Ucrânia acusa Rússia de ataque a navio graneleiro e trigo dispara nas bolsas internacionais nesta 6ª

Publicado em 13/09/2024 11:58 e atualizado em 13/09/2024 12:59

A escalada das tensões no conflito entre Rússia e Ucrânia voltaram a pauta e os futuros do trigo sobem forte nos mercado internacionais nesta sexta-feira (13). Na Bolsa de Chicago, perto de 11h35 (horário de Brasília), as cotações subiam mais de 13 pontos - ou mais de 2% - entre os contratos mais negociados, com o o dezembro valendo US$ 5,92, enquanto os mais alongados superavam os US$ 6,00, levando o março a US$ 6,11 e o maio a US$ 6,22 por bushel. 

Segundo autoridades ucranianas, a Rússia foi a responsável por um ataque a mísseis que atingiram um navio graneleiro da Ucrânia carregado com trigo a caminho do Egito. O ataque aconteceu perto da Romênia, país membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o que escala ainda mais as tensões entre as nações. 
 

Foto: Reuters

"O trigo e a segurança alimentar jamais deveriam ser alvo de mísseis. Estamos esperando a reação do mundo para isso", afirmou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, em um comunicado no Telegram. 

Desde que o conflito começou, a Rússia já fez outros ataques a estruturas ucranianas, incluindo terminais no porto de Odessa - o maior da Ucrânia - e em outras estruturas, como as de transporte de grãos no rio Danúbio. Há um mês, uma planta da Louis Dreyfus foi danificada também pelo ataque de mísseis e, há um ano, uma ferrovia próxima do porto de Chornomorsk também foi atingida.  

Como explica o analista de mercado Elcio Bento, da Safras & Mercado, este novo episódio envolendo os dois países em conflito, os quais se configuram como dois dos maiores exportadores globais do cereal, alimentam uma nova fase de especulações em torno deste mercado e de como o abastecimento poderia ficar prejudicado. 

"Isso faz os preços apresentarem um rally de alta e depois se acalamam. Em si, o fato não tem o poder de mudar os fundamentos do mercado. Porém, os fundamentos sim mostram uma menor oferta de trigo no Mar Negro e Europa que ao longo da temporada, o que pode fazer os preços subirem", afirma Bento. "A Rússia está exportando no ritmo do ano passado, mas tem 10 mil toneladas a menos. Se mantiver o ritmo, o cobertor pode ficar curto na entressafra". 

POTENCIAL EXPORTADOR RUSSO

Ainda como explica o analista, a Rússia mantém elevado o seu potencial exportador de trigo, estando bastante competitivo no mercado internacional, e isso mesmo diante de uma expressiva redução em seu volume produzido de trigo em relação à safra anterior. No início deste mês, o cereal russo registrou indicadores de US$ 201,75 por tonelada no FOB do Mar Negro, contra, por exemplo, US$ 210,00 da Ucrânia; US$ 228,00 dos EUA; US$ 234,00 da França, US$ 243,00 da Alemanha e US$ 260,00 da Argentina.

"A cotação atual também é a menor desde agosto de 2019, acumulando queda de 5,9% em relação ao mesmo período do mês passado e de 21% quando comparado ao mesmo momento do ano passado", afirma o analista. E estes preços se apresentam mesmo com a safra de trigo russa estimada em 83 milhões de toneladas pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) na temporada 2024/25, volume 8,5 milhões de toneladas menor do que a safra 2023/24 e 9 milhões se comparada à produção recorde de 92 milhões de 2022/23. 

No entanto, o consumo interno estimado para a atual temporada é de 38,75 milhões de toneladas, contra 40,500 milhões de toneladas do ciclo anterior. Assim, o saldo exportável recuaria de 51 milhões de toneladas para 44 milhões. 

"Com menos trigo, poderia se esperar que os preços não teriam espaço para um recuo tão expressivo. Porém, o que se percebe é que os russos seguem agressivos no mercado internacional. A estimativa é de que, no primeiro trimestre da atual temporada (julho a setembro), sejam embarcadas 15 milhões de toneladas, o que corresponde a uma queda de 1,2 milhão de toneladas em relação à temporada anterior. No entanto, em relação ao montante total estimado de exportação, o volume acumulado no ano comercial atual corresponde a 31% e do anterior a 28%", complementa Elcio Bento.

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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