animal e garante a ele esse bem-estar, tem apenas a ganhar, pois reduz as doenças e aumenta a produtividade, além de trazer uma melhora na vida que o animal leva.
Temor dos produtores rurais após as eleições presidenciais
É evidente o apoio do agronegócio brasileiro ao atual presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas eleições do último domingo (31). Por isso, existe uma apreensão em relação a quais serão as medidas tomadas pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2023. Esse tema foi debatido durante o Conexão Campo Cidade.
Primeiro, a convidada do dia, Carmen Perez, afirmou que sente uma preocupação do setor em relação à segurança jurídica, sobretudo em relação à propriedade privada, à demarcação de terras indígenas, à regularização fundiária e à manutenção do Código Florestal brasileiro.
Para ela, é preciso que seja definido rapidamente o ministro da Agricultura, até mesmo para garantir uma maior segurança aos produtores rurais, que estão preocupados.
A oposição cresceu e hoje é mais mobilizada
Sobre o resultado das eleições, Antônio da Luz, por sua vez, lembrou dos movimentos iniciados em 2013 contra o aumento das passagens, que desencadeou em uma ascensão da direita no Brasil, a qual cada vez mais tomou um lugar de protestos e reivindicação dos seus interesses.
Foi com o crescimento desse movimento que cada vez mais se formou o espaço preenchido pelo atual presidente Jair Bolsonaro. E, mesmo com a derrota nas eleições, o número de apoiadores continua sendo muito grande e são pessoas que hoje são mobilizadas.
Dessa maneira, isso vai exigir uma postura diferente do presidente eleito da que foi no seu primeiro governo. Para Antônio da Luz, hoje existe uma oposição de pensamento. Se ele quiser ter um governo de união, como disse em seus discursos, ele vai precisar ouvir o interesse de todos os setores.
Agora, é hora de olhar para frente
O resultado das eleições está definido. Por isso, agora é momento de olhar para frete, como afirmou Marcelo Prado. Agora, para ele, é preciso que seja feitam boas escolhas nos ministérios do Governo. Se o presidente eleito escolher políticos para o Ministério da Agricultura e o da Economia, será um erro crasso, desencadeando em uma perda do controle da situação.
Outra preocupação de Marcelo Prado é o exagero em relação às questões ecológicas, o que vai precisar ser medido. Como ele ressaltou, o agro hoje tem consciência das questões ambientais, é preciso valorizar a sustentabilidade, mas dentro da razoabilidade.
Nesse sentido, Roberto Rodrigues espera que Luiz Inácio não irá desrespeitar o setor do agro, pelo tamanho que ele tem e a importância para a economia. Porém, será necessário estar atento ao comando de diversos ministérios.
Roberto Rodrigues, com a experiência de já ter sido ministro da Agricultura, afirmou que para desempenhar um bom comando nessa área, é preciso ter a contribuição de outros setores, caso contrário, as políticas agrícolas não serão bem implantadas.