Corteva firma convenio com a Embrapa para transferencia da nova tecnologia genética, a Crispr
Mudanças genéticas poderão aumentar a inteligência humana (por LUCIANO MELO, na FOLHA DE S. PAULO)
O cientista chinês He Jiankui anunciou em vídeo o sucesso de sua experiência, nasceram duas irmãs com gene editado. Se for verdade, estaremos frente à primeira publicação de que um humano nasceu com DNA alterado em laboratório.
Jiankui, considerado antiético por seus pares, ajudou a pavimentar um caminho que poderá trazer prevenção às terríveis doenças genéticas. Mas será que esta nova prática poderá transbordar outros limites e ser utilizada para produzir humanos mais inteligentes?
Para responder a esta questão vamos primeiro delimitar inteligência como a capacidade de aprender, raciocinar e resolver problemas. Feito isso, vamos buscar quais são as regiões cerebrais responsáveis em sedia-la.
O psicólogo Charles Spearman deu uma pista. Ele estudava formas de medir inteligência através de testes. Ao compilar seus dados, percebeu que deveria haver um fator geral de inteligência. Nomeou-o de fator G. Em termos práticos, o fator G faz com que alguém muito bom em cálculos, será também muito bom para compreender textos complexos, em mesma proporção. A matriz do fator G seria a matriz cerebral da inteligência.
Esquema representando o Crispr-Cas9, técnica de edição do DNA que pode mudar o mundo da biologia, medicina e agronomia - Reprodução
Mas, outro psicólogo, Leon Thurstone disse que o fator G seria um mero artefato estatístico. Sugeriu que sete habilidades prediriam a inteligência, sendo elas: fluência verbal, compreensão verbal, visualização espacial, facilidade com números, memória associativa, velocidade perceptual e de raciocínio. A inteligência estaria disseminada em regiões cerebrais responsáveis por essas habilidades, independentes, mas interligadas.
As ideias divergentes destes dois pesquisadores foram integradas com os conceitos de inteligência fluida e a inteligência cristalizada. O primeiro conceito remete a habilidade de resolver problemas, sem que haja necessidade de conhecimento prévio. O segundo conceito é dependente de conquistas educacionais e da cultura.
A inteligência fluida possivelmente está no conjunto córtex pré-frontal, lobo parietal e conexões entre essas duas áreas cerebrais. Este conjunto seria o fator G. O córtex pré-frontal produz o raciocínio tendo como base as informações sensoriais que surgem do meio ambiente e são processadas pelo lobo parietal.
A inteligência cristalizada também seria sustentada por este conjunto, mas abrangeria mais outras partes do cérebro. Envolve os lobos temporais, intimamente ligados a memória, e estruturas de nomes complicados, como giro do cíngulo, que seleciona ou inibe respostas automáticas.
Com custo, localizamos as principais áreas cerebrais envolvidas na inteligência. Mas a inteligência esta também nos nossos genes. Educação, alimentação e ambiente influenciam muito nosso desempenho intelectual. Mas 50% da inteligência de uma pessoa é transmitida por genes, milhares de genes.
Hoje é possível sequenciar todo o DNA de pessoas com altas habilidades intelectuais, e encontrar um padrão genético congruente com inteligência. Assim, descobriremos genes para o fator G ou encontraremos uma forma diferente de compreender a inteligência fluida ou cristalizada. Também temos recursos para medir espessura de áreas cerebrais e suas conexões. Portanto, é possível correlacionar genes e características do funcionamento cerebral intimamente. Esmiuçar estas relações poderá revelar quais os genes têm maior impacto neste ou naquele atributo para a inteligência cristalizada ou fluida.
Colunistas deste jornal opinaram a favor ou contra à edição genética da inteligência. Eu acredito que quando for possível, teremos uma corrida para produção de humanos mais inteligentes, com fervorosa disputa, neste mundo tão competitivo.
Mas outra possibilidade também paira. Será possível editar genes de maneira a criarmos sub-humanos, menos inteligentes, obedientes e que se satisfarão com mínimo. Seria a escravidão de alta tecnologia.
Luciano Melo (Médico neurologista).