Solos brasileiros estão doentes! Veja como curá-los
Os solos brasileiros estão doentes, entupidos, pré-enfartados. Como organismos vivos que são, os solos cultivados estão sendo manejados erroneamente. As consequências são visíveis, como degradação, compactação e erosão e afetam diretamente a rentabilidade das propriedades. Essa perda da produtividade se reflete na média brasileira que não consegue ultrapassar 55 sacas (no caso da soja) e atinge cruelmente o produtor, que acaba alijado da atividade. Podemos conseguir alcançar 100 sacas por hectare?
Essa pergunta levamos ao professor Afonso Peche, especialista em mecanização e gestão de solos do Centro de Engenharia e Automação do IAC (unidade de Jundiaí), que dá como resposta uma abordagem diferente a esta questão: "ao invés de cuidarmos das áreas ruins, vamos nos preocupar com as áreas excelentes da propriedade -- para que elas não acabem se transformando em áreas ruins", responde o professor Peche.
Por meio de avaliações de ambientes produtivos, temos de voltar a desenvolver a arte de agricultar, aconselha. Essa abordagem foi reconhecida como a mais inovadora durante o Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha, acontecido em Goiânia, na última semana. O objetivo é adoção de uma política agrícola nacional, para transformar os agricultores brasileiros, num futuro imediato, em "construtores de solos agrícolas".
Peche pede atenção para um fato: as paisagens naturais são substituídas por paisagens cultivadas, portanto, não se deve perder o equilíbrio ambiental do ecossistema. Por exemplo: se uma área de produção está localizada no Cerrado, as características específicas deste ambiente devem ser cultivadas de modo que haja uma harmonia entre a planta cultivada e a dinâmica do ecossistema.
O problema, portanto, é que a rentabilidade depende de um solo sadio, que necessita de um manejo especifico. “Antigamente, faltava tecnologia. Hoje, há um problema crônico de uso de tecnologia, que compromete a rentabilidade”, aponta. “Você acessa a tecnolgia e faz má gestão do ambiente. Não adianta ter o melhor fertilizante, a melhor semeadora e colocar em solos compactados”.
Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha
No último Encontro Nacional de Plantio Direto na Palha, realizado em Goiânia, o professor chamou atenção para o fato de que o produtor brasileiro não está manejando bem o solo e, portanto, há uma necessidade de entender como pegar a tecnologia e transformá-la em um agroecossistema. Cada propriedade agrícola pode ter até seis agroecossistemas, mas muitos produtores não sabem quantos ambientes possuem em suas propriedades.
Em seu trabalho “Avaliação de Ambientes Produtivos”, laureado no encontro, Peche destaca que é fundamental para que o produtor realize uma autocrítica em sua propriedade, identifique pontos de atenção e, assim, passe a ter melhor controle sobre a qualidade do seu solo.
Ele lembra que todas as propriedades agrícolas, de certa forma, causaram impacto de ocupação e uso. “Como não temos noção do impacto, temos que generalizar que temos muitos problemas relacionados com manejo de solo nas propriedades”, destaca.
A ideia básica destacada no trabalho é que o agricultor realize uma avaliação com base em técnicas simples de amostragem, parecidas com a do Manejo Integrado de Pragas, que os produtores já sabem fazer. Olhar solo e pegar a experiência de observar se há intempéries como cicatrizes, acúmulo de água ou até mesmo plantas doentes, com feridas, pode identificar os pontos problemáticos.
O plantio direto afeta o solo?
Para o professor, o plantio direto ainda é a melhor das técnicas para o solo tropical, que precisa ser protegido de forma permanente, sendo essa produção verde ou seca. O problema é que esse plantio direto não pode ser feito em solos prejudicados. “Muitos produtores entraram no plantio direto por técnicas econômicas. Avançaram muito em conhecimento, mas, em gestão, muitos ainda não levam a sério a necessidade de se criar ambientes produtivos. Precisamos melhorar, ajustar e sanar os erros”, aponta.
As culturas em faixa podem ser uma solução para transformar os metros quadrados da lavoura em metros quadrados rentáveis, dividindo cerca de 40% a 60% da área, fazendo a rotação efetiva. “O que manda, na agricultura moderna, são os metros quadrados rentáveis. Todas as vezes que a gente simplificar demais o meio, temos um desequilíbrio ambiental”, destaca.
Mecanização
A preocupação com a mecanização não deve estar apenas em máquinas boas, mas em operadores treinados e extremamente capacitados para operar essas máquinas. Dessa forma, aponta-se uma necessidade por parte do produtor para uma evolução nesta área, para que o manejo e o cultivo sejam feitos de forma correta e que o solo não seja prejudicado no processo.
“O agricultor tem o período seco, o úmido e o ótimo no meio. Não devemos plantar apenas no ótimo. Devemos aprender a ter uma estratégia para cada período e entender como a máquina pode agredir menos”, explica.