Trigo volta a subir forte nas bolsas internacionais e leva preços no Brasil a patamares historicamente altos
Depois de subir mais de 100 pontos e superar os US$ 11,00 no primeiro vencimentos, os futuros do trigo amenizaram os ganhos na Bolsa de Chicago e fecharam o dia subindo entre 7 e 75 pontos nas posições mais negociadas. O março fechou com US$ 10,58, o maio com US$ 10,59 e o julho com US$ 10,41 por bushel nesta quarta-feira (2).
A continuação do conflito Rússia e Ucrânia segue alimentando a volatilidade do mercado internacional de trigo e permanece como o principal fator de atenção dos traders neste momento. Embora se fale muito na possibilidade de um cessar fogo, um entendimento entre as duas nações ainda não se mostra claro no horizonte e segue mantendo as incertezas ainda muito vivas.
Este é o terceiro dia de altas fortes consecutivas, refletindo a preocupação dos traders com a interrupção do abastecimento em uma região que é uma das mais importantes na produção e exportação do cereal. Segundo analistas internacionais, os preços superaram os US$ 10,00 nesta semana pela primeira verz em mais de uma década.
Em Minneapolis, nos EUA, e na Euronext, em Paris, os preços também subiram de maneira bastante expressiva.
A Rússia é a maior exportadora mundial de trigo, bem como a Ucrânia ocupa o posto da quarta maior e junto as duas nações têm um peso enorme no mercado global do cereal. Todos os 18 portos ucranianos estão fechados, os da Rússia não operam normalmente por conta do conflito e ao menos cinco navios cargueiros já foram atingidos nos mares de Azov e Negro.
"O mercado está precificando uma perda de fluxo comercial vinda do Mar Negro. Porém, ainda não começou a precificar um ano-safra perdido de produção na Ucrânia", explicou Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da StoneX.
Além dos desdobramentos da guerra, o mercado mundial do trigo conta ainda com um cenário de fundamentos sólidos altistas, já que o mundo vinha de uma temporada de quebra de safra nos principais países produtores. Assim, os déficits de oferta deverão se estender, principalmente por conta da disrupção nas cadeias de abastecimento dos países em guerra, por mais tempo.
Em contrapartida, os contratos mais distantes, já referentes à safra 2023, apresentam ganhos bem mais tímidos ou até mesmo baixas com os traders apostando em uma solução do conflito, além de uma recomposição da oferta.
PREÇOS E NEGÓCIOS NO BRASIL
A disparada das cotações do trigo no mercado internacional somada à baixa disponibilidade de produto, agravada pelo conflito Rússia x Ucrânia, faz com que o reflexo sobre as cotações no mercado brasileiro também seja imediato.
"A moeda da vez é o trigo. Com a quebra da soja que tivemos no Rio Grande do Sul, o produtor está segurando o trigo", explica a diretora da De Baco Corretora, Rita De Baco, que relata que o volume de negócios já melhorou diante da elevação dos indicativos.
No mercado FOB, por exemplo, os indicativos saltaram de R$ 1600,00 por tonelada, na semana passada, a algo entre R$ 1700,00 a R$ 1730,00, enquanto o disponível - posto Rio Grande - testou algo entre R$ 1830,00 e R$ 1840,00. Para a safra nova, indicativos de R$ 1750,00, posto Rio Grande, pagamento novembro, entrega dezembro.
"Estes são preços nunca vistos antes, não sabemos onde vai parar este mercado, mas já imaginamos um mercado de até R$ 2000,00 por tonelada para frente, podendo ser alcançado rápido este patamar, e agora é a hora do produtor se rentabilizar de novo e valorizar o trigo, que é a moeda de ouro agora, principalmente depois dos problemas enfrentados nas safras de soja e milho. E isso tudo ainda poderia resultar em uma área maior plantada de trigo no Rio Grande do Sul", complementa a executiva.