Os avanços e problemas da sustentabilidade ambiental no agronegócio brasileiro

Publicado em 10/05/2022 10:19 e atualizado em 11/05/2022 12:43
Debate com personalidades de referência do agro para apresentar suas perspectivas e entendimentos do cenário atual e futuro
Os avanços e problemas da sustentabilidade ambiental no agronegócio brasileiro

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Os avanços e problemas da sustentabilidade ambiental no agronegócio brasileiro

O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.

Confira aqui todas as edições do Conexão Campo Cidade

Na discussão desta semana, esteve em pauta a produção sustentável do agronegócio, as formas como os produtores podem ganhar dinheiro seguindo normas ambientais, as regulamentações que precisam seguir, os avanços que já foram realizados no Brasil e os pontos que ainda precisam de melhorias. Para falar sobre esse assunto, a convidada foi Samanta Pineda, advogada especializada na área de direito socioambiental.

Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G)

O chamado ESG, sigla do inglês para Environmental, social, and corporate governance, governança ambiental, social e corporativa, em português, é uma abordagem para avaliar até que ponto uma corporação trabalha em prol de objetivos sociais que vão além do papel de uma corporação para maximizar os lucros.

Contudo, como destacou Pineda, o ESG tem crescido entre as empresas, porém isso só começou a acontecer a partir do momento em que se tornou um diferencial econômico. Ou seja, a escolha das práticas sustentáveis só começou a ser feita, quando tais iniciativas passaram a ser mais lucrativas para as corporações.

 

Pagamentos por serviços ambientais

Dando sequência a esse assunto, Roberto Rodrigues questionou qual proporção tem atualmente o PSA (pagamento por serviços ambientais), que é um mecanismo financeiro usado para remunerar produtores rurais que prestem serviços ambientais em suas propriedades.

Samanta Pineda destacou que a ideia do PSA surgiu com o protocolo de Kyoto, assinado em 1997. A ideia era que os países desenvolvidos, que se desenvolverem de maneira poluente, pagassem para os países menos desenvolvidos, para que conseguissem se desenvolver de forma mais limpa.

O problema para o Brasil, nesse caso, era de que país já possuía leis rígidas para área de preservação, sobretudo relacionado à reserva legal, e não seria um dos que receberiam os pagamentos pela preservação, sendo que, como frisou a advogada, o Brasil tem potencial gigantesco para esse recebimento.

Agora, com avanços que foram feitos, ela revela que há muitas empresas neutralizando emissões e pagando produtores. No Brasil, os produtores já recebem por biodiversidade, carbono, água, paisagem e solo. Contudo, ela frisa que esses pagamentos são apenas um complemento de renda para aqueles que usam métodos diferenciados de produção.

 

Mercado de carbono

Entretanto, um dos problemas dos pagamentos pelos serviços ambientais é a dificuldade para mensurar valores. O maior exemplo disso acontece com o mercado de carbono. A advogada disse que é preciso pensar em China, Estados Unidos e União Europeia como os três maiores emissores de carbono do mundo.

Por esse motivo, eles tornam mais difícil para o Brasil a certificação da neutralização de carbono. Ela frisa que o Brasil tem mais de 80% de matéria energética limpa, enquanto que esses outros países têm 80% de matriz energética fóssil, e o que mais emite efeito estufa é a queima de combustível fóssil.

Segundo Pineda, falta criar uma metodologia brasileira para medir as emissões de carbono, porque até agora a "régua" é completamente europeia. A métrica da União Europeia não pode ser aplicada aqui, por isso é preciso ter as metodologias próprias do Brasil. Além disso, é necessário também uma registradora de crédito de carbono brasileira registrada no mundo todo, para o Brasil entrar efetivamente no mercado mundial de carbono.

Para Marcelo Prado, o mercado de carbono fará a diferença para as empresas quando, por exemplo, os consumidores escolherem comprar produtos de determinado supermercado, por ser atuante no mercado de carbono.

De acordo com ele, quando essa cultura estiver arreigada, haverá um ciclo virtuoso desse processo. Por outro lado, Samanta afirma que o consumidor brasileiro não tem poder aquisitivo suficiente para escolher comprar um produto mais caro.

Prosseguindo a discussão, Antônio da Luz declarou que PSA será algo muito grande no futuro. Contudo, agora, grande parte do discurso sobre sustentabilidade fica apenas no discurso e não gera resultados reais. Por enquanto, como ele afirmou, é apenas uma hipocrisia de países ricos.

Por: Igor Batista
Fonte: Notícias Agrícolas

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