Safra cheia e bolso vazio: 2016/17 registra rentabilidade até 50% menor em todas as atividades do agro brasileiro
Um estudo realizado pela Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) mostra que a safra de 2016/17 foi de baixa rentabilidade em todos os setores da agropecuária nacional.
O economista-chefe da federação, Antônio da Luz, destaca que, em algumas regiões, essa queda de rentabilidade supera 50%. Desde o ano passado, a Farsul vem realizando uma projeção na qual estes resultados, que já eram aguardados, se mostravam presentes.
A última safra foi plantada com custos e câmbio elevados, com preços internacionais muito baixos no momento da colheita. Depois da operação Carne Fraca e da delação da JBS, os preços do boi gordo também chegaram a menores níveis.
Assim, este pode ser considerado o ano "da safra cheia e do bolso vazio", como aponta Luz. Há uma safra recorde com altas produtividades para a soja, mas a rentabilidade do produtor não ocorre.
"Para a economia, a superssafra é excelente", avalia o economista. Entretanto, para o produtor, a rentabilidade não depende do tamanho da safra e, sim, da receita menos o custo. "O produtor rural brasileiro precisa ser um produtor de lucro. Temos que parar de bater as metas dos fornecedores e bater as metas do Governo", pondera.
Quando o problema é complexo, "raramente tem uma explicação só", lembra. Mas ele aponta fatores como o câmbio, a produção maior do que a demanda e as dificuldades de escoamento, com fretes caros, como alguns dos principais fatores que influenciam nesta queda. Para Luz, falar em expansão de produção não é uma visão correta enquanto o país não possuir uma infraestrutura que permita uma produção maior.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou hoje 107 milhões de toneladas de soja e 95 milhões de toneladas de milho para a próxima safra brasileira. Para Luz, com os preços caindo, é um bom dia para o produtor decidir quais são as metas que ele deseja bater.
Ele lembra que também não é possível "se iludir com questões conjunturais". Houve um alinhamento de fatores no mundo que fizeram com que o preço do milho alcançasse altos níveis em 2016. Para a soja, por sua vez, os preços estão em queda desde 2015, mas o câmbio em alta havia "criado um véu" sobre as vendas brasileiras, que eram rentáveis mesmo com Chicago em queda.
Luz salienta que, quando a economia brasileira voltar a crescer por volta dos 2% a 3%, o câmbio deve retornar a um patamar abaixo dos R$3,00, em um equilíbrio a longo prazo bem diferente do que é visto hoje.
O economista pede atenção aos produtores para o projeto de reforma tributária que vem sendo desenvolvido pelo deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). "Nós precisamos discutir tributação em cima de custo de produção", aponta.
Levantamento da Farsul aponta queda na rentabilidade no campo
Os expressivos resultados na produção rural nos últimos anos não se refletem no bolso do produtor. Se as boas safras foram apontadas como fundamentais para a manutenção da economia nacional, o lucro no campo vem caindo a cada ciclo de colheita. E o cenário da pecuária também não se apresenta diferente. Um levantamento realizado pela Assessoria Econômica do Sistema Farsul aponta que a queda na rentabilidade pode superar 50%, conforme a cultura e região.
O estudo mostra que as lavouras que apresentaram crescimento no lucro, na comparação entre 2016 e 2017, são aquelas que registraram perdas com as chuvas do ano passado, como arroz irrigado em Uruguaiana e trigo em Carazinho e Tupanciretã, as demais registraram perdas. Esses são os casos da soja em Carazinho (-23%) e Cruz Alta (-9%), milho em Carazinho (-39%) e arroz irrigado em Camaquã, que atingiu -55%. Este último município teve sua produção de soja dobrada em virtude da quebra do ano anterior, mas mesmo assim os produtores amargaram prejuízos.
No caso dos arrendamentos, o cenário fica ainda pior, como em Uruguaiana. Em 2016, as fortes chuvas fizeram com que o prejuízo fosse de R$ 181,09 por hectare. Este ano o resultado foi de R$ 631,68 na mesma área. Entretanto, o custo da terra é de, em média, R$ 591,75, não cobrindo o resultado negativo do ano passado.
Com a pecuária a situação é semelhante. Na comparação entre 2014 e 2017, em Bagé, o lucro por hectare, que era de R$ 11,87, caiu para R$ -151,76. O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, aponta as crises envolvendo a JBS e a operação Carne Fraca como grandes responsáveis pelo resultado. Ele destaca que o levantamento inédito feito pelo Sistema Farsul, em parceria com a CNA e a Esalq/Cepea, mostra que a integração Lavoura/Pecuária, realizado em Santo Ângelo, apontam um aumento da rentabilidade, num movimento contrário às demais formas de produção.
O economista destaca que cada vez mais alguns fatores se tornam cada vez mais necessários para o agronegócio como a gestão das propriedades, planejamento, inovação e empreendedorismo. Ele lembra que o cenário já vinha sendo apontado pelos indicadores desenvolvidos pela Farsul, o IIPR (Índices de Preços Recebidos pelo Produtor) e IICP (índices de Preços dos Custos de Produção), que indicavam a tendência a queda da rentabilidade.