Inseguranças do setor agropecuário; o crescimento do agronegócio frente aos gargalos no Brasil

Publicado em 22/08/2022 20:09 e atualizado em 30/08/2022 11:53
O time do Conexão Campo Cidade esteve reunido nesta semana e falou sobre algumas das dificuldades que o produtor rural precisa enfrentar e os recursos que ele tem acesso, ou pode ter, para seguir na atividade e crescer sua produção
Conexão Campo Cidade

O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.

Confira aqui todas as edições do Conexão Campo Cidade

No debate desta semana, estiveram alguns fatores que atrapalham o crescimento do agronegócio brasileiro. Por mais que a agropecuária represente uma parcela cada vez maior da economia nacional, ainda há detalhes alguns detalhes dentro do país que atrapalham a atividade do produtor rural.

Preços dos insumos agrícolas

A primeira questão levantada durante o programa foi um possível problema logístico na distribuição dos insumos. Isso porque, durante o primeiro semestre do ano, os preços estiveram altos e os produtores decidiram aguardar por uma redução, o que acabou realmente acontecendo, como vinha sendo esperado. Contudo, pode acontecer agora no segundo semestre, uma concentração muito grande de compras, o que desencadeia em problemas na entrega aos produtores.

Os preços dos insumos agrícolas também estiveram em pauta. Os custos de produção diminuíram a rentabilidade do produtor rural. Por isso, Roberto Rodrigues chamou a atenção para a possibilidade de um descasamento entre o preço pagos pelos fertilizantes e defensivos, e os valores recebidos pela produção. Entretanto, Antônio da Luz espera uma elevação dos preços das commodities durante o próximo ano.

 

Possibilidade de preços ascendentes

Antônio da Luz, economista-chefe do Sistema Farsul, destacou a seca que tem sido enfrentada pela China. A falta de chuvas no país, está provocando um desabastecimento hídrico, que deve afetar a irrigação das lavouras, diminuindo a produção de culturas como milho e arroz. Além disso, a Índia sofre também com uma queda na produtividade de cana-de-açúcar, outro produto que pode ficar escasso no próximo ano. Esses fatores dão sustentação para os preços no mercado internacional. Então, mesmo que os custos estejam altos, os preços vão garantir rentabilidade para os produtores rurais.

Situação semelhante tem ocorrido na Europa, onde a produção de trigo foi bastante afetada. Os Estados Unidos também sofrem com o tempo bastante seco. Na última semana, o USDA, departamento americano de agricultura, divulgou uma projeção de safra recorde de soja nos EUA, com uma produção de 123 milhões de toneladas. Contudo, o mesmo USDA, como citou Antônio da Luz, tem informado que as lavouras do país, em grande parte, não estão com condições dentro do ideal. Por isso é necessário uma atenção às essas projeções, que interferem nos preços das commodities no mercado de futuros.

 

Projeções de produção

O economista da Farsul afirmou não gostar das projeções de órgãos nacionais, como acontece no Brasil com IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para ele, essas instituições deveriam focar apenas na contabilização dos números reais daquilo que já foi produzido, em vez de fazer estimativas, que, segundo da Luz, deveria ficar restritas àqueles que participam do mercado financeiro.

Um dos motivos para isso, como o economista citou, é de que a Conab, por exemplo, recebe apenas 1 milhão de verba anual para fazer as projeções. Segundo ele, esses órgãos, por mais que constituídos de pessoas altamente capacitadas, não têm uma verba ideal para a realização de estimativas que envolvem um país tão grande como o Brasil.

 

Seguro para a produção rural

Outro assunto que envolve os interesses do produtor rutal em discussão no programa foi o seguro agrícola. Letícias Jacintho destacou que as companhias de seguro pagaram R$ 7,7 bilhões entre janeiro e junho deste ano. Esse valor, segundo ela, é 352% maior do que o pago durante o mesmo período de 2021. Ela afirmou que o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está em busca de mais recursos, mas a quantidade de hectares disponíveis para o seguro caiu de 14 milhões para 8 milhões.

Com isso, os produtores rurais estarão mais expostas à insegurança da produção, frente a um cenário de anos consecutivos com problemas climáticos, ao mesmo tempo que nações do hemisfério norte têm sofrido com uma seca gigantesca. A consolidação de um sistema de seguro que realmente funcione é essencial para o agronegócio brasileiro, como destacaram os participantes do Conexão Campo Cidade. Antônio da Luz ressaltou também o qual essencial foram as asseguradoras no estado do Rio Grande do Sul neste ano.

Além disso, os participantes afirmaram que uma o principal seguro que deve existir nas lavouras é a irrigação. Com sistemas estabelecidos nas propriedades, aí sim os produtores podem contar com uma maior segurança contra as incertezas climáticas.

 

Agroindústria brasileira, impostos e burocratização

José Luiz Tejon colocou em pauta o desenvolvimento da agroindústria brasileiro. Para ele, o Brasil pode ter um crescimento exponencial de seu PIB (Produto Interno Bruto), caso consiga desenvolver uma indústria agrícola bem estruturada e com grandes níveis de processamento. Dessa maneira, são necessários investimentos para que mais produtos agropecuárias passem pela industrialização em território nacional e somente depois disso sejam exportados.

Por outro lado, Antônio da Luz e Marcelo Prado argumentaram que existe uma burocratização e uma taxação de impostos muito grande no Brasil, o que dificulta a abertura de empresas para realizarem esse processamento. Da Luz citou exemplos de empresas que tentaram realizar esse tipo de atividade no país, mas não conseguiram dar andamento, devido às dificuldades que foram impostas pelo próprio Estado brasileiro.

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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