Já estamos no Oeste da Bahia, onde se constroem solos de muita fertilidade

Publicado em 20/04/2018 18:35 e atualizado em 05/06/2023 14:34
Entrevista - Pedro Luiz de Freitas - Pesquisador Científico da Embrapa Solos

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Entrevista com Pedro Luiz de Freitas - Pesquisador Científico da Embrapa Solos

 

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A soja, o Cerrado e o tempo, por ANDRÉ NASSAR, em O ESTADO DE S. PAULO

O Cerrado é adorado mundo afora: entre os que buscam segurança alimentar, por seu enorme potencial produtivo, e entre os que buscam conservação, por sua grande biodiversidade e seus recursos hídricos. A soja é um importante motor econômico e social do Cerrado.

Por outro lado, ela não é o motor atual do desmatamento do Cerrado. O tempo comprova que sua expansão converte cada vez menos vegetação nativa. Os dados recentes mostram que 93% da área aberta de Cerrado entre 2014 e 2015 não foi ocupada por sojicultura. É uma prova contundente de que a soja não é mais indutora significativa do desmatamento.

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, ocupa uma área de 204 milhões de hectares (24% do território nacional), dos quais 103 milhões (50,5% da área original) estão cobertos por vegetação nativa. A área protegida abrange 12,7% do bioma, sendo 4,5% de terras indígenas, 2,8% de unidades de conservação de proteção integral e 5,4% de uso sustentável. Há, ainda, 28,7% do Cerrado com vegetação nativa em condições de relevo e clima não apropriadas para atividades produtivas, adicionais aos 12,7%. Os dois usos produtivos de maior relevância são as pastagens plantadas, com 30% (60 milhões de hectares), e a soja, com 7,8% (17 milhões).

Dividimos o Cerrado brasileiro em duas grandes regiões produtivas: o Cerrado consolidado, que está nos Estados do Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), de São Paulo e Minas Gerais; e o Cerrado da fronteira agrícola, batizado de Matopiba (áreas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Duas razões justificam essa divisão. Embora a base produtiva no Matopiba seja menor (4 milhões de hectares) que no Cerrado consolidado (13,1 milhões), a soja no Matopiba cresce mais rapidamente (14,3% ante 6,5% ao ano no período de 2007 a 2014, boom da soja). A segunda razão é que, com os crescentes investimentos nos corredores de exportação do norte, acreditava-se que ambas as regiões seriam capazes de manter essas elevadas taxas de expansão. Os dados das últimas três safras, no entanto, mostram que a expansão desacelerou para um terço do período do boom (5,9% e 2,5% ao ano).

De 2001 a 2007, no Matopiba, 61% da expansão da área de soja se deu com desmatamento. De 2007 a 2014, a participação continuou elevada: 52%. Mas de 2014 a 2017 essa participação caiu drasticamente, para 14%. Olhando a região do Cerrado consolidado, observamos que essa desconexão já ocorreu há tempos, pois entre 2007 e 2017 apenas 4% da expansão de área plantada foi realizada sobre Cerrado. Até mesmo no Matopiba, onde a expansão da soja se deu com conversão de Cerrado, a desconexão é evidente nos anos recentes.

Explicando de outra forma, no Matopiba cada hectare adicional de soja entre 2001 e 2007 levava ao desmatamento de 0,61 hectare de Cerrado, ao passo que hoje esse mesmo hectare adicional leva a uma abertura de 0,14 hectare. No Cerrado consolidado faz dez anos que um hectare de expansão de soja converte 0,04 hectare. No futuro, o Matopiba tende a ter um padrão de expansão semelhante ao do Cerrado consolidado: expansão da soja com abertura marginal de área.

A Moratória da Soja desmontou a narrativa de que a sojicultura é indutora do desmatamento na Amazônia. O argumento que se seguiu foi que a moratória provocou vazamento da expansão sobre o Cerrado. Tal vazamento nunca ocorreu no Cerrado consolidado. E se ocorreu no Matopiba, o ralo está se fechando rapidamente a cada ano que passa. Afinal, que indutora é essa cuja responsabilidade direta pelo desmatamento é de 7% da área desmatada?

O Cerrado tem mais de 20 milhões de hectares de pastagens com aptidão de clima e solo para lavouras anuais. A soja tem crescido 500 mil hectares por ano na região. São essas áreas de pastagens que têm dado lugar à expansão da soja. É preciso direcionar os esforços para os fatores que são, de fato, determinantes para redução do desmatamento do Cerrado, como o aumento da produtividade das áreas já abertas.

A indústria processadora de soja tem debatido com ONGs, governos, sojicultores, varejistas, Ministério Público e outros atores a criação de alternativas para o desenvolvimento de modelos de produção que não demandem abertura de novas áreas e o aprimoramento do monitoramento da cadeia de suprimento da soja adquirida no Cerrado. O debate tem sido muito positivo, com o objetivo de compartilhar responsabilidades e buscar soluções para conciliar a produção e a conservação.

Há um menu vasto de trabalho pela frente: ampliar a oferta de assistência técnica para desenvolver modelos mais sustentáveis de produção, aumentar a adoção de boas práticas, apoiar o produtor rural na regularização ambiental, prospectar mecanismos de pagamentos por serviços ambientais, aprimorar o monitoramento do uso do solo e promover o desenvolvimento socioeconômico no bioma Cerrado.

