Falta de fertilizantes passa por questão de estrutura mundial; safrinha é preocupação

Publicado em 01/11/2021 18:48 e atualizado em 15/12/2021 09:20
Christian Lohbauer, um dos fundadores do partido Novo, falou sobre as políticas que envolvem a comercialização de fertilizantes e José Vicente da Silva, outro convidado do dia, abordou algumas das atividades desenvolvidas pelo cooperativismo brasileiro
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Conexão Campo Cidade (01/11)

O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.

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Na última segunda-feira (03), Christian Lohbauer, executivo da CropLife, além de um dos fundadores do partido Novo e candidato a vice-presidente do Brasil as eleições de 2018, falou no programa sobre os problemas atuais para aquisição de fertilizantes para os produtores brasileiros. Para ele, os altos preços e falta de produtos são causados por mudanças da estrutura mundial de produção de energia, transporte, entre outros.

Além de Lohbauer, a edição do Conexão Campo Cidade recebeuJosé Vicente da Silva, vice-presidente da Coopercitrus, o qual abordou as principais atividades desenvolvidas pela cooperativa e os valores do cooperativismo brasileiro, que são fundamentais para a sustentação do agronegócio nacional.Confira a seguir os principais temas de destaque no programa.

Mudanças permanentes de estrutura por todo o mundo

Conforme explicou Christian Lohbauer, o qual é doutor em ciências políticas e relações internacionais, a falta de insumos agrícolas – vivenciada de maneira mais severa atualmente no caso dos fertilizantes como o potássio e a ureia – é causada por uma agenda de mudanças estruturais, que vão além simplesmente do fornecimento desses produtos. Com um olhar mais amplo, é possível perceber que isso começa com as mudanças na geração de energia elétrica, iniciadas por diversos países devido às políticas de sustentabilidade climática.

Quando a China, a principal exportadora de diversas substâncias fertilizantes, faz modificações em sua produção energética, impacta imediatamente o processo de fornecimento de insumos em todo o mundo, de acordo com Lohbauer. Além disso, a pandemia da Covid-19 desencadeou um efeito logístico, com a redução de fretes para a América do Sul, que culminou na elevação dos preços do transporte e alta nos valores dos contêineres. Algumas dessas mudanças são permanentes e vão continuar alterando os valores por tempo indeterminado.

 

Safrinha como a principal preocupação

Como grande parte dos fertilizantes já foram adquiridos de maneira antecipada pelos produtores, a atual safra de grãos não deve ter prejuízos causados por falta de produtos. O glifosato, por exemplo, que é atualmente a maior preocupação no Brasil, deve ter uma defasagem de apenas 10% em todo o país, segundo Lohbauer, o que não é um prejuízo relevante para a safra nacional. Porém, como ele afirmou que a maior preocupação é com a safrinha no início do próximo ano. “A incógnita fica para a safrinha, em março, se a gente não tiver um panorama de mudança na política energética chinesa, talvez a gente tenha algum tipo de problema mais grave”. Para Lohbauer, não é caso para se criar pânico, mas será necessário ficar atento.

José Vicente da Silva afirmou que a Coopercitrus está preparada com a questão dos defensivos, com um grande estoque, e não passa por preocupações, apesar de seguir atenta ao mercado. Contudo, em relação aos fertilizantes, ele estima que ainda serão necessários pelo menos 5 anos para que a situação de preços volte a ficar equilibrada.

 

Redução de custos e na burocracia como solução

Christian Lohbauer citou o pesquisador Joseph Nye Jr, que nos meados dos anos 90 já falava sobre a interdependência econômica que marca economia mundia atualmente. Contudo, isso não acontece de uma forma ordenada, harmônica. No caso do Brasil, por exemplo, a real solução que beneficiária os produtores seria a redução nos custos de produção, com melhor infraestrutura, mão de obra mais barata e redução nos valores pagos em tributos.

Marcelo Prado, focando na questão da mão de obra, afirmou que a China nunca voltará a ser a mesma que já foi e as questões globais são vistas de forma muito estática. O país asiático já tem uma mão de obra muito mais cara do que foi. Da mesma maneira, isso deve acontecer também em outros países asiáticos, como o caso do Vietnã, à medida que eles mantiverem o crescimento atual. Já Luiz Tejon, falando sobre as formas de reduzir custos, declarou que a dependência do Brasil em importações de alguns produtos não deveria ser tão grande como é.

 

Conflito entre o que é ciência e o que é questão ideológica

Para regulamentação de novos defensivos agrícolas produzidos pelo Brasil, Lohbauer chamou a atenção para um projeto de lei em tramitação no país, que vai facilitar o tempo para formação de novas moléculas. Assim, os produtores brasileiros ficariam menos dependentes de produtos internacionais. Contudo, a propositura segue 12 anos aguardando para ser votada. Porém, um dos problemas é que no país existe uma confusão muito grande entre ciência, pesquisa e ideais políticos.

Lohbauer declarou que no Brasil existe uma grande agenda muito grande contra a ciência e tecnologia. Segundo ele, são temas contaminados por interesses políticos, que estão deixando a ciência de lado. “É um negócio que tem incomodado muito, são desafios políticos e a ciência não está dando conta de ganhar o debate. A ciência está perdendo a credibilidade e no mundo a gente não sabe mais o que é ciência e o que não é”.

 

O cooperativismo e o olhar coletivo

Outro assunto em destaque foi a importância coletiva que possui o cooperativismo brasileiro. Vicente da Silva abordou dois projetos desenvolvidos pela Coopercitrus, que já cresceu neste ano 35% neste, o que deve resultar um aumento de mais de R$ 7 bilhões no faturamento anual. A cooperativa, que desde início tem o foco de ajudar o produtor a utilizar os produtos agrícolas, tem expandido as áreas de atuação social.

Hoje, são oferecidos para todo a comunidade cursos de capacitação para o trabalho no agronegócio, que supre uma grande necessidade. Outro projeto importante é o “Olhos d’água”, que já recuperou mais de 200 minas em um prazo de dois anos. Também na parte ambiental, o projeto “Semear” que tem recuperado APPs em propriedades rurais. Agora, o foco é verificar 40 mil propriedades e apresentar aos produtores o que precisa ajustar em suas lavouras, para diminuir a emissão de gases poluentes.

Por: Igor Batista

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