Soja: Cenário para os preços em reais segue firme, apesar dos impactos do petróleo e do coronavírus
Podcast
Petróleo + Coronavírus x agro - Entrevista com Eduardo Vanin - Analista de Mercado da Agrinvest
Os impactos dos menores preços da história para o petróleo são inevitáveis para o complexo soja e acontecem direta e indiretamente. E a tendência negativa - motivada por problemas de sobreoferta, demanda muito baixa e dificuldades de armazenagem - continua.
Todavia, para os preços do produto brasileiro, em reais, seguem as boas perspectivas, como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
Diretamente chegam os efeitos causados sobre o mercado de biocombustíveis, com o óleo de soja se destacando como uma de suas principais matérias-primas. O consumo está bastante comprometido neste momento, agravado pelos desdobramentos da pandemia do coronavírus, e acaba se tornando um fator bastante negativo para o grão e os derivados.
"A produção global de biodiesel gira em torno de 35 milhões de toneladas, sendo os óleos de soja e de palma as duas principais fontes de matéria-prima, e para Brasil, EUA e Argentina o óleo de soja é a principal", explica Vanin.
E como complementa o analista, com uma queda no consumo de óleo diesel, se torna inviável o biodiesel. "Se o biodiesel não cai tanto quanto o diesel está caindo sua mistura se torna inviável", diz.
Nos impactos indiretos, mas também agressivos, estão os reflexos na economia. O petróleo, que já vinha com preços pressionados desde meados de 2015 e teve esse movimento intensificado pelo não cumprimento de alguns acordos de corte de produção enre Rússia e OPEP e pelo COVID-19, é importante referência para a economia mundial e não traz sinais positivos.
E essa força da soja um pouco mais resistente em relação a outros ativos diante das turbulências causadas pelo petróleo e pelo cenário macroeconômico de uma forma geral porque, em dólares por tonelada, os preços da oleaginosa estão baixos e atrativos, girando entre US$ 350,00 e US$ 360,00 por tonelada.
MERCADO BRASILEIRO
Enquanto isso, a soja "muito barata" para os chineses neste momento, motivada principalmente pela relação cambial, fez com que o Brasil "abocanhasse" quase 100% da janela de exportação de um período de quase cinco meses, fevereiro a início de julho, "que é quando a China segue comprando aqui no Brasil", diz o analista.
A disponibilidade da soja brasileira, porém, é bastante limitada, com cerca mais de 80% da safra 2019/20 já comercializada e isso pode intensificar a migração da demanda do Brasil para os EUA, em um movimento que já era esperado.
E essa baixa disponibilidade pode fazer com que, no segundo semestre, os preços possam estar ainda mais firmes, com o dólar podendo testar níveis mais elevados frente ao real e com os prêmios no Brasil podendo se fortalecer diante da pouca oferta disponível.