Interesses europeus e o que precisa ser feito no agronegócio brasileiro para regulamentar o mercado de carbono

Publicado em 11/07/2022 18:50 e atualizado em 19/07/2022 12:40
Conflitos entre preservação ambiental e aumento de produção agropecuária têm, muitas vezes, atrapalhado o agronegócio europeu e, também, causado efeito aos produtores rurais brasileiros, como foi discutido no Conexão Campo Cidade desta semana, com a presença de Daniel Vargas, coordenador do observatório de bioeconomia da FGV
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Interesses europeus e o que precisa ser feito no agronegócio brasileiro para regulamentar o mercado de carbono

O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.

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Uma das principais convergências entre os interesses do campo e da cidade acontece quando se fala em sustentabilidade ambiental. À medida que essa discussão ganha maiores dimensões no meio urbano, cresce também a relevância desse tema no âmbito rural, pois o agronegócio é colocado muitas vezes no centro dos debates sobre as emissões de gases atmosféricos poluentes.

Por esse motivo, o agronegócio, sobretudo no Brasil, tem buscado medidas para uma produção sustentável, com preservação do meio ambiente e redução da emissão de gases poluentes. Com essa combinação de maior produtividade e mais preservação, uma soma que beneficia duplamente tanto o campo quanto a cidade, os produtores rurais têm reivindicado os chamados créditos de carbono, que, basicamente, são pagamentos realizados por empresas e países, que emitem mais gás carbônico, aos agropecuaristas pela redução dessas emissões na atmosfera.

Entretanto, esse mercado bioeconômico, por mais que haja pressa, ainda não está em pleno funcionamento. Para muitos produtores, sequer existe. Por esse motivo, o Conexão Campo Cidade desta semana recebeu Daniel Vargas, coordenador do observatório de bioecnomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o qual esteve na Alemanha recentemente, justamente para debater sobre esse assunto. A íntegra do programa está disponível no vídeo acima e a seguir você confere um pouco das principais discussões desta edição.

Conflito europeu entre aumento da preservação ambiental e a produção agropecuária

Hoje na Alemanha existe uma enorme resistência com a produção rural. Seja com grande, média ou pequeno produtor. Lá, o ministério da Agricultura, liderado pelo Partido Verde, que tem como base o consumo da classe média nos grandes centros, e, portanto, tem como foco a qualidade do alimento e do consumidor, não do produtor. É a primeira diferença radical.

Os políticos não são ligados ao setor e a discussão de como vão limitar, regular o produtor. Além disso, na visão deles, o problema climático é uma questão de escolha entre preservar mais ou produzir mais. Para diminuir a poluição do o uso da terra, eles pensam apenas em reduzir o uso da terra, pagando o produtor para deixar a área sem plantar. Isso foi o que Vargas julgou ser o mais emblemático.

Quando se fala em aumentar a produção rural sustentável, eles ficam temorosos, porque para eles o campo é uma zona de problema, um local onde há uma emissão de carbono que precisa ser combatida.

Para Antônio da Luz, nada é mais elitista do que políticas que determinam uma produção sem tecnologia como a de defensivos agrícolas e posicionamentos para restrição dos produtores, como tem sido feito na Europa. Isso porque os países europeus possuem renda per capita elevada, onde diminuir a produção e, por consequência, aumentar os preços, representa uma redução pode poder de compra da população, porém não em fome. Diferentemente do que ocorre em países da África, Oriente Médio, sudeste asiático e América Latina, onde já se enfrenta problema com fome e aumentos de preços desencadearia em uma situação crítica.

 

Diferença da visão brasileira da europeia sobre o mercado de carbono

Como explicou Vargas, para os países europeus, a única maneira de reduzir a emissão de gases de efeito estufa no campo é diminuindo a área plantada. Por esse motivo, o crédito de carbono para essas nações é uma compensação para o produtor rural deixar de usar a terra, sem perder rendimento. Dessa forma, em tese, eles conseguiriam obter um equilíbrio.

Entretanto, essa é uma visão diferente do que acontece em outros locais, principalmente em relação à visão brasileira. O coordenador do observatório de bioeconomia destacou que o Brasil entende o mercado de carbono como uma oportunidade de financiar a transição verde, apostando em atividades produtivas que são mais sustentáveis ou podem ser mais sustentáveis. Dessa maneira, o país contribui com o planeta criando mais créditos e investimento em novas tecnologias, inovação e produção.

A grande questão, segundo ele, é que a Europa pensa apenas nas formas de resolver seus próprios problemas. Como eles têm dificuldade de reduzir a própria emissão de gases poluentes, o objetivo, de acordo com ele, é transferir créditos para outros países regenerar territórios e deixar de utilizar outros que podem estar disponíveis, sendo "lavanderias de árvores". Porém, ele destaca que isso não resolve o problema.

Conforme prosseguiu Vargas, o Brasil pretende usar o mercado de carbono para seu avanço e intensificação da produção. Por isso, é preciso atender esse ponto, para saber que, quando se fala em mercado de carbono, Brasil e Europa não falam o mesmo idioma.

 

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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