Paraná tem mudanças no zoneamento do trigo
O Paraná passou a ter um novo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) da cultura do trigo para a safra 2019/20. As mudanças foram definidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em dezembro do ano passado, a partir de uma reavaliação dos riscos de perda de produção. O trabalho levou em conta as temperaturas, o balanço hídrico e as possibilidades de geada em cada município do Estado. Além de minimizar as perdas na lavoura causadas por eventos climáticos, o cumprimento dos pontos estabelecidos pelo Zarc é obrigatório para que agricultores possam ter acesso a crédito rural, Proagro e do Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR).
As novas definições constam da Portaria 372/19, da Secretaria de Política Agrícola do Mapa. Basicamente, a partir da análise de índices climáticos, o zoneamento define os municípios que estão aptos a cultivar o trigo e estabelece um calendário com níveis estimados de risco (20%, 30% e 40%), que variam de acordo com a data de semeadura. Conforme a portaria do Mapa, no Paraná, os maiores riscos de perda de produção estão relacionados com o excesso de chuva e umidade elevada, que podem provocar doenças de difícil controle, geadas no período de espigamento ou deficiência hídrica.
“O Zarc é uma ferramenta que aponta ao produtor qual é o período ideal para a semeadura, em que ele vai ter menos riscos de perda de produção. Todo esse zoneamento foi calculado a partir de levantamentos de índices climáticos de cada município. Se o produtor adota as boas práticas e segue o zoneamento, é maior a chance de ter sucesso lá na frente”, aponta Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP.
As mudanças definidas pelo novo zoneamento foram detalhadas por uma Nota Técnica publicada pela FAEP, em janeiro, e disponível na seção Serviços, no site (www.sistemafaep.com.br). O documento traz um breve histórico de como foi estabelecido o novo Zarc e esmiúça as novidades, ponto a ponto. Veja a seguir:
Início do plantio
Uma das atualizações foi a redefinição do limite para o início do plantio. Anteriormente, em municípios de toda a faixa Norte do Paraná, incluindo as regiões Sudoeste, Noroeste e Norte, os agricultores podiam começar a semeadura a partir de 21 de março. Nessas áreas, o zoneamento passa a permitir o plantio a partir de 1º de abril. Em alguns municípios de outras regiões também houve mudanças (veja o mapa na página 21).
“Na prática, ninguém plantava no decêndio [período de dez dias] de 21 de março. Ou seja, é uma medida que veio adequar o calendário ao que já vinha ocorrendo na prática, conforme ouvimos dos próprios produtores”, disse Ana Paula.
Solos arenosos
Em outro ponto, o Zarc excluiu o plantio do trigo em solos de textura arenosa.
“O segundo maior fator que ocasiona perda nas lavouras de trigo é a seca. A estiagem em solo arenoso intensifica esse risco, de forma que a perda pode ocorrer mais facilmente e ser ainda maior”, explica Ana Paula.
Risco por município
O zoneamento também revisou os níveis de risco para a cultura, associados à data em que o produtor fizer o plantio do trigo. Conforme destaca a Nota Técnica da FAEP, o risco mínimo de perdas (de 20%) ficou mais restrito a algumas áreas, em comparação com o antigo Zarc, que previa mais decêndios com o menor nível de risco.
Como exemplo, a análise da FAEP menciona Cascavel, no Oeste do Paraná, maior produtor de trigo em 2018, batendo a marca de 96,1 mil toneladas. Na comparação entre o novo zoneamento e o antigo é possível ver as diferenças dos níveis de risco.
A reavaliação também excluiu Adrianópolis e Cerro Azul, ambos na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), do zoneamento. Segundo Ana Paula, a medida não trouxe nenhum impacto prático, porque esses municípios tradicionalmente não produzem trigo.
Recomendações
Além destas mudanças, o novo Zarc também trouxe um anexo complementar, em que apresenta a referência de tecnologia mínima que deve ser utilizada pelo produtor para a obtenção de melhores resultados na lavoura. Essas recomendações foram formuladas pela Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale (CBPTT), que são atualizadas anualmente.
Entre as ferramentas apontadas, estão recomendações para que o produtor faça rotação de cultura para manejo de doenças, associada ao controle químico. “Por enquanto, são apenas recomendações, mas é provável que essas práticas se tornem obrigatórias nas próximas safras. São medidas complementares ao zoneamento, que podem garantir resultados melhores ao produtor”, diz Ana Paula.