Trigo tem dia de falta de direção, mas fecha com estabilidade em Chicago apesar da escalada da guerra
Depois de uma quinta-feira (20) de baixas e altas bastante agressivas, de momentos de calmaria e euforia, o dia foi difícil para o mercado do trigo na Bolsa de Chicago e os futuros do cereal finalizaram os negócios com ligeiras altas de 0,75 a 1,25 ponto entre os principais contratos, ou de 0,1% a 0,2%. Dessa forma, o contrato setembro fechou com US$ 7,27 e o março com US$ 7,64 por bushel.
Na Euronext, a bolsa europeia, o trigo também testou perdas tímidas, segundo informações da Agrinvest Commodities.
O dia foi de correções e realização de lucros para os mercado internacionais depois da disparada dos últimos dias, em especial do pregão anterior, quando foi alcançado o limite de alta na CBOT. Assim, os traders estão agora "avaliando de perto se a Ucrânia irá conseguir exportar seus grãos por rotas alternativas", ainda de acordo com o time da Agrinvest. Além disso, a consultoria informou que a "Rússia retirou as restrições de passagem do Estreito de Kerch para seus navios continuarem suas rotas de exportação. Este local estava fechado desde segunda-feira (17), depois que ataques próximos a ponte da Crimeia ocorreram".
A Ucrânia já registra três dias de ataques russos a seus portos. Os danos causados às infraestruturas são bastante severos e deverão levar de meses a anos para serem reparados e os terminais voltarem a armazenar e escoar produtos agrícolas.
Imagens mostram os danos causados às infraestruturas portuárias na Ucrânia - Fotos: Agências Internacionais
Além de trigo, o país é responsável ainda por uma importante oferta de outros grãos como milho, cevada, aveia, além de ser um dos maiores exportadores globais de óleos vegetais. E sua maior produtora de óleo de girassol, a Kernel Holding SA, afirmou em comunicado que serão necessários, pelo menos, 12 meses para recuperar a infraestrutura do porto de Chornomorsk, depois do ataque russo.
"O ataque de 19 de julho resultou em danos muito severos a armazéns e estruturas de grãos", disse a companhia em sua nota. A Kernel informou ainda que um incêndio ainda destruiu e danificou 60 mil toneladas de grãos que estavam preparadas para serem embarcadas em um navio com destino à China. A embarcação já havia aguardado por 60 dias na fila do corredor, mas não pôde finalizar o processo.
A processadora segue o comunicado estimando que o setor registre a suspensão de atividades em uma série de plantas processadoras e que o ritmo de esmagamento não só de girassol, mas de canola também sejam reduzidos em mais de 30%. Caso este quadro se confirme, as referências globais dos preços dos óleos vegetais podem sofrer um alta de 20% a 25%.
"Os ataques russos aos portos ucranianos aumentaram o risco dos complexos industriais e inviabilizaram as exportações de grãos por rotas marítimas importantes, que poderiam levar a uma alta de 30% a 40% nos preços do milho e do trigo no curto prazo", finaliza a Kernel Holding SA.
A situação fica ainda mais grave com a onda de calor que tem castigado a Europa nas últimas semanas, uma vez que o escoamento dos produtos agrícolas dependeria agora do rio Danúbio, que vem registrando níveis bastante baixos, limitando ainda mais a capacidade de exportação do país não só por este, como também por outros rios.
A imagem abaixo mostra que, no ano passado, mais da metade das exportações da Ucrânia aconteceram pelo corredor versus outras rotas e modais, como ferrovias e rodovias, além das hidrovias.
O volume em preto no gráfico representa o que foi escoado pelo corredor.
Em 2022, com os obstáculos impostos pela guerra, o voluem de grãos exportados pelo rio Danúbio saltou de 1,4 para 2 milhões de toneladas por mês. No entanto, "o problema é que o nível das águas do Danúbio está ficando cada vez mais baixo diariamente por conta da seca, o que faz com que as barcaças não possam ser embarcadas com sua capacidade total de trigo", explicou um corretor da Romênia, uma das rotas alternativas da Ucrânia.
MERCADO BRASILEIRO
Embora os ganhos sejam muito expressivos nas bolsas internacionais, os impactos para os preços do trigo brasileiro quase não se registram por enquanto. "O mercado aqui ainda não sentiu, mas acendeu uma luz de alerta", afirma o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento.
Nas praças pesquisadas pelo Notícias Agrícolas, no mercado físico os preços encerraram o dia com estabilidade. Em Não-Me-Toque/RS são R$ 66,00 por saca de referência; em Castro/PR R$ 68,00 e em Palma Sola/SC, R$ 66,00 por saca.