Disparada do preço da soja obriga Bolsonaro pedir para deixarem "um pouquinho aqui no Brasil"

Publicado em 27/10/2020 15:40 e atualizado em 28/10/2020 02:04
Veja abaixo: No encontro da soja com Bolsonaro, indústria garantiu oferta e ouviu que não haverá intervenção (acompanhe no video acima a íntegra do programa Tempo&Dinheiro desta terça-feira, dia 27 de outubro de 2020)
Tempo & Dinheiro - Com João Batista Olivi

No encontro da soja com Bolsonaro, indústria garantiu oferta e ouviu que não haverá intervenção

Produtores de óleo de soja garantiram, em reunião com o presidente Jair Bolsonaro, oferta de derivados no mercado interno, disse ao Broadcast Agro o diretor-presidente da Lar Cooperativa Agroindustrial, Irineo da Costa Rodrigues, que participou do encontro. Segundo o executivo, o governo deixou claro que não pretende fazer qualquer intervenção para controlar o volume exportado.

“A preocupação do presidente é o aumento do óleo de soja, e, claro, de outros alimentos também, mas o foco era o óleo de soja. Ele queria ouvir o setor”, disse Rodrigues. “Primeiro foi dito ao presidente que não vai faltar soja e derivados para o abastecimento e que a alta no preço se deve ao consumo muito grande. Além da exportação, com o auxílio emergencial que o governo deu e ainda está em vigor, o dinheiro foi todo para alimentos, e o consumo de todos os alimentos aumentou", contou ele sobre o encontro que reuniu representantes de tradings e cooperativas que abastecem o mercado brasileiro.

Segundo Rodrigues, o setor apontou ao presidente que a combinação de altas de futuros na Bolsa de Chicago (CBOT) e do dólar ante o real eleva os preços da soja e derivados, mas ponderou que os custos para plantar a próxima safra também aumentaram. “Foi uma conversa muito informativa, e o presidente queria (mostrar) a preocupação dele com o custo dos alimentos, com a inflação.” Segundo o representante, se o clima colaborar, a safra de soja 2020/21 deve ser “abundante”, o que ajudaria a aliviar a pressão sobre os preços.

Conforme o industrial, o setor reforçou que tem matéria-prima para garantir o abastecimento até a chegada da nova safra. “O setor tem soja para movimentar as indústrias até chegar a nova safra, portanto não vai faltar soja para atender ao mercado interno, seja de farelo ou de óleo”, disse. “O presidente pediu que, na medida do possível, que não se repasse preços. Só que a indústria está comprando essa soja a preço alto, o produtor que tem soja para vender está vendendo num preço alto. Nem tem como a indústria conseguir colocar margem em cima, não faz sentido.”

Rodrigues afirmou, ainda, que o setor saiu da reunião confiante de que o governo não busca intervir no câmbio e nem limitar exportação. “O que ficou muito claro é que um governo que não intervém, o que é bom para o setor produtivo”, disse. “Não havendo ameaças de intervenção, o setor produtivo vai produzir muito, porque está confiante naquilo que está acontecendo na economia. Não tem intervenção.”


 

Bolsonaro sobre exportação de soja: 'tem que ficar um pouquinho no Brasil'

O presidente Jair Bolsonaro, disse nesta terça-feira que, se o setor produtivo da soja exportar todo o produto para o mercado internacional, poderá desajustar o preço do óleo da commodity. De fato, o consumidor final tem se deparado com a alta dos preços do óleo no mercado interno, o que tem pesado inclusive nos índices de preços. No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de outubro, divulgado na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta do óleo de soja foi de 22,34%.

Segundo o presidente, que se encontrará nesta terça à tarde com o setor produtivo da soja, liderados pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a produção brasileira "tem de ficar um pouquinho (de soja) no Brasil". "Se não ficar, bagunça o preço do nosso óleo de soja aqui", disse ele, ao conversar com um trabalhador do setor de armazenagem de grãos e com um produtor rural, antes reunião do Conselho de Governo, no Palácio da Alvorada.

As cotações da soja têm subido no mercado internacional por causa de diversos fatores. Entre eles, está principalmente a forte demanda da China, que utiliza a oleaginosa na produção de ração animal para suínos. "O preço tá bom também né?", perguntou Bolsonaro ao grupo, para em seguida elogiar a ministra Tereza Cristina e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

O encontro do presidente com o setor produtivo da soja deve ocorrer às 15 horas.

Na pauta, está prevista a discussão sobre a perspectiva para a próxima safra, mas o encontro ocorre em um momento que o preço da soja tem batido recordes e já provoca impacto na inflação dos alimentos. Participam da conversa também o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, além de representantes da Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Cargill, Bunge, Amaggi Agro, entre outros.

Mailson comenta: "Intervenção à vista no mercado de soja?, nada disso, o mercado se ajusta"

Por Mailson da Nóbrega, economista

Ao falar hoje sobre o mercado de soja, o presidente Jair Bolsonaro disse que a produção brasileira “tem de ficar um pouquinho no Brasil. Se não ficar, bagunça o preço do nosso óleo de soja aqui ”. Com efeito, os preços atrativos da soja no mercado internacional têm acarretado expressiva elevação das vendas externas da soja e de seus derivados, em resposta à forte demanda oriunda da China. Como seria de esperar, já há pressões nos preços internos do produto.

