O repórter pergunta sobre inovação; o cientista fala em honestidade!
A tecnologia está cada vez mais presente na vida das pessoas e essa é uma tendência que deve continuar em alta. Pelo menos essa é a análise de Gil Giardelli, palestrante e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que considera a tecnologia uma maneira de tornar o mundo um lugar melhor para todos.
“Estamos em uma mudança de era e as pessoas tem uma inercia de informação. São tantas mudanças que as pessoas acabam deixando para lá pensando que sempre foi assim, então assim sempre será. Porém, é hora de pensarmos que ou o país é de todos ou vamos ter problemas. Eu estive na China e perguntei para um pesquisador o que levou eles a tirarem 600 milhões de pessoas da linha da miséria para ser classe média. Ele me disse que entenderam que todos prosperarão e isso levou as pessoas para as bibliotecas estudar. Está na hora da gente resgatar os valores que mostram trabalho e estudo como os melhores caminhos para a prosperidade da nação. A tecnologia é só um palco para termos um mundo mais inclusivo, com alimentos para todos e mais tempo para as pessoas. A tecnologia não é ruim, ela nos faz voltar a ser seres humanos”, diz Giardelli.
Muito presente nas grandes lavouras, a tecnologia deve chegar com força também nas pequenas propriedades rurais e nas localidades mais afastadas dos grandes centros. “O Brasil é o celeiro do mundo. Essa agricultura é importante e precisamos colocar a tecnologia no campo para criar condição de que as pessoas, mesmo nos grotões, façam produção e sejam guardiãs do meio ambiente. Nós vivemos um momento em que o agronegócio e o meio ambiente se uniram, um tem uma simbiose com o outro, um tem que viver junto com o outro”.
O professor destaca ainda que é normal que nem todas as pessoas consigam acompanhar essas mudanças tecnológicas, mas que cabe a toda a sociedade criar condições de resgatar todos que por ventura ficarem para trás. “Uma era como essa de mudanças, infelizmente, deixa muitas pessoas perderem suas terras ou sua empregabilidade. O nosso desafio como humanidade vai ser como nós auxiliamos essas pessoas que ficaram na periferia do conhecimento. Elas devem ser resgatadas, o mundo só vai ser de todos quando os 7 bilhões estiverem incluídos, não dá mais para dividir o mundo por pessoas, países, por continentes ou por riquezas. O mundo é muito rico para ter pessoas ainda passando fome”.
Como exemplo dessa ajuda, Gil cita um fundo monetário existente no Brasil para levar internet para todos os cantos do país. “Existe um fundo para conectar todo o Brasil que é bilionário. Cada vez que nós pagamos uma conta de telefonia ou celular uma parte é destinada para isso. As perguntas que ficam são cadê esse dinheiro que vem dos impostos das empresas de telecomunicações e como podemos ter regiões no país que não tem nem televisão direito”, pontua Giardelli, que credita esses problemas a um colapso de ética vivido atualmente.
“Estamos vivendo um colapso da ética que é quando nós permitimos pequenas corrupções em nossa vida. Por exemplo, quando estamos nas classes mais baixas, olhamos para cima e vemos um político desviando dinheiro da saúde ou de educação. Colapso da ética também é ver que a maioria das carteirinhas de estudante no Brasil são falsificadas ou quando alguém estaciona em vagas para pessoas com deficiência sem ter deficiência. O Brasil precisa fazer um pacto do século 21 porque a inovação e a honestidade andam juntas, não para ter uma coisa dissociada de outra”.
E é justamente essa preocupação crescente com a honestidade que o palestrante aponta como tendência de futuro. “Grandes empresas pelo mundo hoje já tem um vice-presidente de honestidade. São empresas que cometeram erros lá atrás, mas querem melhorar, pedir desculpas e fazer consertos. A ideia é irmos além de apenas o que está previsto nos contratos para termos bom senso de colocar os seres humanos no centro de tudo e podemos usar a tecnologia para isso”.