Alta de preços do trigo supera avanço dos custos e favorece plantio no PR e RS
Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - O avanço nos preços do trigo nos principais Estados produtores do país superou a elevação nos custos para a safra 2019/20 e deve favorecer o plantio do cereal neste ano, indicaram nesta quarta-feira representantes de órgãos do Paraná e Rio Grande do Sul.
No Paraná, maior produtor de trigo no Brasil, o custo de produção subiu cerca de 11% nesta temporada em relação à safra passada, mas o preço do cereal está 23% maior, disse à Reuters o coordenador da divisão de Estatística do Departamento de Economia Rural (Deral) do Estado, Carlos Hugo Godinho.
Ele calcula que a despesa média variável para esta safra, utilizada como base para análises do Deral, está estimada em torno de 2.190 reais por hectare e são necessárias 38 sacas por hectare para cobrir o custo.
A produtividade média do Paraná está estimada pelo Deral para esta safra em 54 sacas por hectare, o que indica a boa rentabilidade esperada. O plantio no Estado atingiu 17% da área projetada até o início da semana.
"Com os preços de hoje, está sendo bastante rentável plantar trigo... nossa estimativa de aumento de 5% em área está baseada nesta rentabilidade e na migração para o trigo de alguns produtores que não conseguiram fazer o milho safrinha", afirmou.
Godinho afirmou que o cereal está cotado em torno de 60 reais por saca na média das praças paranaenses, um patamar recorde, com o apoio do câmbio, uma vez que o Brasil é um importador líquido do cereal.
TRIGO GAÚCHO
No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor de trigo no Brasil, o volume de produção necessário para cobrir o custo será 14,4% menor em relação ao período anterior, informou a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (FecoAgro/RS), em seu primeiro levantanto de despesas para o período.
De acordo com a análise, o desembolso do custo variável ficou em 2.408,64 reais, com projeção de 48,17 sacas para cobrir os custos.
"Isto significa um leve aumento no custo total do trigo de 4,19% e de 3,71% no desembolso variável, em relação ao último estudo da safra de 2019". Segundo a federação, o preço do cereal subiu cerca de 21,7% no Estado.
"Os dados mostram que claramente temos um momento propício e favorável para o plantio do trigo. Se pegarmos o histórico dos últimos 20 anos temos um dos melhores momentos para o plantio, baseado principalmente na alta do dólar, o que influenciou no preço e os insumos, mesmo com elevação, não subiram todos na mesma proporção", disse o presidente da FecoAgro/RS, Paulo Pires, em nota.
Ainda de acordo com o dirigente, o cenário remete a um aumento significativo na área de trigo, que pode chegar a mais de 20%.
"Teremos a possibilidade de uma rentabilidade, além do que o produtor tem consciência de que precisa de uma cultura de inverno para a proteção do solo e também ter uma possibilidade de renda já que não houve esta renda na soja", acrescentou.