Bolsonaro parece preocupado com o eventual impacto dos preços internos da soja em sua popularidade. Hoje à tarde ele se reúne com representantes do setor, ao lado da ministra da Agricultura, Teresa Cristina. O que esperar dessa reunião?

Só existe uma maneira de “ficar um pouquinho de soja no Brasil”, como quer o presidente: uma intervenção do governo no mercado do produto. Era assim que funcionava no governo militar, quando as exportações de mercadorias eram penalizadas mediante imposição de tributos sobre as vendas externas ou controle quantitativo. Em casos extremos, chegou-se a proibir tais exportações.

O que se vê hoje no Brasil ocorre também em outros países exportadores de soja, como Estados Unidos e Argentina. No caso brasileiro, existe um impulso adicional para as vendas externas de soja, qual seja uma depreciação cambial, que tem sido maior do que a observada nos demais países emergentes. A explicação está na percepção de risco decorrente da grave situação fiscal do país.

Os mercados se ajustarão naturalmente à situação momentânea do comércio mundial de commodities. É assim há séculos e já há algum tempo no Brasil. Surgirão os incentivos habituais de mercado, que direcionarão parte da produção de soja para o mercado interno, como aliás tem sido precisamente o caso neste momento. Além disso, é livre a importação de soja, o que poderá contribuir para esse ajuste do mercado.

Bem faria Bolsonaro se consultasse os ministérios de Economia e da Agricultura antes de expor suas visões defasadas do mundo sobre o funcionamento do mercado, principalmente nos casos que envolvem o comércio exterior.

Bolsonaro acusa Doria de aumentar impostos na pandemia; governador reage

Em nova crítica ao seu rival político, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Estado "mais importante da economia no Brasil" dá um "péssimo exemplo" com o aumento de impostos, enquanto o governo federal evitou o aumento de tributos. Doria rebateu em seguida e chamou o presidente de "desinformado". "São Paulo não fez e não fará nenhum aumento de imposto", disse o governador.

"São Paulo aumentou barbaramente (imposto sobre) produto da cesta básica, lamentavelmente. Uma barbaridade. Nós sim, fizemos o que tínhamos que fazer, não aumentamos impostos, muito pelo contrário. Agora, um Estado ou outro, que é o mais importante da economia no Brasil, dá esse péssimo exemplo aumentando impostos", disse Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, nesta terça-feira, 27, antes da cerimônia de hasteamento da Bandeira Nacional.

Doria reagiu e afirmou que Bolsonaro está mais preocupado em atacar do que governar. "Fizemos sim a reforma administrativa que ele, Bolsonaro, deixou de fazer no plano federal. Se ficasse mais preocupado em governar e menos em atacar adversários, poderia fazer algo de útil para o País. Governe para o Brasil, Bolsonaro, e não para seus interesses políticos e ideológicos!", afirmou o tucano.

O governo de São Paulo informou que o pacote de ajustes fiscais aprovado pela Assembleia Legislativa não causará impacto na cesta básica. Segundo o governo paulista, a lei sancionada "prevê ajustes fiscais e modernização e enxugamento da máquina pública" com a "redução linear de 20% dos benefícios fiscais relacionados ao ICMS" para cobrir rombo de R$ 10,4 bilhões.

Entretanto, afirma o governo estadual, por decisão de Doria, "não haverá alteração na alíquota do imposto para os produtos que fazem parte das cestas básicas de alimentos e de remédios". O pacote de medidas inclui a extinção de estatais e fundações com o objetivo de poupar despesas no Orçamento do próximo ano e compensar perdas causa pela pandemia da covid-19.

'Guerra' da vacina

Na semana passada, o motivo de atrito entre o presidente e Doria foi a vacina contra a covid-19. Na última quarta-feira, 21, um dia depois do anúncio de que o governo federal compraria a vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Sob pressão de seus seguidores nas redes sociais, o presidente disse que "a vacina chinesa do Doria" não seria comprada. "Deixe a eleição de 2022 para outro momento, presidente", provocou o governador. "Não vamos misturar ciência com política, saúde com ideologia".

Dino também é alvo

Na conversa com apoiadores nesta terça-feira, Bolsonaro também voltou a criticar outro governador, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão. Sem citar o nome de Dino, o presidente afirmou para apoiadores que é preciso "tirar o PCdoB" do Estado. "Tem que tirar o PCdoB de lá, cara, pelo amor de Deus. Só aqui no Brasil mesmo, comunista falando que é democrático", disse. Bolsonaro fez perguntas para as pessoas sobre o andamento das eleições municipais em cada Estado: "Eu tô fazendo pesquisa aqui".

Na semana passada, Bolsonaro anunciou ter cancelado uma viagem ao município de Balsas, no Maranhão, depois de Dino, segundo o mandatário, recusar o efetivo da Polícia Militar para reforçar a segurança presidencial. Pelo Twitter, o governador negou ter feito qualquer restrição sobre o uso da Polícia Militar. Dino anunciou ainda ter entrado com ação judicial no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente por "mentir" sobre o assunto.

Fonte: NotíciasAgrícolaEstadão Conteúdo

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