Mas esse menu tem um vício de origem: ele dá água na boca apenas dos comensais internos. Da mesma forma que colocamos soja, farelo e óleo em mais de uma centena de países, precisamos exportar mundo afora essa agenda de trabalho. E para que isso funcione é preciso que os consumidores, no Brasil e fora dele, enxerguem o que a evidência mostra: a soja não é um vetor determinante no desmatamento do Cerrado.

A crença de que a soja está dizimando o Cerrado brasileiro é simplista e está com o tempo de prateleira vencido. É hora de oferecermos ao consumidor uma gôndola com novos produtos, uma nova agenda de trabalho. E essa agenda passa por valorizar o Código Florestal e o Cadastro Ambiental Rural, mapear as áreas recomendadas para expansão e combater o desmatamento. É a transição de exportadores de produto para exportadores de sistemas mais sustentáveis de produção. O Brasil pode levar tal inovação para o mercado de produtos agropecuários. (* ANDRÉ NASSAR É PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS). 

Abapa e Embrapa promovem “Encontro de Construtores de Solos do Oeste da Bahia” na próxima quinta-feira (26), em Luís Eduardo Magalhães

A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e a Embrapa Solos vão promover na próxima quinta-feira (26), a partir das 8h30, o “Encontro de Construtores de Solos do Oeste da Bahia”, no auditório do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães (SPRLEM). O objetivo é apoiar os produtores rurais do oeste da Bahia a identificar e buscar estratégias para reduzir as perdas de material orgânico do solo. O evento, que terá transmissão ao vivo pelo site Notícias Agrícolas, trará em sua programação os pesquisadores Pedro Luiz de Freitas e Paulo Cézar Teixeira, da Embrapa Solos, que vão discorrer sobre os temas: “Manejo e conservação da água e do solo” e a “Construção da fertilidade do solo em grande culturas com ênfase na adubação potássica”.

Com uma produção de grãos em uma extensão de 2,2 milhões de hectares em todo o oeste da Bahia, o presidente da Abapa, Júlio Cézar Busato, considera que existe uma preocupação crescente dos agricultores da região com a perda dos nutrientes do solo que prejudicam o cultivo da produção agrícola. “No período das chuvas, ocorre muito carreamento de sedimentos sólidos principalmente no leito das estradas vicinais e solos cultivados, principalmente nas regiões que antecedem os vales por terem uma declividade elevada e um solo com baixa infiltração, causando o assoreamento do leito de nossos rios”, afirma.

“Com este encontro, queremos reunir todos os produtores, seja do cerrado ou do vale, para buscar soluções viáveis para diminuir este problema e permitir que cada vez mais possamos produzir com sustentabilidade, mas para isto a participação de todos os produtores é fundamental”, complementa. Os agricultores da região, por meio da Abapa, por exemplo, vem investindo R$ 30 milhões para a recuperação de estradas da região e protegendo os solos e os rios da erosão com a construção de mini-barragens para conter o carreamento do solo com as chuvas.

Para reforçar sobre a importância da proteção dos solos, o Encontro vai abordar, também, o tema “Erosão de solos em sub-bacias hidrográficas do Rio Grande”, que será ministrado pelo geógrafo e professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Dr. Ricardo Reis Alves. Já o agrônomo Dr. Júlio César Bogiani, da Embrapa Algodão, vai falar sobre “Construção da fertilidade de solo em algodão”, e o pesquisador Me. Afonso Peche Filho, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), sobre a Fragilização do solo pela mecanização em áreas agrícolas. “Esta é uma oportunidade para produtores rurais, pesquisadores e técnicos agrícolas da região debaterem com especialistas estratégias e técnicas para mitigar as perdas de solo e dos seus nutrientes no oeste da Bahia”, reforça.

Programação do Evento: 

Data: 26/04/2018 (Quinta-feira) – A partir das 8h30

Local: Auditório do Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães (SPRLem). Rua Sergipe, 985, Centro, Mimoso 1.

08:30 – Inscrições (Welcome Coffee)

09:00 – Abertura Abapa - Júlio César Busato 

09:10 – Apresentação do Projeto “Construtores de Solo” – João Batista Olivi (jornalista e diretor do site Notícias Agrícolas) e Pedro Luiz de Freitas (Pesquisador - Manejo e Conservação do Solo e da Água, Embrapa Solos) 

09:40 – Ricardo Reis Alves -  Professor da Univ. Fed. do Oeste da Bahia - Geógrafo, Doutor em Geografia
(Erosão de Solos em Sub-bacias Hidrográficas do Rio Grande: inventariação, impactos, determinação dos riscos e mitigação de processos)

10:00 – Paulo César Teixeira - Pesquisador em Fertilidade do Solo e Fertilizantes - Embrapa Solos; 
(Construção da fertilidade de solo em grandes culturas com ênfase na adubação potássica)

10:30 – Júlio César Bogiani - Engenheiro Agrônomo - D. Sc. - Pesquisador da Embrapa Algodão – Fitotecnia Núcleo do Cerrado (Construção da fertilidade de solo em algodão)

11:00 – Afonso Peche Filho - Professor Me., Pesquisador científico no Instituto Agronômico de Campinas - IAC
(Fragilização do solo pela mecanização em áreas tropicais)

11:45 – DEBATE

12:30 – ENCERRAMENTO

Atenciosamente,

Fonte: NA

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