Atividade global em baixa gera aversão ao risco, estimula compra de ativos seguros, diminui circulação de dinheiro e reduz investimentos
As bolsas em todo o mundo vêm sofrendo quedas expressivas nos últimos dias devido a temores em relação ao setor financeiro e as dúvidas em relação ao crescimento da economia global. A baixa circulação global de dinheiro tem provado tensão nas principais economias do mundo nos últimos dias.
Os mercados foram afetados pela incerteza diante do crescente risco de recessão sobre a economia global e as dúvidas sobre a saúde dos bancos em vários países europeus, entre eles a Alemanha — com o gigante Deutsche Bank com problemas — e a Itália.
Assim, todos os mercados europeus acumularam enormes perdas na segunda-feira (08). Os mercados dos Estados Unidos também tiveram fortes quedas durante a maior parte de sua sessão, mas suavizaram o movimento ao final do dia com uma queda de 1,1%, após o Federal Reserve (FED) sinalizar que deve manter a decisão de não elevar os juros.
O economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, explica que esse cenário, significaria contudo, que a fraqueza do crescimento global e a baixa inflação podem forçar até mesmo o Federal Reserve e o Banco da Inglaterra a adotarem juros negativos.
"Com a política monetária bastante agressiva no Japão e na Europa, é muito provável que o FED não suba os juros. Isso também implica em dizer que talvez o dólar não fortaleça tanto, como vinha acontecendo", explica Perfeito.
Além disso, para o economista o horizonte empresarial está nebuloso, os administradores não possuem um setor seguro para investir, pois a atividade global está em baixa. Com isso, o capital é aplicado nos títulos públicos, trazendo um cenário frágil para a economia mundial que projeta níveis de crescimento abaixo da realidade atual.
"O ideal seria que os Bancos Centrais não continuassem a emitir dinheiro, mas que os governos passassem a investir em produtos que gerem renda. No entanto, querem fazer superávit fiscal, então esse dinheiro entra, mas sobe em falso", destaca o economista.
Todos esses fatores do mercado financeiro acabam influindo sobre os preços do petróleo que vêm em queda desde o inicio do ano - também por conta do excesso de oferta mundial. Assim, o petróleo também contamina as demais commodities nas bolsas internacionais.
Para Perfeito, esse cenário deflacionário, porém, não deve impactar com tanta força no setor agrícola. "O que o produtor deve ficar atento é com o dólar, levando em conta que o EUA não deve subir a taxa de juros, essa idéia de que o câmbio continuará subindo não é necessariamente verdade", alerta.
No entanto, a taxa de câmbio deve permanecer próximo aos R$ 4,00 no médio prazo, haja vista que o Banco Central não deve abrir mão da desvalorização do dólar neste momento. Contudo, a injeção de dinheiro dos Bancos Centrais dos três principais blocos econômicos do mundo pode trazer investimento ao Brasil, principalmente se continuarmos com a taxa de juros elevados e o FED prosseguir com o ciclo de aperto monetário.
Para depreciação do câmbio para o agronegócio, neste momento, seria um ponto extremamente negativo, considerando que os preços nas bolsas internacionais estão em níveis bastante baixos, e os produtores tem enfrentado consecutivos aumentos nos custos de produção, sendo amenizados apenas pela composição dos preços no mercado interno, com o dólar em alta.