Resultados de pesquisa indicam que é possível produzir trigo de qualidade no cerrado de Roraima

Publicado em 09/06/2022 13:54

Em audiência pública realizada em 2 de junho, pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, pesquisadores e gestores da Embrapa apresentaram resultados de pesquisa que indicam que é possível produzir trigo de qualidade no cerrado de Roraima. “Os resultados preliminares obtidos na região foram muito promissores. Tivemos uma produtividade bastante boa, com uma qualidade dos grãos excelente, comparado aos melhores trigos do Brasil em termos de qualidade industrial para panificação”, afirmou o pesquisador Julio César Albrecht, da Embrapa Cerrados.

O requerimento para a realização da audiência pública que buscou debater a expansão da cultura do trigo no Brasil foi apresentado pelo senador Chico Rodrigues (UNIAO-RR). “O nosso objetivo é trazer ao debate nacional as pesquisas conduzidas pela Embrapa que poderão contribuir para que o Brasil se torne autossuficiente na produção de trigo. Acreditamos que Roraima ajudará nesse esforço nacional, com seu potencial fantástico”, afirmou o senador. Da Embrapa participaram Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, representando o presidente Celso Moretti, Julio César Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados, e Edvan Alves, chefe-geral da Embrapa Roraima.

Segundo Alves, na última semana os técnicos da unidade de pesquisa de Roraima finalizaram análises referentes à qualidade da farinha oriunda dos grãos colhidos na região e os dados obtidos foram bastante positivos. “São resultados inéditos e que mostraram que a farinha apresenta uma boa qualidade de panificação. A gente tem um material adequado para a produção de pães, com teores de proteínas elevados. Esses resultados indicam que estamos no caminho certo”, afirmou.

De acordo com Edvan Alves, os ensaios de trigo nas condições do cerrado de Roraima foram conduzidos em 2021/2022 com três cultivares: BRS 264, BRS 394 e BRS 404. “Esses materiais testados mostraram excelente desempenho agronômico com estimativa de produtividade de mais de três toneladas de grãos por hectare obtidos com apenas 66 dias do ciclo da emerência à maturação fisiológica. Imagine você produzir um trigo com produtividade acima de três toneladas de grãos num ciclo de 66 dias, isso é realmente fantástico e nos permite inclusive fazer duas safras com esse ciclo curto”, afirmou.

Para ele, a produção de trigo tropical no cerrado de Roraima trará benefícios para o estado e para o país, tanto relacionados à segurança alimentar, quanto à balança comercial. “O trigo será uma opção de cultivo após a safra de soja, visto que no estado já há a presença da ferrugem da soja dificultando a safra. Obrigatoriamente teremos um vazio sanitário para a cultura da soja e poderemos aproveitar o cultivo do trigo nesse período. Dessa forma, será possível atrair também empresas voltadas para a moagem e a industrialização da farinha de trigo. Além do mais, esse cultivo também pode melhorar o desempenho de outras lavouras quebrando o ciclo de doenças, reduzindo o aparecimentos de plantas daninhas, a infestão da nematoides e aumentando o teor de matéria orgânica no solo, o que é muito positivo”, destacou.

Autossuficiência em 10 anos

a demanda de consumo de trigo do Brasil é de 12,7 milhões de toneladas, mas o país produz apenas metade disso e importa o restante. Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, acredita que a autossuficiência desse cereal pelo Brasil deve ser alcançada nos próximos 10 anos. “O trigo deve percorrer o mesmo caminho que a soja fez do sul do Brasil até Roraima. Assim o país passará de importador para exportador, assim como ocorreu com o milho. Os nossos trabalhos e a organização das cadeiras produtivas indicam isso”, afirmou.

Para o pesquisador Julio Albrecht, essa autossuficiência do trigo passa pela região do Cerrado. Atualmente o cerrado do Brasil Central (Minas Gerais, Goiás, DF e oeste da Bahia) cultiva trigo em 200 mil hectares, com produção de cerca de 600 mil toneladas de grãos. “E temos áreas potenciais no cerrado para produzirmos trigo em quatro milhões de hectares sem precisar desmatar. Novas fronteiras para expansão da cultura no Maranhão, Piauí, Ceará e Roraima estão sendo pesquisadas. Mas, para que essa nova fronteira agrícola seja aberta, é necessário que se criem políticas de governo para incentivar o cultivo nessas regiões. “Condições climáticas, pesquisa, genética e produtores qualificados nós temos”, afirmou.

O senador Chico Rodrigues, autor do requerimento de realização da audiência pública, foi o responsável também por alocar 500 mil reais do orçamento de 2022 para viabilizar as pesquisas em Roraima sobre a produção de trigo na região. “Desde o início, a Embrapa sempre foi muito receptiva à essa nossa demanda e se debruçou sobre o cerrado de Roraima. Agora apresenta resultados alvissareiros. Temos dois milhões de hectares de cerrado no nosso estado, um potencial fantástico, localização geopolítica e geoestratégica excepcional. Temos certeza que o resultado será o esperado”, afirma.

O produtor rural Geraldo Falavinha, que também participou da audiência pública, será um dos primeiros a iniciar em escala econômica a cultura do trigo no cerrado de Roraima. Ele admitiu que o sucesso obtido com a soja o encorajou a experimentar o cultivo do trigo. Natural de Santa Catarina, há 35 anos Falavinha se mudou para o Mato Grosso onde produzia milho, soja e algodão. “Há 10 anos estou em Roraima ajudando a desenvolver esse estado que tem um potencial enorme para produzir alimentos”, afirmou.

Ele contou que quando tomou conhecimento dos experimentos da Embrapa na região ficou surpreendido com a possibilidade de produzir trigo em Roraima. “Acreditamos no potencial e estamos abertos para fazer os primeiros plantios em escala comercial assim que possível. Também vamos deixar a nossa fazenda à disposição dos técnicos para que possam fazer o seu trabalho e, assim, nos dê a possibilidade de produzir trigo aqui no 'lavrado'. Eu acredito que será viável, talvez com irrigação”, avalia. (Lavrado é o termo utilizado em Roraima para definir a região de vegetação aberta situada na porção Nordeste do estado).

Fonte: Embrapa

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